Foto: Mark Humphrey/ AP |
O fato político mais relevante
desses últimos dias não foi a revelação das propinas recebidas pelo interino e
seu ministro das relações exteriores. Apesar do desdém da mídia nativa - manipuladora
e venal -, o acontecimento mais importante, repleto de sentidos e significados,
ocorreu na abertura dos jogos olímpicos, na última sexta-feira (05/08). Aos olhos do
mundo, o golpe apareceu retumbante não nas vaias ao interino, mas na absoluta
ausência de chefes de estado e de governo na cerimônia, no Maracanã (veja também, aqui).
A disputa pela narrativa do golpe
foi abafada violentamente no país. A coalização golpista - envolvendo líderes políticos,
o Parlamento, a mídia, parte do empresariado, do judiciário e dos
setores retrógrados da classe média - tentou a todo o custo impedir que os
brasileiros percebessem o golpe à democracia, travestido no processo de
impedimento de Dilma Rousseff. Pesquisas de opinião já comprovavam, na semana
anterior, que o povo não engoliu o engodo. A rejeição ao governo de plantão é
colossal.
Mas, a prova dos nove seria a
recepção da comunidade internacional ao governo interino. Apesar dos esforços
do Itamaraty em relativizar a possível ausência de líderes, muitos sinais externos já evidenciavam a rejeição
dos democratas de todos os países a Temer e seu gabinete.
Mas, a reportagem do jornalista
Jamil Chade do Estadão (aqui) caiu como um torpedo na cabeça dos golpistas. O repórter, único a
adentrar na área reservada às autoridades internacionais, constatou a derrota
colossal, vergonhosa, estupenda do interino, seu chanceler e seu governo. Somente 18 chefes
de estado presentes. Alguns, como Hollande, vieram para cumprir protocolo,
porque a França tem interesse em sediar os jogos olímpicos no futuro. Outros,
porque são membros do Comitê Olímpico Internacional. Os poucos presentes eram
de países sem relevância no concerto das Nações. A ausência dos líderes dos
BRICS, por exemplo, deixa claro o estrago que um golpe provoca nas relações
internacionais. Da América Latina, nossos vizinhos, somente o argentino Macri,
cujo governo retrógrado, conservador, autoritário e entreguista comunga com a
turma do governo de plantão no país.
E como se não bastasse tamanho desdém da
comunidade internacional, os poucos líderes presentes evitaram se encontrar com
Temer. E mais: para a humilhação final e apoteótica, como um tiro de
misericórdia, autoridades convidadas a ocuparem a área reservada ao presidente
interino recusaram a “honraria”. Segundo o jornalista que descreveu a
constrangedora cena, “o governo brasileiro tentou
convidar os poucos líderes a ficar no principal camarote, ao lado de Michel
Temer, presidente interino. Sem sucesso, o local foi preenchido por diversos
ministros do governo e autoridades municipais e do governo do
estado. Antes mesmo de terminar o evento e logo depois do desfile da
delegação da França, o presidente François Hollande deixou o Maracanã, à francesa”.
Hollande saindo à francesa. Um
tapa na cara seria menos dolorido...
A foto do interino na abertura, solitário e
desconcertado, sendo ladeado pelos amigos da empreitada golpista, mostrava o
isolamento do governante de plantão...
Esse acontecimento, ignorado pela
emissora oficial do golpe e pela mídia nativa e que só foi revelado pela
reportagem do Estadão, por incrível que pareça, não deixa nenhuma dúvida. Os
democratas que estão lutando em prol da democracia no país ganharam a narrativa
acerca do golpe. Independentemente do resultado da votação do impeachment pelo Senado - o jogo jogado
de políticos interesseiros que envergonham qualquer Nação -, a posteridade saberá o que
ocorreu neste país quando uma turba tomou de assalto o poder, à revelia da deliberação
popular.
Os apoiadores da sociedade
democrática – que se baseia na prevalência da vontade expressa das maiorias –
conseguiram sufocar aos olhos do mundo o golpe imposto por um grupo que a todo custo tenta solapar a
democracia. Na disputa sobre quem serão os verdadeiros autores da História, o round internacional, ocorrido na abertura das olimpíadas, foi vencido por nocaute pelos
defensores da democracia.
Realmente esta reação nos dá esperança de que o golpe foi escancarado à comunidade internacional e não obteve a adesão ou complacência esperada. Mas é aí? Em que isso potencializa nossas chances de reação?
ResponderExcluirBOA, MARCIA!
ResponderExcluirSim, só que isso não impedirá o Senado de chancelá-lo. E a posteridade não basta - e duvido que importe para o Temer ou para os malditos que apoiam o golpe. Talvez importe para o Laranjinha, o filho dele, que vai ter de esconder para sempre a própria origem, mas isso também não basta.
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