Charge: Aroeira |
Todos sabemos do papel decisivo
das organizações globo no processo de ruptura democrática que resultou na
assunção da maior quadrilha de saqueadores do erário, desde Cabral, o original.
Como escreveu o professor Wanderley
Guilherme dos Santos, “o que fazer com o sistema globo de comunicação é um dos
mais difíceis problemas a solucionar pela futura democracia brasileira. A
capacidade de fabricar super-heróis fajutos, triturar reputações e transmitir
versões selecionadas e transfiguradas do que acontece no mundo, lhe dá um poder
intimidante a que se foram submetendo o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário. A referência aos três poderes constitucionais da República resume a
extensão do controle que o Sistema Globo detém e exerce implacavelmente, hoje,
sobre toda e qualquer organização ou cidadão brasileiro. ”
De fato, as organizações globo
não satisfeitas com o monopólio da pauta dos três poderes, através da imposição
de agendas que definem a ação e/ou reação dessas instâncias, resolveu (a partir
de 2014) investir noutra estratégia: como ocorrera com sucesso em 1964, foi
feito todo um investimento com vistas a colocar a classe média nas ruas para
dar o respaldo ao golpe.
Certos de que pela via eleitoral
os históricos capangas da democracia e da cidadania brasileiras, os velhos e os
neocoronéis da política tupiniquim, não chegariam ao poder, as organizações
globo utilizaram-se da sua emissora, a TV globo, para investir fortemente no
aliciamento dos setores conservadores e de direita que comungam dos mesmos
interesses, percepções e desejos: uma sociedade de e para poucos. Assim, criariam,
mesmo que artificialmente, a justificativa para o sopapo parlamentar-jurídico-empresarial
e elitista.
Como fizera em 1964 as Forças
Armadas e as elites da Igreja Católica, a globo inicialmente empenhou-se numa
ampla campanha para aflorar os sentimentos de medo, ansiedade e inquietação na
sociedade; depois, utilizou em doses cavalares do jornalismo para injetar o
veneno do ódio contra os segmentos que pleiteiam uma sociedade mais justa e
igualitária, encarnados no Partido dos Trabalhadores e nas políticas públicas
de ampliação da cidadania implementadas na última década. Com essa estratégia,
o braço televisivo das organizações globo conseguiu agregar nas manifestações
domingueiras o suprassumo do fascismo nacional: os setores conservadores,
ultraconservadores e de mentalidade escravocrata da classe média, as
corporações dos filhos dessas elites (principalmente castas dos setores da
advocacia, justiça e medicina) e, como sempre acontece nos episódios de
manipulação de massas, os bobos da corte ludibriados pela cantilena do combate
à corrupção. Emanados em máximas do tipo “primeiro tiramos Dilma, depois...”, milhões
ocuparam as ruas impulsionados pelas transmissões ao vivo, glamorosas, da
emissora oficial do golpe.
Ora, a estratégia de vitaminar as
manifestações domingueiras era a cortina de fumaça a ser criada para justificar
o golpe parlamentar e sua posterior sacramentalização pela justiça. Era preciso
bradar que a sociedade clamava por mudança e que tal mudança significava apear
a presidente legítima do poder e entronizar Temer e sua camarilha. Ou seja, o
bando desqualificado de larápios no parlamento e os capapretas do Supremo
precisariam respaldar o assalto à Constituição pelos “clamores das ruas”, como
mostrava aos quatro cantos a TV globo.
A máfia platinada percebeu que
somente com tal desculpa esfarrapada conseguiria consolidar o bando político no
poder.
E é justamente pelo mesmo motivo
que nunca, jamais e nem nos sonhos a Tevê globo transmitirá espontaneamente
qualquer manifestação popular contra Temer. Afinal, não será a globo que criará
as condições a desencadearem manifestações e revoltas populares com vistas a
destronar aqueles que a ela servem. Só um idiota não percebe isso...
A globo é a verdadeira saúva que
destrói sistematicamente a democracia no Brasil. Desde sua criação, na década
de 1960, com o apoio e dinheiro dos Estados Unidos e as bênçãos das elites
nacionais, as organizações globo têm como único fundamento servir aos
interesses de tais grupos.
O professor Wanderley Guilherme
dos Santos aponta uma saída: “O que há a
fazer é expropriar politicamente o Sistema Globo de Comunicações, mantendo-o
autônomo em relação aos governos eventuais (ou frentes ideológicas de
infiltradas sanguessugas autoritárias), e implodir as usinas editoriais e
jornalísticas do medo e de catástrofes emocionais, restituindo isenção aos
julgamentos de terceiros. ”
Poderia ser um caminho...
Mas, é fato que no momento atual,
as esquerdas e os setores comprometidos com uma democracia inclusiva devem
focar seus esforços no Fora Temer, exigindo novas eleições de imediato e a retomada
de uma democracia pelo menos procedimental.
Mas, não nos enganemos: tão
importante como eleições diretas para dar legitimidade ao governo, três
reformas são fundamentais para desmontar as estruturas que conspiram contra o
povo brasileiro: além da evidente reforma do sistema político, uma reforma do
sistema de justiça (historicamente comprometido com a Casa Grande) e uma
reforma que permita um sistema de comunicação público, com a quebra dos oligopólios
midiáticos, principalmente o desmonte da organização que é o maior e mais
poderoso perigo à nossa democracia: a globo.
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