Participo
neste final de semana (aqui em BH) do 5º Encontro Nacional dos Blogueiros e
Ativistas Digitais (#5BlogProg). É muito importante refletirmos, mesmo que sucintamente,
sobre esse poderoso campo repleto de pluralidade e diversidade que é o ativismo
digital engajado: uma polissemia democrática que produz um pujante contraponto
aos oligopólios midiáticos, através da construção de narrativas novas e anti-hegemônicas.
Grupo de discussão com análise de conjuntura no segundo dia do encontro |
Ao longo
dos últimos anos e, agora, nesse momento crucial da democracia, o ativismo digital
engajado articula-se como um front de
resistência democrática. O mundo digital, uma “ágora virtual”, continua fértil não
somente no espraiamento de informação sob a ótica dos variados grupos que compõem
a sociedade, mas, fundamentalmente, na formação política e na articulação e mobilização
social contra o golpe.
O
encontro dos ativistas digitais começou na noite da última sexta-feira (20/05)
com a presença da presidenta Dilma Rousseff. A primeira aparição pública de
Dilma logo após a abertura do processo do “jogo jogado do impeachment” pelo
Senado (veja aqui)
é sinal, mesmo que tardio, do reconhecimento dela acerca da importância estratégica
dessa rede de comunicação e mobilização alternativa formada por dezenas de blogueiros
e outros ativistas digitais que têm produzido uma narrativa de proporções portentosas:
além de ter conseguido emplacar, para o desespero da mídia golpista, o discurso
acerca do golpe, a mídia alternativa e livre consegue pautar uma parte da
imprensa internacional; ademais, tem papel importante na mobilização, divulgação
e apoio às manifestações que acontecem em todo o país, reunindo milhões de
militantes de variados movimentos sociais contra o golpe (apesar da tentativa
de invisibilidade desses acontecimentos pela mídia golpista).
O
desespero de alguns deformadores de opinião da grande mídia acerca da ação dos
ativistas digitais mostra o poderio que as microrredes de comunicação (assim
como as microrredes sociais) desempenham no enfrentamento do poder institucionalizado
e, no caso específico, na confrontação e desconstrução dos discursos dos
oligopólios do mercado e sua serviçal mídia.
O golpe
em curso no país só não foi mais violento, rápido e exitoso porque, em boa
medida, as redes sociais formaram uma poderosa coalizão para contrapor a
coalizão midiático-jurídica-empresarial-elitista (veja aqui)
que conduziu o processo de impedimento da presidenta Dilma. Afinal, o Partido
da Imprensa Golpista (PIG) conseguiu mobilizar e arregimentar multidões para, em
nome de um falso discurso do combate à corrupção, tomar as ruas, nas
manifestações domingueiras, com vistas a dar uma pseudolegitimidade ao golpe.
Não
obstante, redes sociais, blogs e ativistas digitais emplacaram a narrativa
segundo a qual o processo de impeachment
sem crime de responsabilidade, além de farsa é um golpe; e, mais que isso, que
o governo ilegítimo, como todos percebem agora, é um governo subserviente ao
capitalismo global e às velhacas elites que historicamente sempre se
apropriaram do erário e do suor do povo brasileiro. Portanto, é um governo
cujos objetivos são a retirada dos direitos trabalhistas, a redução e gradual
eliminação dos programas sociais, a aniquilação dos movimentos sociais e
sindicais, reposicionando o país na condição de subserviência aos interesses
alienígenas, principalmente dos Estados Unidos (veja aqui).
Também,
confrontando o poderoso exército do PIG, o ativismo digital engajado escancarou
para o mundo que se trata de um gabinete formado e conduzido por corruptos que
não têm sequer o pudor de maquiar seu viés conservador, misógino, racista e
eivado de todo o tipo de preconceito étnico, econômico e social.
Mais
importante que defender a presidenta e um partido político, o ativismo digital
de esquerda está preocupado e coeso na defesa da democracia, dos direitos
sociais, de uma justiça que seja minimamente isonômica e de um país cujo
principal desafio continue sendo a diminuição da desigualdade social, das
injustiças e das múltiplas formas de violências que ainda segregam e eliminam,
de variados modos, milhões de brasileiros.
É verdade
(e devemos reconhecer) que os grupos de direita, conservadores e autoritários,
além dos oligopólios midiáticos têm investido e muito no domínio das redes
sociais. Os discursos de ódio, preconceito, discriminação, racismo, segregação
socioespacial, dentre outros, estão cada vez mais salientes e repletos de
seguidores. Porém, como a Internet em nosso país (AINDA) é um território sem
muitos controles, é praticamente impossível silenciar e obliterar essa
polissemia virtual. Não é por acaso que já estão sendo desengavetados no
Congresso Nacional vários projetos de lei propondo a limitação, a censura e até
mesmo a punição seletiva (operada historicamente de modo tão eficiente pelo
nosso sistema de justiça criminal) com o objetivo de enquadrar, silenciar,
vigiar e punir todos aqueles e aquelas que ousam denunciar e enfrentar essa
coalizão golpista que tomou de assalto o país.
Por isso,
o encontro de blogueiros e ativistas digitais engajados representa importante
articulação para o enfrentamento do golpe. Junto com os movimentos sociais (sob
a liderança das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo) ergue-se, nas ruas e
nas redes, uma ampla rede de resistência democrática para o restabelecimento da
democracia em nosso país.
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