No período entre os dias 4 e 6 de
maio, em Fortaleza, aconteceu uma reunião ampliada do Movimento Nacional de Fé
e Política. Representantes de 14 estados, totalizando cerca de 85 participantes,
se dedicaram à análise de conjuntura sociopolítica, atividades de formação e a
preparação do 11º Encontro Nacional, que se realizará em julho de 2019, em
Natal (RN) comemorando os 30 anos do movimento.
O Movimento Nacional Fé e
Política foi criado em junho de 1989, durante um encontro de pessoas unidas
pela fé cristã engajada nas lutas populares, com o objetivo de alimentar a
dimensão ética e espiritual que deve animar a atividade política. Ao
longo de sua existência o Movimento promoveu encontros de estudo, dias de
espiritualidade e publicou quinze cadernos sobre a relação entre Fé e Política. Por
definir-se como um serviço de formação e estímulo a grupos de reflexão, o
Movimento não é mais do que um grupo informal de serviço aos grupos de base.
Sua organização é muito simples: todos os seus membros são voluntários, sua
coordenação geral é formada por seis membros escolhidos entre os antigos
militantes mais dois representantes de cada estado dos locais onde foram
realizados encontros nacionais. A secretaria-executiva é encarregada de ajudar
a equipe do local onde será realizado o Encontro, produzir e publicar textos
que ajudem a reflexão dos grupos, alimentar a página do Movimento na internet e
fazer a articulação geral entre os grupos interessados. O espaço onde tudo
acontece de fato é nos grupos de base. O Movimento apenas lhes proporciona
incentivos e ideias. Mais informações em (www.fepolitica.org.br).
Segundo Leonardo Boff, um dos
fundadores do Movimento, “A fé tem a ver diretamente com Deus e seu desígnio
sobre a humanidade. Mas ela está dentro da sociedade e é uma das criadoras de
opinião e de decisão. Ela funciona como uma bicicleta. Possui duas rodas,
mediante as quais se torna efetiva na sociedade: a roda da religião e a roda da
política. A roda da religião se concretiza pela oração, pelas celebrações,
pelas pregações e pela leitura das Escrituras. Pela roda da política, a fé se
expressa pela prática da justiça e da solidariedade. Como se vê, política é
sinônimo de ética. Temos que aprender a nos equilibrar em duas rodas para andar
corretamente. A Bíblia considera a roda da política como ética mais importante
que a roda da religião como culto. Sem a ética, a fé fica inoperante. São as
práticas que contam para Deus. Melhor que proclamar “Senhor, Senhor” é fazer a
vontade do Pai. Concretamente, fé e política se
encontram juntas na vida das pessoas. A fé inclui a política, quer dizer, um
cristão deve se empenhar pela justiça e pelo bem-estar social; deve optar por
programas que se aproximem daquilo que entendeu ser o projeto de Jesus e de
Deus.”
A reunião em Fortaleza do Movimento contou com
a análise se conjuntura conduzida pelo professor Juarez Guimarães (cientista
político da UFMG) e pela Pastora Romi Bencke (secretária do Conselho Nacional das
Igrejas Cristãs - CONIC). Na ocasião, foi feito amplo debate sobre os desafios
que a realidade política brasileira impõe aos cristãos comprometidos com uma
sociedade mais justa, fraterna e solidária.
No sábado, dia 05, uma primeira
mesa de debates intitulada “Políticas Públicas na perspectiva do Bem Viver”,
com a participação da professora Tânia Bacelar (UFPE) e de Ivo Lesbaupin (Iser
– Assessoria) analisou os desafios para a construção da sociedade do bem viver
(um conceito que propõe a construção de novas realidades políticas, econômicas
e sociais a partir de uma ruptura radical com as noções de “progresso” e
“desenvolvimento”, pautadas pela acumulação de bens e capital, pelo crescimento
infinito e pela exploração inclemente dos recursos naturais e que está
colocando em risco a sobrevivência dos próprios seres humanos sobre a Terra).
Ainda no sábado, com a
participação de Frei Betto e do Padre Manfredo Oliveira (UFC) discutiu-se o
tema ética e sua relação com as práticas sociais. As abordagens trataram dos desafios
sociais e ecológicos da crise de época, que também é uma crise de paradigmas,
que se impõe sobre a sociedade capitalista, atualmente. É urgente o cuidado com as pessoas,
principalmente “nas periferias existenciais e sociais”, conforme o Papa Francisco
que também alerta toda a humanidade para o cuidado com a Casa Comum (a
natureza).
O domingo foi dedicado a
encaminhamentos com vistas à mobilização da grande rede de agentes sociais e
políticos que formam o Movimento. Também foram acertadas as principais ações
para o próximo encontro nacional, em Natal.
Segue, abaixo, a carta divulgada
pelo Movimento no final do encontro:
"O Movimento Nacional Fé e
Política reunido em Seminário nos dias 04, 05 e 06 de maio em Fortaleza-CE, com
o Tema POLÍTICAS PÚBLICAS, ÉTICA E PRÁTICAS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO BEM
VIVER, com 80 (oitenta) participantes representando 13 (treze) Estados e o
Distrito Federal, manifesta sua indignação diante dos últimos acontecimentos
que ameaçam a democracia e o Estado de Direito. Tudo isso tem acarretado a
perda da soberania dos direitos do povo brasileiro, em especial dos pobres e
trabalhadores(as).
Temos constatado que o golpe
jurídico-parlamentar ocorrido em 2016, com o impeachment da Presidente Dilma,
demonstra parcialidade de parte da justiça brasileira com a participação da
grande mídia e do capital nacional e internacional, e consolidam-se
comportamentos nefastos à democracia como: o ódio, a intolerância e a
violência. Esta última, expressa em diversos assassinatos de lideranças que se
colocam em apoio aos direitos humanos dos pobres e excluídos, como aconteceu
com a Vereadora Marielle Franco e seu motorista Ânderson.
Frente a tudo isso, os
participantes do Seminário Nacional de Fé e Política vêm manifestar seu apoio e
solidariedade ao Presidente Lula, companheiro de caminhada deste Movimento,
depois de sua injusta condenação, sem provas e a sua prisão arbitrária.
Da mesma forma, em face da luta
em defesa da reforma agrária e direitos dos trabalhadores/as do campo,
repudiamos os diversos assassinatos, cerca de 70 (setenta), que ocorreram no
campo, bem como, repudiamos a prisão do Padre Amaro. Tais violências têm como
principal objetivo intimidar os(as) lutadores(as) sociais e criminalizar os
movimentos sociais e populares.
À luz do Evangelho e do
compromisso do Movimento Nacional Fé e Política com a construção da sociedade
do Bem-Viver, reafirmamos nossa luta pela Vida, bem como direito a justiça
de todos os pobres e excluídos da sociedade brasileira.
MARIELLE VIVE!
PADRE AMARO LIVRE!
LULA LIVRE!
Fortaleza, 6 de maio de
2018."
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