quinta-feira, 29 de julho de 2010

Juventude e violência

Apesar de uma significativa melhoria nos indicadores de crimes nos últimos anos, o Brasil é um país violentíssimo. E vários estudos têm comprovado, sistematicamente, que os jovens são as maiores vítimas da criminalidade. A escassez de políticas públicas destinadas aos jovens, um grande número de armas disponíveis (e sem controle do Estado) e o adensamento do tráfico de drogas, principalmente nas periferias das grandes cidades, são fatores que contribuem para o adensamento da vitimização juvenil. Esses ingredientes articulados respondem por altas taxas de letalidade desta população.
Dados de uma pesquisa divulgada em agosto do ano passado pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (em parceria com o UNICEF, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e a organização não governamental Observatório de Favelas), projeta que o número de mortos na faixa etária entre 14 e 19 anos chegará a 33.504 entre 2006 e 2012, sendo que metade desses crimes acontecerá nas capitais. A chance de um jovem morrer por arma de fogo é três vezes maior na comparação com outras armas.
De acordo com o levantamento, a média de adolescentes assassinados no Brasil antes de completarem 19 anos é de 2,03 para cada grupo de mil. O número é preocupante, dado que, numa sociedade pouco violenta essa taxa deveria apresentar valores próximos de zero.
O estudo feito em 267 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, revela, também, a disparidade entre as condições de segurança nas diferentes regiões do país. Em 34% dos municípios pesquisados, o IHA – Índice de Homicídios na Adolescência - foi inferior a um adolescente assassinado para cada grupo de mil. Cerca de 20% das cidades obtiveram valores superiores a três jovens mortos por mil habitantes. Significa que, em tese, um em cada 500 adolescentes brasileiros será assassinado antes de completar 19 anos.
Por fim, o estudo mostrou que a probabilidade de ser vítima de homicídio é quase 12 vezes maior para homens; que a população negra é a que mais sofre com a violência e que o risco de um jovem negro morrer assassinado é 2,6 vezes maior em relação a um branco.
            Levando em conta outros indicadores que apresentam uma concentração de mortes na faixa etária que vai dos 14 aos 29 anos, como por exemplo, as mortes de jovens no trânsito, pode-se concluir que nosso país tem uma dívida social enorme para com os adolescentes e jovens. Somente 26% das mortes dos adolescentes são por causas naturais. Os outros 74% das mortes derivam de múltiplos fatores – acidentes, brigas banais, ação policial inadequada, envolvimento com o tráfico de drogas, exclusão social.
Quem pesquisa o tema também tem uma certeza: as políticas públicas de enfrentamento à violência devem ser dirigidas, prioritariamente, à população jovem dos bairros mais pobres. Não há relação direta entre pobreza e criminalidade, mas alguns fatores existentes nestes locais contribuem para o aumento da violência, dentre eles o desemprego, o tráfico de armas e drogas e a falta de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, lazer e serviços de apoio às famílias nesses locais.
Há que se registrar que as novas políticas públicas voltadas para a diminuição da violência juvenil, principalmente de prevenção à criminalidade, não devem ratificar o preconceito que rotula os jovens como sendo um problema, pois se eles são os principais autores da violência, também são as principais vítimas.
Os jovens violentos de todas as classes e principalmente das grandes cidades brasileiras enfrentam muitos desafios que os impedem de exercer sua cidadania; portanto, a função das políticas públicas é auxiliá-los para que eles possam vencer os obstáculos e usufruírem plenamente dos seus direitos e responsabilidades de cidadãos.
Os bons resultados de alguns programas de prevenção à criminalidade juvenil se devem à aposta na efetivação de projetos nos quais os jovens são tratados como sujeitos capazes de repensar sua trajetória de vida, reconstruindo-a. E para tanto é preciso que os gestores das políticas públicas (de educação, saúde, assistência social, segurança), nos três níveis de governo (município, estado e união) acreditem no potencial de transformação dos jovens. E, em parceria com ONG’s, empresas e outros organismos da sociedade tenham coragem para ouvi-los, compreendê-los e auxiliá-los na sua caminhada, ajudando-os na construção do seu próprio caminho.