segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O que temer em Temer?


Chargista Casso - Imagem da Internet

É ingênuo pensar que Temer é o grande articulador e tem sob controle a empreitada golpista. Muito pelo contrário, a personalidade cambiante do interino é, ao mesmo tempo, o grande perigo para a democracia e a maior vantagem para a coalizão usurpadora. Não poderia haver um político mais “perfeito” para servir como preposto dos verdadeiros donos do poder e mentores do golpe.  

Explico. A coalizão golpista, como já refletimos várias vezes, é formada pelos segmentos historicamente comprometidos com um modelo de país que garante a cidadania para apenas 25% da população. São os coronéis da velha política (liderados por figuras como Aécio, FHC, Cunha, Renan e os líderes da bancada BBB – boi, bíblia e bala), os empresários com mentalidade colonial, a mídia manipuladora e a serviço do capitalismo internacional e amplos segmentos autoritários, elitistas e altamente conservadores do judiciário, ministério público (e outros grupos jurídicos) e da classe média saudosa dos privilégios da casa grande.

Essa coalizão tem apoio internacional, pois é fundamental para o modelo capitalista manter países do porte do Brasil como colônias extrativistas. Por isso, as disputas em torno do pré-sal, da biodiversidade e da água doce. E um chanceler como Serra é como mel na chupeta para servir aos interesses alienígenas.

É neste contexto que devemos analisar a figura do interino. Sua maior qualidade para os mentores e executores do golpe é justamente sua grande fraqueza. Temer não tem o mínimo controle do governo; está nas mãos de figuras como Cunha, Padilha, Jucá, os caciques tucanos, coronéis do PMDB, banqueiros e empresários sanguessugas. É incapaz de gerenciar uma coalizão com tanto apetite e sanha em destruir o pouco que foi conquistado pelo povo desde a Constituição Federal de 1988. 

Guardadas as devidas proporções, o interino é uma espécie de mamulengo, um boneco que faz a mediação entre o povo, que deve ser distraído (porque ainda não sentiu no bolso os efeitos das medidas do governo de plantão) enquanto os operadores do golpe colocam em ação o projeto de governo e de país que tomou bomba nas quatro últimas eleições. Às favas a democracia!

Assim como os militares cumpriram o papel de “testa de ferro”, durante os 21 anos da ditadura, Temer, agora, exerce a função de excelente preposto das mesmas elites antidemocráticas deste país, de ontem e de hoje. Com uma vantagem: assunto ao poder por vias tortuosamente legais, com a anuência suprema (como também ocorreu durante a ditadura), Temer dá ares de legalidade a todo o processo golpista.

Por outro lado, é justamente essa fraqueza que torna o governo até agora interino muito perigoso à democracia. Um governante fraco e cambiante é facilmente controlado; é prontamente convencido, pelos verdadeiros dono do poder, a tomar medidas autoritárias e perversas, em nome da “lei e da ordem” (essa invenção dos ricos e poderosos incrustados nos parlamentos e no judiciário para oprimir, reprimir e controlar o povo). Alexandre de Moraes que o diga...

Quando exigimos a volta de Dilma não estamos desconsiderando esse cenário complexo no qual a correlação de forças, no momento, favorece o grupo que tomou de assalto o poder. O retorno de Dilma é condição para que não aconteça uma ruptura democrática. Mas, mesmo que a presidenta legítima retome seu mandato, uma utopia, não nos enganemos acerca da colossal capacidade de pauta e de veto da coalizão golpista.

Aliás, desde a metade do segundo mandato de Dilma, a presidenta já vinha cedendo ao grupo golpista, que se robusteceu a partir das jornadas de junho de 2013 e consolidou-se nas eleições de 2014.  Diferentemente dos políticos tradicionais, Dilma, num determinado momento, deu um “basta” ao grupo que impunha um caráter conservador ao seu governo. Desde então, foi vítima de chantagem e, posteriormente, do impeachment fajuto; essa invenção mal-ajambrada que os usurpadores articularam para arrombar nossa democracia.

No momento atual, enquanto os olhos do mundo estão voltados para o Brasil por causa das Olimpíadas, os líderes da coalizão no poder agem para manter certa aparência de normalidade. Não perceberam, por exemplo, que já perderam a narrativa internacional acerca do golpe. Como têm como sócios estratégicos os donos da mídia, creem que poderão tamponar todas as formas de resistência. Afinal, quando não há pudor nem temor, a barbárie humana não tem limites. A história é repleta de exemplos...

Mas, não tenhamos dúvida: sacramentado o golpe, quando setembro vier, a política dos fins que justificam os meios estrará em campo com todo o vigor para o deleite dos grupos que historicamente sempre trataram este país e seu povo como seus serviçais.