terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A grande coalização conservadora e sua empreitada golpista


Atualmente, o front do golpe se dá na Câmara dos Deputados. Talvez, a expressão “Câmara de Vendilhões”, ao invés Câmara dos Deputados, seja a melhor expressão para se definir aquela casa na atual legislatura e nesse momento político. Vendilhão é um termo que significa “aquele que se vende fácil”. Ressalve-se que ainda restam alguns deputados e deputadas, um grupo minoritário, infelizmente, que honram o voto popular naquela babilônia à brasileira.

A “Câmara de Vendilhões” só chegou a esse nefasto ponto (alterando regras procedimentais para atendimento de demandas pessoais e casuísticas do grupo pro-impeachment, por exemplo), porque dois fatores se associaram: uma coalizão de direita nunca antes eleita (e forjada magistralmente pelos partidos de oposição, notadamente PSDB, DEM e PPS pós eleições); e a liderança de um deputado cujo modus operandi combina artimanha política, perversidade negocial e um caráter patologicamente perverso.

Comecemos pela análise de Eduardo Cunha, um dos líderes da coalizão conservadora, articulada via Câmara dos Vendilhões. Em 18 de junho deste ano, quando começaram a aparecer as primeiras denúncias (dessa nova safra) contra ele, em um post, já previa:  “Não subestimemos Eduardo Cunha” (VEJA AQUI). Nesse texto, sustentava que Cunha, mesmo com as denúncias, continuava líder:

- De inúmeros "revoltados" on e off line que desde o segundo turno das eleições de 2014 articulam um golpe.
- Dos que não têm nada a perder, porque sempre jogam do lado do "quanto pior, melhor"; 
- Dos segmentos que sempre investiram tudo para a manutenção de um país desigual e injusto social e politicamente;
- De grupelhos religiosos raivosos que pregam uma guerra santa em nome dos seus interesses inconfessáveis;
- Dos oligopólios da imprensa que, atualmente, ajudam na promoção do golpe e que, qual folha de bananeira ao vento, sopram do lado mais conveniente aos interesses dos poderosos. 

Naquela ocasião, advertia que se não houvesse, rapidamente, uma ocupação dos espaços vazios de poder, Cunha poderia se tornar muito mais "musculoso politicamente" do que se encontrava naquele momento. 

Sobre seu caráter, lembrava aos leitores que um homem que não tem nenhum escrúpulo atrai aventureiros, oportunistas e covardes de todas as espécies e, por isso, dele pode-se esperar tudo. E concluía: Não subestimemos Cunha: seu séquito não é desprezável, apesar de ser desprezível.

Enquanto isso, o governo Dilma continuava na berlinda, incapaz de articular uma coalizão que pudesse criar uma base de sustentação da presidenta. O desgaste da base de apoio do governo, notadamente do PT, ocorria em doses cavalares. Em parte, pelo oportunismo do próprio partido ao embarcar no jogo sujo da política eleitoreira, via financiamento empresarial das campanhas, além de aceitar em suas hostes o que há de pior na política; e também pela ação seletiva da justiça da casa grande, via vazamentos da Lava-Jato, com a cobertura sempre enviesada e criminosa da mídia tupiniquim.

Por outro lado, o partido mais fisiológico do Brasil, o PMDB, foi-se fragmentando à medida que seus coronéis começaram a vislumbrar no golpe uma saída para seus intentos pessoais. A vergonhosa e infantil carta do vice-presidente Temer denuncia a desfaçatez desse aglomerado político alcunhado de partido.

Nas ruas, parcela da classe média, com alto poder de vocalização de sua agenda interesseira, que gosta de bater panela inoxidável e acha normal Cunha continuar no poder, conseguiu pautar boa parte dos segmentos políticos que sustentam a ideia segundo a qual o golpe tem base de apoio popular.

