quarta-feira, 30 de maio de 2018

Brevíssima análise de conjuntura em 10 pontos

Charge: Mario.Net

1. Quem governa o Brasil (e boa parte do mundo, diga-se de passagem) são os donos do capital, principalmente os rentistas. Temer e sua camarilha são serviçais, em nosso país, dessa turma: latifundiários, banqueiros, empresários (do yellow duck) e especuladores. Temer, provavelmente, permanecerá no poder porque não há, no momento, outra marionete (dos poderosos) para substituí-lo. A depender da situação, outro golpe dentro do golpe será engendrado. Ou seja, desde o impeachment fajuto, o Estado brasileiro está para os donos do capital e não para os cidadãos. Quem manda é o deus todo-poderoso e invisível chamado “mercado”, que não respeita a Constituição (nem os processos eleitorais); não se preocupa com o povo e a Nação e, portanto, não vai se curvar aos cânones democráticos.

2. O golpe foi para manter a metade do orçamento do país intocável, destinado aos especuladores da banca e, também, para conservar privilégios de elites e segmentos que sempre se beneficiaram desse modelo escroto de sociedade (altamente excludente, violenta e injusta). Por isso, todas as contrarreformas do grupo que usurpou o poder em 2016 não são para melhorar o país ou a vida do povo; são para garantir a pilhagem do erário pelos ricos e precarizar os direitos dos trabalhadores, aqui, inclusa, por óbvio, a classe média (inclusive os batedores de panela inox que se acham burgueses).

3. Para manter o Brasil prostrado aos interesses geopolíticos norte-americanos e à banca, o baronato brasileiro se uniu a segmentos hegemônicos do Poder Judiciário na empreitada golpista. Numa parceria com o MP e a PF, o Judiciário institucionalizou um estado judicial-policial seletivo que interfere nos processos democráticos, com as bênçãos do Supremo.

4. O golpe se constituiu numa união, precária, mas eficiente, das elites nacionais, da mídia empresarial e do judiciário. Parlamento e Executivo, repletos de prepostos dos barões (como os que mandam no banco central, por exemplo), ora servem, ora são massa de manobra dos donos do poder. 

5. Para inviabilizar qualquer projeto popular, Lula foi preso e continuará como preso político. É uma infantilidade achar que o STF e/ou o TSE, históricos representantes da Casa Grande, irão liberá-lo às eleições.

6. Se houver eleições, Lula estará fora do páreo. Portanto, suas chances de se desvencilhar das armadilhas dos golpistas são: (a) restauração da democracia (mesmo que formal), favorecendo mudanças institucionais a médio prazo (incluindo substituições no STF) e/ou a ação indireta de organismos internacionais que venham a denunciar o processo judicial de exceção, a exigir  revisões do mesmo.

7. Enquanto isso, se houver eleições, os setores democráticos e do campo de esquerda precisam trabalhar, e rápido, com a hipótese de um candidato que tenha musculatura eleitoral (aspecto pragmático) e seja do campo democrático (aspecto programático). O apoio de Lula será o diferencial e decisivo a alavancar essa candidatura.

8. Mesmo sendo compreensível a luta correta, mas quixotesca, do PT em relação à candidatura de Lula, seria estratégico que o partido, em articulação com seu líder maior, explicitasse o mais rápido possível que está disposto a formar, de fato e não na verborragia inconsequente, uma frente de democrático-popular de centro-esquerda, inclusive abrindo mão da cabeça de chapa. E que incluísse as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo nessa concertação.

9. Neste sentido, um candidato do campo progressista, que tem alguma competitividade e que tiver o apoio de Lula (e não necessariamente do PT), terá condições de disputar, seguramente, as eleições presidenciais com chances de vencer o pleito no segundo turno e iniciar um longo processo de reconstrução nacional, com alguma legitimidade (dado o alto nível de esfacelamento da sociedade).

10. É nesse cenário que, sem abandonar a denúncia constante e veemente das arbitrariedades cometidas contra Lula e intensificando a luta de organização social, que o campo progressista, principalmente o PT, deve considerar os demais pré-candidatos. Insistir na luta fratricida de desconstrução da imagem dos demais candidatos que podem compor uma aliança de centro-esquerda é petulância e irresponsabilidade política e eleitoral.


