quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

ERA UMA VEZ: UM CONTO DE CARNAVAL...


Abrem-se as cortinas: as festas momescas chegaram... Tempo de devaneios... e de um pouco de ironia também.
Como não sou um devoto de Momo, aproveito da ocasião para tratar de fantasias... reais.
Num país de faz-de-conta um bando tomou de assalto o poder. Retiraram do trono a rainha-mãe, uma mulher honesta, e entronaram no seu lugar um príncipe-sapo, também conhecido como “bode velho”, porque era casado com uma donzela arranjada.
Cercado por uma camarilha de malfeitores, o sapo gostava de “caju”; tinha como animais prediletos um gato “angorá” e um “caranguejo” e como principal estrategista um aprendiz de aviador, apelidado de “mineirinho”.
No longínquo reino, inquisidores midiáticos e nos tribunais abençoaram o golpe, regado por dinheiro de empresas que tinham como logomarca uns patos amarelos.
Um poderoso tio dos bandoleiros, conhecido como "tio-sam", ajudou (e muito) nas estratégias da empreitada do bando golpista.
A corja, com farta representação nos três poderes do reino, tinha milhares de bobos da corte, entorpecidos por poções ora homeopáticas, ora cavalares de uma deusa-platinada: alguns, que se autointitulam do "movimento do país livre", gostavam de bater panelas inox nas janelas de seus belos aposentos para defender heróis pré-fabricados (que na vida real eram vilões); outros, promoviam passeatas contra a ampliação de direitos da turma dos subalternos; detestavam a ideia de justiça e igualdade entre os habitantes do reino e pregavam o ódio em relação aos outros - porque se achavam superiores, acima do bem e do mal, cidadãos de ben$. Não percebiam que estavam a cavar para si um precipício; achavam que o buraco seria somente para a turma do andar de baixo.
Usando da velha política do panis et circenses, a turba dos golpistas no poder entupia a mídia com dinheiro público para entreter o povo. Até renomados cientistas da academia dos escolarizados do reino pregavam em programas globais que as instituições funcionavam plenamente: ficaram conhecidos como os fiadores de uma democracia de faz-de-contas...
O bando dos larápios imprimia uma política recessiva no reino: de propósito, provocavam o desemprego em massa para atender ao clamor das empresas do pato amarelo, com o objetivo de derrubar os salários e criar as condições objetivas para estuprarem a constituição que garantia direitos a todos. Eram saudosos do tempo no qual o reino ainda tinha escravos.
Os sanguessugas no poder esbravejavam a necessidade de "reformas". De fato, queriam derrubar a casa para construir uma choupana. Afinal, eram os donos do pedaço e falavam que pobre existia para mendigar ou viver de favores. Isso agradava, inclusive, o espírito cristão dos golpistas.
Aliás, com o apoio de uma tal “teologia da prosperidade”, que pregava um deus que abençoa somente os endinheirados, os golpistas também tinham as bênçãos de religiões-mercado. Por isso, não parecia um escândalo o fato de líderes religiosos posarem em selfies amistosos com o príncipe-sapo.
No país de faz-de-conta havia convulsões: as polícias, os presídios, os sistemas de seguridade social estavam à beira de um colapso. Mas o príncipe e seu ex-ministro plagiador, assunto à mais alta corte da justiça (e que gostava de um barco intitulado de "boate do amor"), achavam que resolveriam tudo com o báculo militar, se preciso fosse.
No país de faz-de-conta não havia limites morais e éticos: bandoleiros eram altas autoridades e governantes; juízes eram deuses; mídia era tribunal; sonegadores e corruptos de carteirinha eram conselheiros do príncipe. E tudo parecia funcionar normalmente...
Na época da "festa da carne" sobrava para o povo o velho recurso da ironia como lenitivo a zombar da corja no poder. Afinal, naquele país a educação, cumprindo sua missão docilizadora de mentes e corações, sempre ensinou ao povo a se limitar à ironia momesca e nunca questionar sua condição de vida, com vistas a transformar a realidade...
E, assim, num mar de hipocrisia e podridão, todos pareciam ser felizes... para sempre!