Sob o ponto de vista institucional, passaram-se mais de quatro meses daquela nossa crônica sobre Cunha: que continua dando as cartas do jogo na Câmara e, em boa medida, definindo a política nacional.

É claro que o governo Dilma continuou frágil em termos de negociação, articulação política e consolidação de uma base mínima de apoio no Congresso. Mas, a “supremacia Cunha” só foi possível porque, além dos fatores anteriormente elencados, outros, como a consolidação de uma ampla coalização de direita, configuraram-se a ampliar e potencializar as fileiras do golpe.

Além dos representantes dos oligopólios midiáticos, diferentes grupos se recrudesceram nos últimos meses, robustecendo essa coalizão que começou a se estruturar desde a eleição de Cunha como presidente da Câmara. Nesse momento, essa coalizão é um grupo político muito bem estruturado. Fazem parte dela, na Câmara dos Vendilhões:

- Os representantes do empresariado que sempre trataram o Brasil como uma colônia (e por isso têm suas residências em Miami);
- A bancada religiosa (salvo exceções) ultraconservadora e proselitista, cuja moral é a manipulação indecorosa em nome de um deus perverso (de e para poucos);
- A bancada policial e da bala (salvo exceções), que anda saudosa daqueles tempos em que os “representantes da lei e da ordem” agiam como capatazes impunes dos senhores da casa grande;
- Uma centena de deputados nanicos “sem eira nem beira” que chegaram à Câmara graças ao dinheiro sujo angariado, entre outros, por Cunha.

         Mas, é preciso dizer que a mente perversa de Cunha só é tão brilhante porque, certamente, outras mentes do mesmo “calibre” se somam na empreitada golpista. Minha hipótese é que nos bastidores da grande coalizão conservadora-golpista agem outras lideranças ardilosas e muito sagazes: Aécio Neves, certamente, é o principal chefe desse grupo dos bastidores.

         Todos que conhecem a personalidade de Aécio sabem: trata-se de um “menino mimado” que não aceita, em hipótese alguma, perder e, se a derrota for grande, não mede esforços para uma vingança nas mesmas proporções e dimensões. Quando iniciou a disputa eleitoral com Aécio no páreo, no ano passado, previa na minha timeline do Facebook: será uma disputa belicosa. Bingo!

Aécio, não aceitou a humilhação de sua derrota no pleito passado, não descansará e não terá nenhum limite para conseguir seu intento: ser presidente do Brasil. Para ele, isso não é um desejo; é uma sina e, como tal, será conquistada a qualquer custo.

Coloque sob a liderança de Aécio e Cunha figuras como Ronaldo Caiado, Álvaro Dias, Agripino Maia, Roberto Freire, José Serra, Aloysio Nunes, Jair Bolsonaro, Mendonça Filho, Feliciano, Cássio Cunha Lima, Paulinho da Força, entre outros. Qualquer um saberá que, “nunca antes na história deste país” um grupo conservador, radical e perigoso esteve tão bem articulado e unido. Esse grupo seria o sonho dourado de Carlos Lacerda.

Mas, há uma notícia boa nessa história. À medida que a porta do armário que ocultava os saudosos do país da casa grande e da senzala vai sendo escancarada, veremos, às claras, quem serão aqueles(as) que se aliam ao gangsterismo político, ao oportunismo, ao desprezo à democracia e suas regras mais basilares, ao jogo sujo e desleal do vale-tudo sem pudor, medida e ética.

Provavelmente, a comissão fajuta arquitetada perversamente por Cunha e sua turma encaminhará, mesmo depois da decisão do Ministro Fachin, mais cedo ou mais tarde, o pedido de impeachment para o plenário da Câmara dos Vendilhões. Porém, espera-se que, com uma votação aberta, alguma dignidade possa imperar na consciência e nos votos da maioria dos deputados e deputadas.


Afinal, os anais da história do Brasil também se encontram escancarados para registrarem à posteridade essa página que marcará a história da atual e das futuras gerações.