NB: Vejo comemorações efusivas de decisões periféricas do TSE e do TRF3. Pessoas, bem-intencionadas, que acreditam que a justiça irá liberar Lula. Fé? Ingenuidade? Ilusão? Não sei se é trágico ou hilário.

domingo, 27 de maio de 2018

BREVE RELATO DE UM CIDADÃO, NUM PAÍS ARRASADO

Charge: Latuff, para o Opera Mundi.

Fui ao supermercado fazer umas compras agora a tarde, neste domingo, 27/05. Lá, balconistas e outros trabalhadores atendiam educadamente os clientes. Estes, por sua vez, só reclamavam de tudo e de todos, como se não tivessem nenhuma responsabilidade com tudo o que está acontecendo no país (depois do golpe patrocinado, em parte, por segmentos privilegiados da classe média).


No Brasil, os trabalhadores(as) em sua maioria absoluta são honestos e cumpridores das leis. Por isso, temos que bater palmas para a coragem dos caminhoneiros (excluídos aqueles que acham que o cacete resolverá os problemas do país), que não aceitam mais tanta espoliação por parte de seus patrões e desse desgoverno. Parabéns, por não terem cedido a um acordão feito pelo andar de cima, para favorecer os que sempre se beneficiaram das negociatas de bastidores.

Do outro lado, temos uma elite de mentalidade e práticas coloniais e escravocratas que perdeu todo o pudor. Dois exemplos: 

(1) Donos de postos de gasolina vendendo o produto a 10 reais. Trata-se somente uma pequena mostra da ganância, falta de solidariedade, de ética, de espírito nacionalista e de respeito à lei e ao estado de direito do nosso empresariado que, salvo exceções, só quer explorar e sugar o máximo do povo e do país. Mas que não abre mão de curtir as férias vendo o pateta na disneylândia. Os empresários nacionais, bem representados pelo "yellow duck", o pato amarelo da Fiesp, adoram reclamar da carga tributária no Brasil, mas escondem que a sonegação fiscal em nosso país chegou a 500 bilhões de dólares em 2017, segundo os procuradores da Fazenda Nacional.

(2) Outro exemplo do entreguismo sádico das elites no poder: a Petrobrás, sob o comando de Pedro Parente, indicado ao cargo por FHC e pelo PSDB, adotou uma política de preços altos dos combustíveis que viabilizaram a importação de petróleo pelas concorrentes multinacionais. Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobrás, “a estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015; dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total e em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil. Os funcionários da Petrobrás chamam a política adotada pelo governo Temer de “America first!”, ou seja, “os Estados Unidos primeiro!”. Com essa política, “ganham os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perdem os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação”. 

Em relação aos membros dos poderes executivo e legislativo federais na atualidade, também salvo exceções, não é preciso comentar. Trata-se de um conglomerado de larápios e desqualificados da pior espécie, serviçais do rentismo nacional e internacional. Todas as contrarreformas feitas até agora pelo executivo e o congresso nacional visam a favorecer empresários, rentistas, latifundiários e banqueiros às custas do sangue e do suor dos trabalhadores brasileiros.

E o judiciário? Hoje, nos jornais, Carmen Lucia, também conhecida como a “madre superiora”, diz que falhou na sua missão de pacificação nacional. Que conversa é essa, senhora ministra? Todos sabemos que o objetivo de Vossa Excelência no comando da Suprema Corte é manter tudo como sempre esteve. Neste sentido, seu mandato é um sucesso estrondoso. Afinal, o STF sempre utilizou do exercício abstrato, seletivo e discricionário do direito e da lei para manter o status quo dessa sociedade caracterizada pela abissal desigualdade social e pela justiça e violência seletivas. Mesmo diante de um país sendo destruído por uma quadrilha, o STF abençoou toda a empreita golpista. Nesse sentido, Vossa Excelência cumpre à risca o que as elites sempre esperaram do STF sob sua presidência. Receba os mais efusivos cumprimentos de quem de direito(a).

sexta-feira, 18 de maio de 2018

O Papa Francisco e os golpes



                Desde ontem, dia 17/05, as redes sociais reproduzem, em doses cavalares, trechos de uma homilia feita pelo Papa Francisco durante a missa rezada na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano. Até mesmo a mídia empresarial foi “obrigada” a reproduzir a notícia, haja vista a grande repercussão das reflexões do Pontífice.

                Segundo o portal de notícias do Vaticano, o Vatican News, durante a pregação Francisco tratou de alertar os presentes sobre a intriga, utilizada principalmente pela mídia, na atualidade, como um método para condenar as pessoas.

