segunda-feira, 8 de agosto de 2016

No concerto das nações, o golpe foi explicitado


Foto: Mark Humphrey/ AP

O fato político mais relevante desses últimos dias não foi a revelação das propinas recebidas pelo interino e seu ministro das relações exteriores. Apesar do desdém da mídia nativa - manipuladora e venal -, o acontecimento mais importante, repleto de sentidos e significados, ocorreu na abertura dos jogos olímpicos, na última sexta-feira (05/08). Aos olhos do mundo, o golpe apareceu retumbante não nas vaias ao interino, mas na absoluta ausência de chefes de estado e de governo na cerimônia, no Maracanã (veja  também, aqui).

A disputa pela narrativa do golpe foi abafada violentamente no país. A coalização golpista - envolvendo líderes políticos, o Parlamento, a mídia, parte do empresariado, do judiciário e dos setores retrógrados da classe média - tentou a todo o custo impedir que os brasileiros percebessem o golpe à democracia, travestido no processo de impedimento de Dilma Rousseff. Pesquisas de opinião já comprovavam, na semana anterior, que o povo não engoliu o engodo. A rejeição ao governo de plantão é colossal.

Mas, a prova dos nove seria a recepção da comunidade internacional ao governo interino. Apesar dos esforços do Itamaraty em relativizar a possível ausência de líderes, muitos sinais externos já evidenciavam a rejeição dos democratas de todos os países a Temer e seu gabinete.

Mas, a reportagem do jornalista Jamil Chade do Estadão (aqui caiu como um torpedo na cabeça dos golpistas. O repórter, único a adentrar na área reservada às autoridades internacionais, constatou a derrota colossal, vergonhosa, estupenda do interino, seu chanceler e seu governo. Somente 18 chefes de estado presentes. Alguns, como Hollande, vieram para cumprir protocolo, porque a França tem interesse em sediar os jogos olímpicos no futuro. Outros, porque são membros do Comitê Olímpico Internacional. Os poucos presentes eram de países sem relevância no concerto das Nações. A ausência dos líderes dos BRICS, por exemplo, deixa claro o estrago que um golpe provoca nas relações internacionais. Da América Latina, nossos vizinhos, somente o argentino Macri, cujo governo retrógrado, conservador, autoritário e entreguista comunga com a turma do governo de plantão no país.

E como se não bastasse tamanho desdém da comunidade internacional, os poucos líderes presentes evitaram se encontrar com Temer. E mais: para a humilhação final e apoteótica, como um tiro de misericórdia, autoridades convidadas a ocuparem a área reservada ao presidente interino recusaram a “honraria”. Segundo o jornalista que descreveu a constrangedora cena, “o governo brasileiro tentou convidar os poucos líderes a ficar no principal camarote, ao lado de Michel Temer, presidente interino. Sem sucesso, o local foi preenchido por diversos ministros do governo e autoridades municipais e do governo do estado. Antes mesmo de terminar o evento e logo depois do desfile da delegação da França, o presidente François Hollande deixou o Maracanã, à francesa”. 

Hollande saindo à francesa. Um tapa na cara seria menos dolorido...

A foto do interino na abertura, solitário e desconcertado, sendo ladeado pelos amigos da empreitada golpista, mostrava o isolamento do governante de plantão...

Esse acontecimento, ignorado pela emissora oficial do golpe e pela mídia nativa e que só foi revelado pela reportagem do Estadão, por incrível que pareça, não deixa nenhuma dúvida. Os democratas que estão lutando em prol da democracia no país ganharam a narrativa acerca do golpe. Independentemente do resultado da votação do impeachment pelo Senado - o jogo jogado de políticos interesseiros que envergonham qualquer Nação -, a posteridade saberá o que ocorreu neste país quando uma turba tomou de assalto o poder, à revelia da deliberação popular.


Os apoiadores da sociedade democrática – que se baseia na prevalência da vontade expressa das maiorias – conseguiram sufocar aos olhos do mundo o golpe imposto por um grupo que a todo custo tenta solapar a democracia. Na disputa sobre quem serão os verdadeiros autores da História, o round internacional, ocorrido na abertura das olimpíadas, foi vencido por nocaute pelos defensores da democracia.