segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Pe. Magno Marciete do Nascimento Oliveira: A política da fé

                
Os dramas do impedimento da presidenta Dilma para o Brasil vão muito além da superficialidade do que se pode viver nas formalidades da política. Atingem, no caso da nossa nação, mais uma vez o coração do sentido da política para cada brasileiro e brasileira. O golpe contra a democracia perpetrado em Dilma, incide diretamente sobre uma visão social para o Brasil. O direitismo assume isso sem nenhum tipo de vergonha, na escola sem partido, na falta de incentivo à educação, na proposta de diminuir direitos de trabalhadores, na diminuição do SUS (entenda-se extinção) e pior: desqualifica a linguagem da esquerda enquanto linguagem que opta pelos mais fracos e excluídos.

O que tenta a direita, com isso, é acabar com uma narrativa que é essencial para a vida política, destruir a fé na capacidade de lutar por direitos, por igualdade. Escracham à luz do dia a defesa dos pobres como populismo barato e levantam a bandeira da tal eficiência de sua gestão como forma de governo, um engodo pautado na defesa da meritocracia como forma de regular a vida social. Isso termina por constituir-se em uma das formas mais perversas de ideologia, ocultando toda a responsabilidade social do Estado em procurar o resgate de dívidas sociais, funcionado como entidade mantenedora da ordem necessário para funcionar bem a usurpação dos mais fracos pelos mais fortes.

A destituição de Dilma é um ataque certeiro desta posição ideológica rasteira, que arrasta, inclusive, uma boa massa jovem desacautelado que repete o refrão “fora Dilma” com orgulho e a crença pueril de dominar o processo em questão, manobrada com habilidade pela grande mídia, como há algum tempo não se fazia. Por isso, a batalha é não deixar os agentes de tamanha bestialidade roubarem o patrimônio da “política da fé”. Com boa vontade, e com valores e ética, sabe-se que existe uma “política da fé”. Esta é aquela ancorada no discurso sobre a indignação ética, alma da esquerda, não condicionada a legendas e partidos, mas envolvida em movimento maior por um mundo justo, com a consciência de que a queda momentânea de projetos históricos, em situações concretas, não são o fim da luta.

O fascismo atual não é outra coisa que a soberania do direitismo como discurso, contra a “política da fé”. Cresce à proporção que não se acredita em transformações sociais, que não se alimenta sonhos de outra realidade para os pobres, para os injustiçados. E não se acreditando em mudanças sociais, a ideologia da morte se aninha como solução nas mentes e coração, de modo perigoso, pois consegue cravar no coração das pessoas a ideia de que qualquer narrativa revolucionária é mentirosa, que todos seus ícones são falsos e que é preciso derrubar tudo isso pela revisão histórica do politicamente incorreto. A derrubada de Dilma faz parte dessa desmoralização geral da “política da fé”. Destruir biografias vivas, da esquerda, é essencial para continuar a desconstrução do utópico como motor da sociedade, em troca da realidade do mercado, da vitória de uma pretensa técnica política que exige sacrifícios dos pobres em proveito dos abastados, para crescerem seus negócios e um dia os famintos poderem se alimentar de alguma sobra que caia de suas mesas.

Que Dilma esteja fazendo sua defesa neste momento é providencial. Sua vitória não está em barrar o golpe. Sua vitória consiste, nesta exasperada encruzilhada do Brasil, em não deixar morrer a “política da fé”, dos valores, da luta pela justiça, de impedir que seus novos algozes, que sangram sua alma ao invés do corpo, tenham a possibilidade de passar impávidos, como puros, como heróis aos olhos do Brasil. O sucesso de Dilma é desmascarar a farsa e deixar para os anais da história sua capacidade de empenhar a vida pela “política da fé” em um mundo mais justo, à esquerda.