“Criam-se condições obscuras” para condenar a pessoa, explicou o Papa, e depois a unidade se desfaz. Um método com o qual perseguiram Jesus, Paulo, Estevão e todos os mártires e muito usado ainda hoje. E Francisco citou como exemplo “a vida civil, a vida política, quando se quer fazer um golpe de Estado”: “a mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas”. Depois chega a justiça, “as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”. Uma perseguição que se vê também quando as pessoas no circo gritavam para ver a luta entre os mártires ou os gladiadores.”

Em relação à mídia empresarial, o Papa Francisco não cansa de alertar sobre a imposição de um discurso em uníssono que se concretiza com “a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural” e é parte da estratégia do sistema que produz a morte dos pobres e da Mãe Terra. E, para tanto, “as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações”. (Discurso do Papa Francisco no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia, em 2015).

Obviamente, ninguém pode “colocar na boca” de Francisco o que ele não disse. Seria, portanto, uma irresponsabilidade afirmar que o Papa estava se referindo especificamente ao golpe de 2016, apesar da imensa similaridade com o ocorrido no Brasil, principalmente pelo fato de o Pontífice apontar com extrema clareza e concisão a participação da mídia e da justiça nos golpes de estado, na atualidade. (Registremos que os golpes havidos no Paraguai e em Honduras tiveram o mesmo enredo do golpe ocorrido no Brasil: parlamento, mídia e justiça, com a participação dos Estado Unidos, como os principais atores nessas tramas golpistas).

Por outro lado, é ingênuo pensar que o Papa fez essas considerações sem fulcro na realidade sociopolítica contemporânea latino-americana e brasileira.

É importante destacar que não é a primeira vez que Francisco mostra-se atento ao recrudescimento das forças ultraliberais que dominam os estados nacionais, principalmente nos países em desenvolvimento ainda marcados pela desigualdade social, em favor do mercado e da economia rentista, a sustentarem um “sistema global idólatra que exclui, degrada e mata” (Discurso do Papa Francisco no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia, em 2015).

Ademais, a atualidade do discurso do Papa em relação ao que ocorre na América Latina e no Brasil nos últimos tempos pode ser percebida quando Francisco tratou, noutras ocasiões, das múltiplas tentativas de destruição da identidade dos povos latino-americanos: “Identidade que alguns poderes, tanto aqui como em outros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária; porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro” (Discurso do Papa Francisco no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia, em 2015).

Neste sentido, pode-se afirmar que o Papa Francisco não ficou alheio aos “golpes suaves” ou “golpes brandos” que ocorreram no Brasil e noutros países da América Latina. Em reunião com a presidência do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) – órgão colegiado dos bispos de toda a América Latina – em 19 de maio de 2016, por exemplo, o Papa Francisco advertiu que "pode ​​estar acontecendo "golpes de estado suaves” em alguns países da região. Segundo o portal de notícias “Religião Digital”, da Espanha, o Pontífice, durante a referida reunião, expressou preocupação com os problemas sociais dos países da América Latina em geral. Segundo o Papa, estaria ocorrendo um "golpe de estado suave" em alguns países. (Fonte: http://www.periodistadigital.com/religion/vaticano/2016/05/20/el-papa-recuerda-al-celam-que-la-interpretacion-correcta-de-la-amoris-laetitia-es-la-del-cardenal-schonborn-religion-iglesia-vaticano.shtml ).

Corroborando essa reportagem, alguns dias antes do encontro com a cúpula do episcopado latino-americano, em 28 de abril de 2016, Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do prêmio Nobel da paz, relatou que o Papa Francisco acompanhava com preocupação a crise política no Brasil. Em entrevista, disse que discutiria com o pontífice o processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff. "Ele (Francisco) está muito preocupado com o que ocorre aqui. Também está preocupado com outros problemas no continente, retrocessos democráticos", afirmou.

Segundo reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, o Nobel da Paz não adiantou qual a avaliação do papa sobre o Brasil, mas apresentou a sua posição: "Temos muito claro que o que está se preparando aqui é um golpe, aquilo que chamamos de golpe branco", disse. "Esses golpes brancos já foram colocados em prática em países como Honduras e Paraguai. Agora, a mesma metodologia que não necessita de Forças Armadas está se utilizando aqui no Brasil". (Fonte: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,nobel-da-paz-diz-que-papa-francisco-acompanha-com-preocupacao-crise-politica-no-brasil,10000032337).

