É ingênuo pensar que Temer é o
grande articulador e tem sob controle a empreitada golpista. Muito pelo
contrário, a personalidade cambiante do interino é, ao mesmo tempo, o grande perigo
para a democracia e a maior vantagem para a coalizão usurpadora. Não poderia
haver um político mais “perfeito” para servir como preposto dos verdadeiros
donos do poder e mentores do golpe.
Explico. A coalizão golpista, como já
refletimos várias vezes, é formada pelos segmentos historicamente comprometidos
com um modelo de país que garante a cidadania para apenas 25% da população. São
os coronéis da velha política (liderados por figuras como Aécio, FHC, Cunha,
Renan e os líderes da bancada BBB – boi, bíblia e bala), os empresários com
mentalidade colonial, a mídia manipuladora e a serviço do capitalismo
internacional e amplos segmentos autoritários, elitistas e altamente
conservadores do judiciário, ministério público (e outros grupos jurídicos) e da
classe média saudosa dos privilégios da casa grande.
Essa coalizão tem apoio internacional,
pois é fundamental para o modelo capitalista manter países do porte do Brasil
como colônias extrativistas. Por isso, as disputas em torno do pré-sal, da
biodiversidade e da água doce. E um chanceler como Serra é como mel na chupeta
para servir aos interesses alienígenas.
É neste contexto que devemos
analisar a figura do interino. Sua maior qualidade para os mentores e
executores do golpe é justamente sua grande fraqueza. Temer não tem o mínimo
controle do governo; está nas mãos de figuras como Cunha, Padilha, Jucá, os
caciques tucanos, coronéis do PMDB, banqueiros e empresários sanguessugas. É
incapaz de gerenciar uma coalizão com tanto apetite e sanha em destruir o pouco
que foi conquistado pelo povo desde a Constituição Federal de 1988.
Guardadas as devidas proporções, o interino é uma espécie de mamulengo, um boneco que faz a mediação entre o povo, que deve ser distraído (porque ainda não sentiu no bolso os efeitos das medidas do governo de plantão) enquanto os operadores do golpe colocam em ação o projeto de governo e de país que tomou bomba nas quatro últimas eleições. Às favas a democracia!
Guardadas as devidas proporções, o interino é uma espécie de mamulengo, um boneco que faz a mediação entre o povo, que deve ser distraído (porque ainda não sentiu no bolso os efeitos das medidas do governo de plantão) enquanto os operadores do golpe colocam em ação o projeto de governo e de país que tomou bomba nas quatro últimas eleições. Às favas a democracia!
Assim como os militares cumpriram
o papel de “testa de ferro”, durante os 21 anos da ditadura, Temer, agora,
exerce a função de excelente preposto das mesmas elites antidemocráticas deste
país, de ontem e de hoje. Com uma vantagem: assunto ao poder por vias
tortuosamente legais, com a anuência suprema (como também ocorreu durante a ditadura),
Temer dá ares de legalidade a todo o processo golpista.
Por outro lado, é justamente essa
fraqueza que torna o governo até agora interino muito perigoso à democracia. Um
governante fraco e cambiante é facilmente controlado; é prontamente convencido,
pelos verdadeiros dono do poder, a tomar medidas autoritárias e perversas, em
nome da “lei e da ordem” (essa invenção dos ricos e poderosos incrustados nos
parlamentos e no judiciário para oprimir, reprimir e controlar o povo).
Alexandre de Moraes que o diga...
Quando exigimos a volta de Dilma
não estamos desconsiderando esse cenário complexo no qual a correlação de
forças, no momento, favorece o grupo que tomou de assalto o poder. O retorno de
Dilma é condição para que não aconteça uma ruptura democrática. Mas, mesmo que
a presidenta legítima retome seu mandato, uma utopia, não nos enganemos acerca
da colossal capacidade de pauta e de veto da coalizão golpista.
Aliás, desde a metade do segundo
mandato de Dilma, a presidenta já vinha cedendo ao grupo golpista, que se
robusteceu a partir das jornadas de junho de 2013 e consolidou-se nas eleições
de 2014. Diferentemente dos políticos
tradicionais, Dilma, num determinado momento, deu um “basta” ao grupo que
impunha um caráter conservador ao seu governo. Desde então, foi vítima de
chantagem e, posteriormente, do impeachment
fajuto; essa invenção mal-ajambrada que os usurpadores articularam para
arrombar nossa democracia.
No momento atual, enquanto os olhos
do mundo estão voltados para o Brasil por causa das Olimpíadas, os líderes da
coalizão no poder agem para manter certa aparência de normalidade. Não perceberam,
por exemplo, que já perderam a narrativa internacional acerca do golpe. Como têm
como sócios estratégicos os donos da mídia, creem que poderão tamponar todas as
formas de resistência. Afinal, quando não há pudor nem temor, a barbárie humana
não tem limites. A história é repleta de exemplos...
Mas, não tenhamos dúvida:
sacramentado o golpe, quando setembro vier, a política dos fins que justificam
os meios estrará em campo com todo o vigor para o deleite dos grupos que
historicamente sempre trataram este país e seu povo como seus serviçais.
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