domingo, 18 de junho de 2017

Algumas reflexões sobre a entrevista de Joesley, o verdadeiro safadão!

Fonte: Época

A entrevista do dono da JBS para uma revista do conglomerado Globo - que atenta cotidianamente contra a democracia brasileira -, é sinal que a narrativa do golpe (ganhada pela mídia alternativa) está sendo ferozmente disputada pela família dos Marinhos que se postam, agora, como os redentores da Nação.

Depois de avalizarem a “maior Orcrim”, alçando-a ao comando do país, os donos da Globo desejam entrar para a história como os responsáveis pela saída do buraco que ajudaram a cavar.

Assim como a saída da ditadura foi totalmente controlada pelos militares, os Marinhos – e seus sócios no governo, no congresso, na justiça e no sistema econômico-financeiro – tentarão controlar a saída do poço através de eleições indiretas, colocando no comando da Nação um outro preposto em condições de competitividade nas eleições do ano que vem. Esse é o plano. Afinal, a “Orcrim” atual está fadada ao submundo da história e da política.

Os Marinhos sabem que com ela, a “Orcrim”, e o “número 2”, o garoto de Copacabana que seria o “primeiro a ser comido”, eles não têm nenhuma chance de tocarem o enredo golpista que, na verdade, é um plano manipulado pelos donos do capital internacional e pelos EUA que querem manter o Brasil na condição de eterna colônia extrativista.

Portanto, a aposta da Globo neste momento é rifar o impostor e rapidamente colocar no seu lugar um novo “presidente para chamar de seu”.

E a entrevista do Joesley, o verdadeiro safadão da república das bananeiras?

Um primor, detalhadamente tratada e dirigida pelo editor de Época, Diego Escosteguy que, logo depois do impeachment fajuto, foi obrigado a negar nas redes sociais rumores de que ameaçou demitir, numa reunião, quem de sua equipe dissesse que o golpe foi golpe. Teria dito: “quem acha que foi golpe, vaze agora”.

Mas, convenhamos. O Safadão do agronegócio deu uma de cientista político ao analisar a situação atual do país.

É verdade que cientista político e técnico de futebol há mais de 200 milhões neste país... Mas, destacamos algumas pérolas da entrevista:

(1)  Disse que o PT institucionalizou a corrupção: aqui, a primeira evidência de uma eventual combinação do teor da conversa. Como se sabe, a prática de utilizar do marketing eleitoral e do caixa 2 para as campanhas foi “inventada” pelo PSDB mineiro na eleição de Eduardo Azeredo que, diga-se de passagem, ficará impune brevemente, haja vista a prescrição da pena, dado a primorosa ação/omissão da justiça (do bico longo). Desde então, todos os partidos em condições de competitividade eleitoral, inclusive o PT, utilizaram de tal expediente nas campanhas. Portanto, a estratégia da Globo de criminalização exclusiva do PT fica clara nessa parte do discurso de Joesley.

(2) Ao descrever a engenharia usada pelas máquinas partidárias no desenvolvimento das campanhas (cujas dívidas com seus financiadores seriam pagas em troca dos favores arquitetados pelos políticos eleitos), fica evidente que o sistema partidário é uma das principais engrenagens da máquina de corrupção, atualmente. A máquina funciona graças a troca de favores que envolve agentes públicos, lideranças partidárias e empresários (incluso aqui o agronegócio), banqueiros e especuladores. Ao contrário do que deseja reforçar a Globo, o dinheiro sujo da corrupção sai do bolso dos empresários, banqueiros e especuladores não porque são vítimas do sistema, mas, ao contrário, porque se beneficiam do sistema. Como já escrevemos neste blog, anteriormente, o que move o capitalismo rentista na atualidade é a corrupção sistêmica e generalizada. Veja aqui >>>. O sistema político-partidário não é “a corrupção”; mas é uma das engrenagens que atuam para fazer funcionar a máquina da corrupção. A corrupção é a base do capitalismo rentista.

(3) Ao nomear os membros da “Orcrim” (Temer, Gedel, Padilha, Cunha, Moreira Franco e Henrique), Joesley explicitou um grupo altamente coeso que atua há muito tempo no PMDB, desde antes das alianças com o PT, e que sempre esteve ativo, mesmo nos momentos de enfrentamento com Dilma Rousseff. Isso é público e notório. Porém, ao dizer que essa “Orcrim” funciona porque “quem não está preso está hoje no Planalto” o dono da JBS atira um petardo em direção ao STF. É como se ele dissesse: “a quadrilha funciona porque não foi presa e age livre e impunemente”. Aqui, mais uma evidência que parece mostrar que a saída articulada pela Globo passa por uma intervenção da justiça, haja vista a impossibilidade, nesse momento, de uma debandada da “base de Temer” no Congresso. Afinal, como se sabe, essa base foi construída por Eduardo Cunha, para chamar de sua, justamente através da corrupção eleitoral generalizada nas eleições de 2014. Por isso, a base de Temer, que é de Cunha, e vice-versa, segue fiel ao seu “senhor”, mesmo nesse momento no qual Cunha está em retiro nas terras das araucárias. Ou será que a Globo está insinuando que somente uma intervenção militar resolveria o problema que criou? Tudo é possível... inclusive, nada.

O fato é que nem todas as cartas estão sobre a mesa. O que é divulgado pela mídia sempre está a serviço de algum interesse.

Em relação a Joesley: resolveu comprar uma imensa briga com todo o sistema político-partidário brasileiro. Será que a Globo o salvará? Acho melhor chamar o “chapolin colorado”.

Outro fato: somente uma profunda reforma do sistema político (partidos, regras e propaganda eleitorais, justiça eleitoral, etc.) poderá dar o mínimo de credibilidade e legitimidade a qualquer governo.


Eleições diretas, sim... e já. Mas, sem reformas estruturais, será um novo engodo.