Considerando todas essas intervenções, sem contar a negativa do Pontífice em visitar o Brasil durante as comemorações dos 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no ano passado, pode-se deduzir que o Papa Francisco, ao contrário dos episcopados latino-americano e brasileiro, tem posições bastante consolidadas sobre a situação política na América Latina e, em especial, no Brasil. Aliás, a narrativa de Francisco acerca dos “golpes brandos” ou “suaves” é a mesma narrativa reproduzida quase que unanimemente pela mídia internacional e, sintomaticamente, rechaçada pela mídia tupiniquim.

Obviamente, a postura de Francisco não se restringe à defesa de um partido ou de uma ou outra personalidade. Suas admoestações (como o bom pastor que se preocupa com a vida digna de seu rebanho), tratam, fundamentalmente, de uma posição política baseada na leitura acerca da realidade brasileira, marcada pela avassaladora destruição do estado de proteção social, implementada pela coalizão que tomou o poder e que, desde então, mostra-se totalmente descomprometida com a justiça social, a submeter a maioria dos brasileiros a condições de vida degradantes.  

O mandamento de Jesus é claro: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10). Neste sentido, Francisco, clara e profeticamente, não aprova medidas governamentais, não somente no Brasil, mas em qualquer parte do mundo, que deteriorem ou comprometam a dignidade da vida humana, principalmente dos segmentos empobrecidos.

Em outras ocasiões, o Pontífice tem denunciado que o sistema financeiro que domina boa parte dos países na contemporaneidade “tornou-se insuportável”. Por isso, o Papa faz sempre faz uma convocação: “digamos sem medo [que] queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas”. Para tanto é preciso colocar a economia a serviço dos povos.” (Discurso do Papa Francisco no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia, em 2015). E o atual governo brasileiro tem feito justamente o contrário: coloca a economia a favor dos rentistas e especulares nacionais e internacionais.

Como disse Jesus em certa parte do Evangelho, “quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mateus 11, 15).

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Cristãos comprometidos com a fé e a política


No período entre os dias 4 e 6 de maio, em Fortaleza, aconteceu uma reunião ampliada do Movimento Nacional de Fé e Política. Representantes de 14 estados, totalizando cerca de 85 participantes, se dedicaram à análise de conjuntura sociopolítica, atividades de formação e a preparação do 11º Encontro Nacional, que se realizará em julho de 2019, em Natal (RN) comemorando os 30 anos do movimento.


O Movimento Nacional Fé e Política foi criado em junho de 1989, durante um encontro de pessoas unidas pela fé cristã engajada nas lutas populares, com o objetivo de alimentar a dimensão ética e espiritual que deve animar a atividade política.  Ao longo de sua existência o Movimento promoveu encontros de estudo, dias de espiritualidade e publicou quinze cadernos sobre a relação entre Fé e Política.  Por definir-se como um serviço de formação e estímulo a grupos de reflexão, o Movimento não é mais do que um grupo informal de serviço aos grupos de base. Sua organização é muito simples: todos os seus membros são voluntários, sua coordenação geral é formada por seis membros escolhidos entre os antigos militantes mais dois representantes de cada estado dos locais onde foram realizados encontros nacionais. A secretaria-executiva é encarregada de ajudar a equipe do local onde será realizado o Encontro, produzir e publicar textos que ajudem a reflexão dos grupos, alimentar a página do Movimento na internet e fazer a articulação geral entre os grupos interessados. O espaço onde tudo acontece de fato é nos grupos de base. O Movimento apenas lhes proporciona incentivos e ideias. Mais informações em (www.fepolitica.org.br).

Segundo Leonardo Boff, um dos fundadores do Movimento, “A fé tem a ver diretamente com Deus e seu desígnio sobre a humanidade. Mas ela está dentro da sociedade e é uma das criadoras de opinião e de decisão. Ela funciona como uma bicicleta. Possui duas rodas, mediante as quais se torna efetiva na sociedade: a roda da religião e a roda da política. A roda da religião se concretiza pela oração, pelas celebrações, pelas pregações e pela leitura das Escrituras. Pela roda da política, a fé se expressa pela prática da justiça e da solidariedade. Como se vê, política é sinônimo de ética. Temos que aprender a nos equilibrar em duas rodas para andar corretamente. A Bíblia considera a roda da política como ética mais importante que a roda da religião como culto. Sem a ética, a fé fica inoperante. São as práticas que contam para Deus. Melhor que proclamar “Senhor, Senhor” é fazer a vontade do Pai. Concretamente, fé e política se encontram juntas na vida das pessoas. A fé inclui a política, quer dizer, um cristão deve se empenhar pela justiça e pelo bem-estar social; deve optar por programas que se aproximem daquilo que entendeu ser o projeto de Jesus e de Deus.”

