domingo, 20 de janeiro de 2019

UM PEQUENO RESUMO DO BOLSOGATE

O motorista mais famoso do Brasil e "vendedor de carros", que também é suspeito de homicídios quando policial, Fabrício Queiroz e sua filha tinham pedido exoneração dos gabinetes de Flávio e Jair Bolsonaro dois dias antes de o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitar ao Judiciário, em 15.10.2018, autorização para a Operação Furna da Onça. Essa operação denunciou 19 pessoas, entre elas 10 deputados e outras autoridades fluminenses por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Um relatório do COAF detectou movimentações atípicas na conta do motorista e assessor de Flávio Bolsonaro, o famoso Queiroz, no valor de 1,2 milhão de reais com o recebimento sistemático de transferências realizadas por sete funcionários que trabalharam no gabinete do deputado na Assembleia Legislativa do Rio. Entre essas movimentações havia um cheque no valor de 24 mil reais para a primeira-dama, a performática senhora Michele Bolsonaro.

Ademais, nova suspeita recaía sobre a filha de Queiroz, a "personal" Nathalia Melo. A moça era contratada em regime de 40 horas semanais no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília, com módico salário de 10 mil reais. Mas, a imprensa revelou que Nathalia exercia a profissão de personal trainer na cidade do Rio de Janeiro, onde prestava atendimento rotineiro em dias úteis e horário comercial.

Um pequeno detalhe para refrescar a memória: em 11 de janeiro de 2018, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou uma reportagem na qual "Wal" era  apontada como funcionária "fantasma"  de Bolsonaro. Embora funcionária da Câmara dos Deputados, em Brasília, trabalhava como vendedora de açaí em um estabelecimento comercial em Angra dos Reis. Reportagem da Folha foi ao local e encontrou  Walderice Santos da Conceição vendendo açaí durante o horário de expediente da Câmara. Ela confirmou à reportagem que trabalhava para o gabinete de Bolsonaro. Foi demitida depois que o caso veio à tona...

Retomemos. Agora, apareceram 48 depósitos fracionados na conta do senador eleito, Flávio Bolsonaro. Segundo livro publicado pelo então juiz e hoje ministro da justiça Sérgio Moro esse expediente é prática característica de lavagem de dinheiro e outros crimes. Sem esse tipo de prova e baseado em delações o juiz já prendeu muita gente.

E mais: um novo trecho do relatório do COAF sobre movimentações bancárias atípicas de Flávio Bolsonaro, aponta um pagamento de R$ 1.016.839,00 de um título bancário da Caixa Econômica Federal. O Coaf diz que não conseguiu identificar o favorecido. Também não há data e nenhum outro detalhe do pagamento, segundo informa o portal G1, sobre reportagem veiculada no Jornal Nacional na noite do sábado 19/01.

E no domingo, dia 20, nova bomba: o jornalista Lauro Jardim, em sua coluna, divulgou dados do Coaf que mostram uma movimentação do motorista Queiroz muito maior: foram R$ 7 milhões em três anos.

Não por acaso, o COAF que pertencia ao Ministério da Fazenda, desde a década de 1990, foi transferido para o ministério de Moro...

Até agora, passados quase dois meses das primeiras denúncias só temos personagens do governo Bolsonaro saindo pela tangente.

Nas redes sociais, devotos do presidente acusam o PT, falam de conspiração e pedem orações para o clã que ocupa o Palácio do Planalto.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Quem chega ao poder central com Bolsonaro

Desde a república velha não tínhamos, de forma tão visível, as elites brasileiras no centro do poder, como ocorre agora.

Nem com os militares, durante a ditadura, tivemos um poder tão concentrado nas mãos de prepostos das elites (os Bolsonaros, seus ministros e principais conselheiros). Os ditadores eram, pelo menos, nacionalistas.

O que caracteriza as elites brasileiras? São homofóbicas, machistas, racistas e antinacionais; sabujas das elites estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos. Não têm nenhum compromisso com a Nação e nosso povo.

De modo mais explícito, a partir 2013, as elites brasileiras se articularam em diversas frentes para a tomada do poder a qualquer custo. Afinal, não suportavam mais a pequena, mas importante, ascensão social dos trabalhadores, via consumo.

Conviver com os pobres é como conviver com vermes para as elites brasileiras. Essa é uma das marcas da mentalidade escravocrata dos abastados dessas plagas, desde os então (e não menos atuais) "bons cristãos", até os hoje autodenominados "cidadãos de bem".

Mas, como foi possível a tomada do poder sem, aparentemente, destruir o verniz democrático?

Em primeiro lugar é preciso dizer que essas elites (muito bem representadas no desdém de  Bolsonaro a práticas mínimas de civilidade) só conseguiram chegar ao centro do poder porque tiveram a parceria do sistema de justiça (historicamente serviçal da casa grande); contaram com a criminalização da política pela mídia nativa e com a participação estratégica de think tanks estadunidenses  que os ajudaram na difusão do ultraliberalismo, em contraposição ao estado social e às ideias de público e bem comum. O mantra difundido: só vale o individual e o privado... Até deus foi privatizado com a teologia da prosperidade.

Obviamente, tiveram na parcela da classe média conservadora (que faz qualquer negócio para manter seus privilégios) os principais divulgadores dessas idéias. O grupo conservador da classe média se associou a membros das elites nas passeatas domingueiras (financiadas com dinheiro de empresas e transmitidas ao vivo pela mídia), em 2013, e continua ativo, como percebemos com clareza nas vestimentas, coreografias, performances e gritos dos  que se encontram presentes na posse do capitão, em Brasília, nesse 1° de janeiro.

Ainda é preciso registrar o apoio doutrinário de setores religiosos conservadores que sempre estão atentos para se manterem e beneficiarem do poder.

É preciso destacar, também, que, desde 1985, quando governos liberaldemocratas e de esquerdas estiveram, no poder (central), além de lenientes com a ordem social historicamente perversa, não fizeram nenhuma reforma estrutural para mudar substancialmente a configuração secularmente desigual e injusta que desde sempre  determinou as relações sociais e de poder no Brasil. Por isso, quando veio a crise econômica, a partir de 2010, com o desemprego e a incapacidade de ampliação das políticas públicas restou ao povo a ira e a raiva (transformadas em potente instrumento de manipulação eleitoral, via redes sociais e fake news, nas eleições de 2018).

Obviamente, como já descrevemos em outro artigo, a parceria entre as elites financiadoras da ruptura democrática (banqueiros, latifundiários, rentistas e empresários) que se associaram ao sistema de justiça, aos militares e ao segmento religioso ultraconservador criaram as condições para essa nova configuração ultraliberal, autoritária e de viés teocrático tão bem encarnada na figura de Bolsonaro.

Portanto, com o capitão no poder, as elites nacionais conseguem seu intento de maneira inusitada: utilizando-se dos mecanismos da democracia procedimental, haja vista que mesmo com todas as evidências e os seguidos arrombos democráticos desde 2013 (entre os quais a retirada de Lula da disputa por um juiz que se tornou ministro do preposto dessas elites), o PT e as esquerdas toparam participar da disputa eleitoral, "com o Supremo, com tudo".

Bolsonaro é o preposto dos sonhos das elites tupiniquins. Agora, é hora de avaliar o passado, reconstruir a unidade dos setores democráticos no presente e lutar por um futuro digno para os brasileiros.