domingo, 13 de março de 2016

Ditadura do Judiciário

Sem desdenhar os protestos ocorridos em 13/03 (até porque o direito à manifestação deve ser respeitado), uma primeira conclusão podemos chegar após o encerramento dos atos públicos: apesar de pequeno aumento no número de participantes, a base social das manifestações, não obstante o maciço investimento midiático e judicial na sua promoção e convocação, não aumentou significativamente. Observamos, majoritariamente, o mesmo segmento mais obtuso da classe média, sem novas adesões... 

A novidade é que diminuíram as demandas do tipo "intervenção militar", mas aumentaram aqueles que rejeitam todo o sistema político. Bolsonaro e Moro foram as vedetes. Com o sistema político em frangalhos, os radicais de direita poderão capitalizar esses segmentos da classe média sem referência. Oportunidade para "salvadores da pátria" se apresentarem no cenário...

A questão da classe média é complexa. Lula foi eleito com o apoio dessa classe. Parte dos eleitores da classe média decepcionou-se com o PT e alguns bandearam para o radicalismo de direita. Acontece, que sem o apoio da classe média um governo dificilmente se sustenta.



Fonte: Datafolha, 14/03


Há, ainda, uma janela de oportunidade, talvez a última, para Dilma Rousself liderar uma guinada à esquerda, criando condições objetivas para que os trabalhadores (que até agora assistem passivos) possam entrar como atores decisivos nesse jogo de disputas reais e simbólicas.

Ou, numa saída mais liberal-democrática: uma recomposição negociada do sistema político, com líderes de diversos partidos, criando condições mínimas de governabilidade. Na democracia representativa há que se restabelecer a legitimidade das instituições: partidos, governos, etc.

Por outro lado, a coalizão de direita, mesmo sem controle de seus seguidores (vejam os atos hostis contra Aécio e Alckmin, na Paulista do Texas brasileiro e contra Malafaia, em Brasília) mais cedo ou mais tarde poderá virar o jogo. Não se pode projetar as consequências de uma ruptura democrática.

Aliás, para mim, o fato político mais relevante dessas manifestações, pelo seu simbolismo, foi a expulsão de Aécio e Alckmin da Avenida Paulista. Fica evidente que parte dos manifestantes, majoritariamente da classe média, já não aceitam a liderança desses dois políticos. Mas, o grave problema nesse fato é que para muitos a saída é no campo judicial e policial e não no campo político. Um erro sem tamanho e com consequências imprevisíveis...

Um elemento na análise que merece toda a atenção. Os passos dados por Janot (o rei do xadrez) e Moro nas próximas semanas poderão liquidar o jogo e não se sabe qual lado sairá vencedor. E, o pior: se o lado vencedor terá legitimidade e condições objetivas para governar. 

Hoje, o jogo está muito mais nas mãos desses dois atores do judiciário (altamente políticos) que poderão definir os rumos da crise. 

Muitos segmentos sociais, como as elites da OAB, MP e Judiciário e das polícias; políticos denunciados por corrupção de variados partidos; mídia e segmentos conservadores da classe média querem uma saída judicial e policial. Mas, a única saída possível na democracia é o fortalecimento das instituições, seus atores, com vistas a um pacto negociado, sem interrupção da ordem institucional. O resto é golpe... 


Lembrar de Ruy Barbosa é importante: "a pior ditadura é a do judiciário".

Atualizado em 14/03
Atualizado em 28/03