As
novas ações midiáticas patrocinadas pela juristocracia tupiniquim (desta vez
tendo à frente um pupilo da tresloucada autora do pedido de impeachment), recolocam no debate a
questão acerca dos maiores interessados no golpe, esse estupro à democracia
brasileira. Cada vez fica mais claro que, para além dos pastelões, corruptos e
fanfarrões que abundam no Congresso e no governo interino, os verdadeiros interessados no imediato retorno de nosso país à velha
categoria das repúblicas das bananas são os ricos e poderosos. Por isso, é
fundamental entendermos o que está por detrás do jogo jogado do impeachment fajuto.
Giorgio Agamben, um dos principais
intelectuais contemporâneos, professor em diversas universidades europeias e
norte-americanas explicou, em entrevista recente (leia na íntegra, aqui),
como funciona a atual fase do capitalismo (concentrador de riqueza, fundamentalmente
rentista e excludente, que move todos os interesses, inclusive a determinar os
rumos da política e da vida das pessoas). Agamben foi definido pelo Times e pelo Le Monde como uma das dez mais
importantes cabeças pensantes do mundo. Sua obra, influenciada por Michel
Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura,
poesia e, fundamentalmente, política.
O filósofo Giorgio Agamben |
Quando
lemos com atenção algumas considerações de Agamben sobre a democracia, por
exemplo, entendemos com mais clareza o que está por detrás de afrontas à
cidadania em várias partes do mundo, como o golpe em curso no país. Para ele, “a
nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se
define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo
significava em Atenas”.
Para
manter um empreendimento dito democrático e que, paradoxalmente, produz imensa
concentração de renda e riqueza nas mãos do 1% mais ricos em detrimento à dignidade
da absoluta maioria das pessoas, o capitalismo, atualmente, sobrevive da
fabricação de crises: “Crise e economia atualmente não são usadas como
conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com
que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para
aceitar. “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer! ”.
Neste
sentido, explica Agamben, “é preciso tomar ao pé da letra a ideia
de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião,
e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não
conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja
liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro. Deus não morreu, ele se tornou dinheiro. ”
Nos
dizeres do professor Ladislau Dowbor, "a expansão dos lobbies, a compra dos políticos, a invasão do judiciário, o
controle dos sistemas de informação da sociedade e a manipulação do ensino
acadêmico representam alguns dos instrumentos mais importantes da captura do
poder político geral pelas grandes corporações. Mas o conjunto destes
instrumentos leva em última instância a um mecanismo mais poderoso que os
articula e lhe confere caráter sistêmico: a apropriação dos próprios resultados
da atividade econômica, por meio do controle financeiro em pouquíssimas mãos."
Ademais,
a associação entre os grandes oligopólios do capitalismo internacional com a manipulação
da mídia, serviçal desses grupos, naturaliza todo o tipo de violência real e
simbólica contra a democracia: “É mais simples manipular a opinião das
pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade
as próprias decisões com a violência. ”
No
caso brasileiro, a liturgia formal do voto popular deixou de ser um “esquema” a
beneficiar os históricos usurpadores das riquezas e do trabalho nacionais e,
assim sendo, não mais interessa aos donos do deus-dinheiro respeitar as regras
procedimentais da democracia. O resultado eleitoral pode, portanto, ser anulado
com desculpas das mais esfarrapadas. Os capachos tupiniquins do grande sistema
de corrupção internacional que move o capitalismo atualmente resolveram jogar
no lixo as deliberações eleitorais para tocarem um impeachment sem crime de responsabilidade. O que é isso? Simples: é
golpe.
Imagem: Internet |
Essa
percepção acerca do estupro à nossa democracia parece se tornar cada vez mais
clara. Mesmo não apreciando certo culturalismo dependente que gosta de bajular
as “inteligências” alienígenas como se fossem melhores que a produção da
reflexão autóctone, é digno de destaque o fato de, nesta semana, intelectuais
de referência em todo o mundo, como os filósofos alemães Jürgen Habermas, Axel
Honneth e Rainer Forst, a filósofa norte-americana Nancy Fraser e o filósofo
canadense Charles Taylor terem assinado um manifesto internacional de repúdio
ao que classificaram como “golpe branco” contra a democracia brasileira.
Expressão também já utilizada, mais de uma vez, pelo Papa Francisco. (Veja aqui
>>>).
Segundo
o manifesto internacional, a oposição no
Brasil, formada por partidos de direita, aproveitou-se da crise econômica para
levar adiante uma campanha “violenta” contra um governo eleito
democraticamente. Por isso, o objetivo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff é atacar direitos sociais,
desregulamentar a economia e frear as investigações de corrupção.
Noutro
documento, com mais de mil assinaturas, artistas e intelectuais estrangeiros
também manifestaram solidariedade ao Brasil. O texto diz que os movimentos sociais “estão sujeitos a uma
ofensiva política de grande magnitude que leva o Brasil a um período de grande
retrocesso democrático” e obscuridade.
Talvez,
pelo fato de ameaçar a hegemonia dos donos do capital especulativo e rentista
não somente daqui, mas do mundo (haja vista as potencialidades nacionais, como
nossas reservas de petróleo e a biodiversidade – ativos valiosíssimos no
presente e no futuro), a caçada ao PT voltou com toda a força nesta semana.
Curiosamente, depois de uma reunião entre a ninfa justiceira e um ministro
interino e, para o delírio dos moralistas sem moral, foram retomados mais uma
vez os espetáculos policialesco-midiático-seletivos. Incrivelmente, logo após a
divulgação de dezenas de áudios a comprovarem a corrupção endêmica e sistêmica
envolvendo o PMDB, o PSDB e o DEM há anos, nestas plagas. A justiça brasileira
é uma bênção para os homens e as mulheres de ben$, com cifrão no final.
Não serei
eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos
de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já
viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais
de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP,
PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que
tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas
comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram
condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em
síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada,
no túmulo, sinta-se apequenado.
O
fato é que, como nenhum partido conseguiu ganhar quatro eleições seguidas para
a Presidência em toda história republicana brasileira (e, não obstante o
massacre midiático-justiceiro contra o ex-presidente Lula, uma liderança que continua
firme numa provável disputa presidencial futura), o PT ainda é um perigo real e
simbólico aos donos do capital internacional e seus capachos daqui e, portanto,
deverá ser aniquilado. E o primeiro passo, dado o fracasso da cavalar campanha
midiática contra o partido, é consolidar a empreitada golpista.
Os gigolôs do capitalismo rentista, sacerdotes e
sacerdotisas do deus-dinheiro, e seus prepostos das coalizões que articulam o
golpe nessas plagas (veja aqui
>>>) querem manter o país como eterna colônia. E farão de tudo
para trucidar quaisquer pessoas e grupos que se opuserem aos seus intentos.
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