Fonte: Internet |
Nos últimos catorze anos o Brasil
viveu uma grande festa democrática. Inclusão social, eliminação da pobreza
extrema, crescimento da economia, distribuição de renda, inúmeras conferências
de políticas públicas, povo na rua protestando e reivindicando direitos. “Nunca
antes na história desse país” se respirou tanta liberdade, participação,
diversidade e múltiplas vozes e cores despontando de todos os cantos desse
país. Era uma festa demasiadamente contagiante para os gostos de uma elite
ranzinza e azeda, como dizia Darcy Ribeiro.
Os governos do PT, de Lula e
Dilma, apesar das muitas desventuras, proporcionaram a maior e mais duradoura
festa democrático-popular do Brasil.
Essa festa está no ocaso. Paradoxalmente,
deu seus últimos acordes naquela celebração da diversidade cultural, quando do
encerramento da grande confraternização universal por ocasião dos jogos
olímpicos.
A Copa do Mundo e as Olimpíadas
foram um sucesso. É claro que o Brasil tem muitos problemas. Mas, alegria e
confraternização estão na alma do nosso povo e é bom celebrar. E só um cego que
não quer ver, um fundamentalista de má-fé ou um fascista não reconhecem os
principais atores responsáveis por esses feitos: Lula e Dilma. O povo sabe do
papel decisivo de ambos e não há quem furte essas páginas e seus autores dos
registros da história.
Uma das poucas vezes, em mais de
cinco séculos, o espírito de vira-latas do brasileiro foi superado e o país
passou a ser respeitado e valorizado no concerto das nações. E foi por causa desse respeito e reverência
que Lula, como um hábil embaixador, conseguiu trazer a Copa do Mundo e as
Olimpíadas para o país.
É preciso dois registros aqui: o
primeiro, um repúdio veemente à mídia nativa, pífia e antinacional, que o tempo
todo, antes da Copa e das Olimpíadas, jogou o país pra baixo e desdenhou da
potencialidade deste povo, sempre a destacar o lado ruim dos eventos e, como
ave agourenta, a projetar a catástrofe e o vexame. A mídia, essa sim, tem
espírito, corpo e alma de vira-lata. Melhor dizendo, tem espírito de porco. É
um atraso para o país.
Depois, é preciso dizer em alto e
bom som que foi um presidente nordestino, operário e pouco escolarizado que
teve a coragem de acreditar na capacidade do seu povo de realizar os dois
eventos. Nunca antes um mandatário das elites teve essa coragem. As elites, de
um modo geral, não acreditam no país e em seu povo. Ao contrário, têm vergonha
do Brasil.
Aliás, um bom retrato das elites
no poder pode ser sintetizado na figura do atual chanceler, José Serra. Como um
poodle diplomático, rosna para os vizinhos latino-americanos e abana o rabinho
para os norte-americanos. Certamente, ele e o governo golpista são gratos aos
amigos do Norte que treinaram Moro e a turma do MP na empreitada para acabar
com o Brasil, suas empresas, suas instituições políticas e a nossa democracia.
Lula, como já nos referimos em
outro post (aqui),
sempre trabalhou com a possibilidade da conciliação entre os ricos e os pobres.
E não dimensionou o rancor, o ódio, a cobiça e a perversidade das elites (econômicas,
sociais, políticas, jurídicas, midiáticas, religiosas) dessa Terra de Santa
Cruz. Essas elites, quando estavam ganhando muito nos tempos das vacas gordas,
com a economia em ascensão, suportaram os pobres nos aviões, nos shoppings
centers e nas universidades. Mas, o tempo da reconciliação de mentirinha foi-se
embora quando uma crise econômica adveio e a coalizão golpista e rancorosa resolveu
violentar até os mais elementares pilares da democracia, o eleitor e o voto,
para tomar de assalto o poder.
Agora, os estrangeiros – que
sabem do golpe no país, porque essa narrativa foi vencida pelos democratas
daqui com a ajuda da mídia de acolá – voltam para suas plagas. E o Brasil,
depois dessa primavera, viverá seus dias de rigoroso inverno.
Quando setembro vier, os líderes
da coalizão golpista imporão a fórceps o plano que foi reprovado nas quatro
últimas eleições. Sem nenhum vínculo com o povo, porque não foram eleitos, os
golpistas não têm qualquer compromisso com a democracia, com a Constituição e o
estado de direito. E, como não temos a quem recorrer - nesses tempos de
judiciário partidarizado, além de historicamente seletivo e elitista -, fica a
pergunta: como será o amanhã?
“Ordem e progresso” foi o lema escolhido pelo interino. É o mesmo
lema do grupo que criou, também à força, nossa república. Naquele 1889, os
donos da Casa Grande, descontentes com o Imperador - que não aceitava mais ser
preposto dos latifundiários e dos militares – articularam o golpe e, triste
coincidência, o povo ficou sem entender o que acontecia.
Para dar ares de modernidade e
superação do antigo regime, esse lema positivista, autoritário e conservador
foi criado para disfarçar os verdadeiros interesses golpistas, de ontem e de
hoje: opressão aos pobres e trabalhadores, criminalização dos movimentos
sociais e a ação arbitrária para controlar e aniquilar os inimigos criados
artificialmente.
Assim, nossa república, desde seu
nascimento, foi “coisa pública” em pouquíssimos momentos; na maioria do tempo
foi coisa de e para alguns. Desses mesmos que agora estão no poder via um golpe
a ser sacramentado no senado, à la Catilina.
A política do mocinho e do
bandido está de volta. O ministro da Justiça do governo golpista, o tucano
Alexandre de Moraes, nesses últimos dias, não poupou críticas às políticas de
segurança pública baseadas em inteligência, diagnóstico e estudos. Defendeu, na
contramão da história e do conhecimento, que os gastos do setor devem ser
alterados para priorizar a compra de equipamentos bélicos. O passado recente de
Moraes, sua atitude de beligerância com estudantes e movimentos populares,
deixa evidente que o governo golpista adotará a política de confronto e de
contraposição de forças. Quanta arrogância pensar que a batalha política se
vence com a força das armas.
A metodologia para sustentar um
empreendimento que surge com tanta violência, hipocrisia e manipulação é o uso
da velha estratégia do controle social, via ação policial. E é isso, muito
provavelmente, que fará, em doses cavalares, o governo ilegítimo daqui pra
frente.
A festa da democracia acabou. Resta-nos,
altivos, a resistência democrática.
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