sábado, 29 de abril de 2017

Sobre a greve geral e suas repercussões


Fonte: Revista Fórum


Na semana passada prevíamos que se a greve geral fosse exitosa poderíamos iniciar um processo de superação do golpe.

Ao longo da semana ficou evidente que para além da boa articulação entre as centrais sindicais e as lideranças dos principais movimentos sociais em torno da mobilização popular, outros importantes segmentos de associaram à convocação da greve. Destaque especial seja dado a participação de lideranças da Igreja Católica - que tem um dos maiores índices de credibilidade entre a população brasileira. Mais de 100 bispos, cerca de 1/3 do episcopado na ativa, apoiaram publicamente a greve. Desde a ditadura não acontecia uma mobilização dessas proporções pelo alto clero da Igreja do Brasil.

Dois dias antes da megaparalisação, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, disse: "O Brasil vive um momento particular de sua história, uma crise ética. Há situações de enorme complexidade nos quais estão envolvidos personagens do cenário político, sem falar da crise econômica que atinge a todos. Como encaminhar mudanças sem o respaldo da sociedade? Propostas de reformas que tocam na Constituição Federal, no sistema previdenciário, na CLT merecem estudo, pesquisa e aprofundamento. Sem diálogo não é possível criar um clima favorável que vise o bem do povo brasileiro.”

No dia da greve, em entrevista ao vivo à Rede Aparecida (uma das maiores emissoras de TV católicas do país, transmitindo com exclusividade a 55ª Assembleia Geral da CNBB, que ocorre no Santuário Nacional), o bispo-auxiliar de Belo Horizonte e reitor da PUC Minas conclamava: "Vivemos um tempo de democracia participativa. Que aqueles que foram eleitos para concretizar a democracia representativa sejam sábios para escutar o clamor dos cidadãos. Nunca tivemos um momento como este com tanta convergência para um pensamento totalmente contrário ao que está sendo proposto pelo governo. Só há um caminho para o povo brasileiro: sair para as ruas e dizer que não está satisfeito, que não quer este caminho que está sendo imposto pelo governo."

A greve geral é um instrumento a ser praticado em momentos específicos da conjuntura sociopolítica, quando há condições objetivas de adesão massiva dos trabalhadores e, simultaneamente, a possibilidade de se gerar um poderoso movimento de transformação; no caso, visando à superação do golpe que levou ao poder um governo sem voto e, portanto, sem compromisso com a população. Um governo que se sustenta com o pífio apoio de 4% da população e uma coalizão ultraconservadora, formada por um congresso marcado majoritariamente por corruptos; uma justiça seletiva e parcial; um empresariado antinacional e de mentalidade escravocrata e uma mídia manipuladora e fascista. Somente acadêmicos míopes e colonizados conseguem defender nos holofotes globais uma democracia dessa natureza.

A estratégia de mobilização que articulou os movimentos sindicais, sociais e eclesiais deu certo. Mais de 35 milhões de trabalhadores cruzaram os braços e as ruas de centenas de cidades foram tomadas pelos trabalhadores e trabalhadoras.

Mesmo com o desdém, a mentira, a manipulação e o terrorismo implantado pela mídia golpista e seus comentaristas fascistas na véspera e durante todo o dia 28, o movimento foi exitoso e ganhou destaque internacional. 

E fica cada vez mais claro que uma reforma do sistema de comunicação social, com controle social da mídia, é elemento fundamental para a restauração da democracia em nosso país.

Há momentos na história de um povo e de uma Nação que os cidadãos e as instituições democráticas e populares são colocados à prova. Nesses momentos há que se dar um salto qualitativo.

O bando despudorado que tomou de assalto o poder para servir ao capitalismo rentista parece não ter limites. Temer e a camarilha golpista nos três poderes, com o apoio estratégico do dinheiro sujo do empresariado corruptor e da justiça da Casa Grande só poderão ser confrontados com a força que brota da união popular.

Como escreveu Vladimir Safatle, para os que tentam se legitimar contra o povo “a greve geral foi criada. Ela é a mais legítima de todas as manifestações políticas, pois, no seu cerne, está a recusa em se deixar desaparecer. Ela é a maneira profunda que o povo tem de dizer: "Nós existimos". Nós existimos como sujeitos, como os verdadeiros soberanos.”

Numa democracia não é possível um governo sem o mínimo de respeito aos verdadeiros soberanos.

 Torna-se, portanto, intolerável um governo sem povo. Um grupo atolado na corrupção - refém do capitalismo rentista e subjugado pelos chantagistas do sistema judicial-inquisitorial - continuar usurpando o poder para se locupletar e agradar seus financiadores do setor econômico e da mídia.

É insustentável um governo que, com 4% de aprovação popular, rasga a Constituição Cidadã e a substitui por uma constituição anticidadã.

É insuportável que a pauta política seja dominada e imposta não pelos interesses populares, mas por uma mídia apodrecida no desvario da desinformação e da manipulação; serviçal dos rentistas e algoz do povo. Não se pode aceitar mais que empresas de comunicação que operam como concessão pública - com obrigação constitucional de informar adequadamente a população -, continuem a impor sua agenda nefasta em detrimento dos interesses de uma Nação.  

É preciso enfrentar a mais perigosa e ardilosa organização que opera no Brasil a serviço dos interesses internacionais e contra o povo: as organizações globo. Como escreveu o renomado professor Wanderley Guilherme dos Santos: “o Sistema Globo de Comunicação superou as Forças Armadas e as denominações religiosas na capacidade de distribuir pela sociedade os terríveis sentimentos de medo, ansiedade e inquietação. Ele é a fonte do baixo astral e baixa estima dos brasileiros e das brasileiras. O Sistema Globo converteu-se no gerente corruptor e corruptível do medo político, econômico, social e moral da sociedade brasileira, sem exceção.” Assim, as organizações globo são totalmente incompatíveis com uma democracia de fato.

A violência operada pelos projetos políticos do governo golpista e seus sócios, concretizada nas medidas antipopulares e antinacionais em curso, nos desafiam à construção de novos caminhos, de forma ousada e revolucionária.


Que a greve geral seja o começo de uma revolução cidadã.