Nesse país, as instâncias superiores do judiciário (que poderiam controlar arroubos autoritários de magistrados eivados de interesses) estão covardemente amedrontadas, imobilizadas e/ou submissas ao supremo tribunal midiático e reféns da opinião publicada.
Plutocratas e privilegiados vomitam discursos de ódio, vingança e morte repercutidos em doses cavalares pela imprensa que enterrou os fundamentos do jornalismo e atua como um partido político conservador.
Junte-se, aqui, o aparato de repressão, historicamente constituído para a manutenção do establishment, a agir, também, de forma seletiva e repressora contra movimentos e lideranças sociais e todos aqueles que ousam denunciar esse estado de coisas.
E a leis? As leis são meros instrumentos discricionários, usadas pelas elites de uma juristocracia que se posta acima do bem e do mal, para proteger uns e incriminar, perseguir, amedrontar e, no limite, eliminar outros, seletivamente.
Esse é o Brasil atual.
Aqui, observamos uma coalizão que se articulou a partir das jornadas de junho de 2013, revigorou-se após o pleito de 2014 e, em meio à crise econômica, conseguiu os ingredientes ideais para avançar no inimaginável: emplacar um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, conforme a perícia feita por técnicos do Senado Federal e divulgada nessa semana.
Alavancada por um complô
político-parlamentar liderado por políticos vingativos, sem escrúpulos e pueris,
tendo o apoio incondicional da mídia, serviçal do rentismo global, de uma justiça
seletiva, além de empresários e banqueiros de visão colonialista e autoritária,
essa coalizão determinou um enredo: o “jogo jogado” da deposição da presidenta,
de forma inescrupulosa e violenta.
Com a conivência e/ou a omissão não
menos conivente de segmentos da classe média, grupos de privilegiados ávidos de
vingança a vociferarem palavras de ódio em relação à ascensão social dos
empobrecidos, essa coalizão venceu o primeiro round da disputa e encontra-se insaciável pela deposição definitiva
de uma presidente democraticamente eleita.
A coalização político-midiática-empresarial-policialesca-jurídica ao invés de apresentar um projeto de governo para o país e disputá-lo nas urnas, reimplanta, a fórceps, uma república dos homens de ben$: um governo à serviço do mercado.
O presidente interino não deixa dúvidas
acerca dos negócios que representa: ao enviar a Medida Provisória de número 726/2016
ao Congresso deixou claro que seu projeto de poder está alicerçado na extinção
de todas as políticas voltadas para a pauta da ampliação dos direitos, assim
como a promoção da diversidade sexual e étnica. Para atender aos interesses dos
atores mais conservadores destas plagas, tal medida tratou de extinguir todas
as secretarias de promoção de direitos e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário com a desculpa esfarrapada de economia dos gastos públicos.
Covardemente, na sequência, aquele que bradava acerca da necessidade de
economia concedeu aumentos expressivos aos segmentos mais privilegiados e
abastados das carreiras burocráticas e do judiciário. Simbolicamente é como dizer
para o povo: de agora em diante, “aos amigos ricos o favor da lei; aos pobres,
o rigor da lei.”
Militares já estão à espreita para entrarem em cena, conforme pode-se observar no decreto 8.793, de 29/06, assinado pelo interino Michel Temer e pelo Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Sergio Westphalen Etchegoyen, o general que afirmou que o trabalho da Comissão Nacional da Verdade foi patético e leviano (veja aqui).
As medidas regressivas na área social
emanadas por um governo ilegítimo, conservador e elitista, apoiado por um
Congresso absolutamente dominado por interesses privados e de mercado e um
judiciário refém da mídia e da opinião publicada, numa sociedade assolada pela
abissal desigualdade social, são tão violentas e autoritárias como a violência das
armas nas ditaduras.
Nesta semana, o interino, na
iminência de revoltas populares que poderiam pipocar a partir da perda de
direitos de beneficiários de programas sociais, resolveu lançar um fantasioso “saco
de bondades”. Mas, qualquer analista minimante atento sabe: um governante que
não tem escrúpulo de se reunir clandestinamente com um deputado submerso na
lama da corrupção não terá nenhuma inquietação em fazer qualquer negócio para
garantir seu mandato por mais um ano e meio. E apoiado pelo Congresso mais atrasado
e pífio da nossa história, poderá destruir o pouco que foi construído nos
últimos anos em termos de proteção, assistência, promoção e amparo social. Sobram-lhe
parceiros com a mesma índole nas duas casas legislativas do Congresso.
Para fechar a semana com a “chave de
ouro dos usurpadores” tivemos a notícia que o PSDB não se empenhará na cassação
de Eduardo Cunha. O que era dúvida agora é inquestionável. Os tucanos entrarão
para a história como o partido que nasceu socialdemocrata e se tornou golpista,
antissocial e de direita. Seus líderes atuais, enlameados até o pescoço, já não
têm nenhum escrúpulo e pudor em acobertar quaisquer alianças alicerçadas nos
fins (o poder a qualquer preço), independentemente dos meios.
Infelizmente, os "bons e mansos
cristãos da terra de Santa Cruz”, que sempre estiveram alijados das discussões
políticas (porque foram levados a acreditar no conto da carochinha segundo o
qual política é coisa suja) aceitam cabisbaixos, ainda, e salvo alguns grupos
sociais, o açoite que brota robustecido da casa grande, como ocorria
outrora.
Os golpistas fiam-se na velha estratégia da "paz dos túmulos”. Mas, golpistas não passarão!
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