A reunião em Fortaleza do Movimento contou com a análise se conjuntura conduzida pelo professor Juarez Guimarães (cientista político da UFMG) e pela Pastora Romi Bencke (secretária do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs - CONIC). Na ocasião, foi feito amplo debate sobre os desafios que a realidade política brasileira impõe aos cristãos comprometidos com uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

No sábado, dia 05, uma primeira mesa de debates intitulada “Políticas Públicas na perspectiva do Bem Viver”, com a participação da professora Tânia Bacelar (UFPE) e de Ivo Lesbaupin (Iser – Assessoria) analisou os desafios para a construção da sociedade do bem viver (um conceito que propõe a construção de novas realidades políticas, econômicas e sociais a partir de uma ruptura radical com as noções de “progresso” e “desenvolvimento”, pautadas pela acumulação de bens e capital, pelo crescimento infinito e pela exploração inclemente dos recursos naturais e que está colocando em risco a sobrevivência dos próprios seres humanos sobre a Terra).

Ainda no sábado, com a participação de Frei Betto e do Padre Manfredo Oliveira (UFC) discutiu-se o tema ética e sua relação com as práticas sociais. As abordagens trataram dos desafios sociais e ecológicos da crise de época, que também é uma crise de paradigmas, que se impõe sobre a sociedade capitalista, atualmente. É urgente o cuidado com as pessoas, principalmente “nas periferias existenciais e sociais”, conforme o Papa Francisco que também alerta toda a humanidade para o cuidado com a Casa Comum (a natureza).

O domingo foi dedicado a encaminhamentos com vistas à mobilização da grande rede de agentes sociais e políticos que formam o Movimento. Também foram acertadas as principais ações para o próximo encontro nacional, em Natal.

Segue, abaixo, a carta divulgada pelo Movimento no final do encontro:

"O Movimento Nacional Fé e Política reunido em Seminário nos dias 04, 05 e 06 de maio em Fortaleza-CE, com o Tema POLÍTICAS PÚBLICAS, ÉTICA E PRÁTICAS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO BEM VIVER, com 80 (oitenta) participantes representando 13 (treze) Estados e o Distrito Federal, manifesta sua indignação diante dos últimos acontecimentos que ameaçam a democracia e o Estado de Direito. Tudo isso tem acarretado a perda da soberania dos direitos do povo brasileiro, em especial dos pobres e trabalhadores(as).

Temos constatado que o golpe jurídico-parlamentar ocorrido em 2016, com o impeachment da Presidente Dilma, demonstra parcialidade de parte da justiça brasileira com a participação da grande mídia e do capital nacional e internacional, e consolidam-se comportamentos nefastos à democracia como: o ódio, a intolerância e a violência. Esta última, expressa em diversos assassinatos de lideranças que se colocam em apoio aos direitos humanos dos pobres e excluídos, como aconteceu com a Vereadora Marielle Franco e seu motorista Ânderson.

Frente a tudo isso, os participantes do Seminário Nacional de Fé e Política vêm manifestar seu apoio e solidariedade ao Presidente Lula, companheiro de caminhada deste Movimento, depois de sua injusta condenação, sem provas e a sua prisão arbitrária.

Da mesma forma, em face da luta em defesa da reforma agrária e direitos dos trabalhadores/as do campo, repudiamos os diversos assassinatos, cerca de 70 (setenta), que ocorreram no campo, bem como, repudiamos a prisão do Padre Amaro. Tais violências têm como principal objetivo intimidar os(as) lutadores(as) sociais e criminalizar os movimentos sociais e populares.

À luz do Evangelho e do compromisso do Movimento Nacional Fé e Política com a construção da sociedade do Bem-Viver, reafirmamos nossa luta pela Vida, bem como direito a justiça de todos os pobres e excluídos da sociedade brasileira.

MARIELLE VIVE!
PADRE AMARO LIVRE!
LULA LIVRE!

Fortaleza, 6 de maio de 2018."