Ficou
claro que há uma evidente dissociação entre a justiça e o direito, dado que no
pedido que originou o processo de impedimento não há crime de responsabilidade,
somente a sanha vingativa de um perverso, seguido como manada hipnotizada por um bando de
inconsequentes. Assim, assistimos à instalação gradual de um estado ilegítimo
(porque a presidente está sendo arrancada à força do poder) e, também, ilegal
(porque esse fajuto possível impedimento não tem fulcro e amparo na
Constituição).
Se
no Brasil a imprensa golpista não destacou o vexame, vejam, abaixo, o que fizeram alguns veículos da mídia internacional publicaram:
O
The New York Times, o jornal mais
influente dos EEUU, comentou: "Um terço dos deputados da Câmara foram
acusados ou estão sendo investigados por corrupção, incluindo seu presidente,
Eduardo Cunha, o homem que orquestrou o impeachment
de Dilma. Cunha, que enfrenta acusações de que ele aceitou US$ 40 milhões em
subornos, especialmente não gostava dela. E quase 90 por cento dos brasileiros
querem que ele seja afastado da presidência da Câmara”.
O
jornal inglês The Guardian registrou
o circo de horrores que foi a votação e o tipo de deputados que temos:
"Deputados foram chamados um por um para o microfone pelo conspirador do
processo de impeachment, Cunha: um
conservador evangélico que é acusado de perjúrio e corrupção. E, um por um,
eles condenaram a presidente. Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol
por conspiração votou sim. Também votou sim Nilton Capixaba, que é acusado de
lavagem de dinheiro. "Pelo amor de Deus, sim!", declarou Silas Câmara,
que está sob investigação por falsificação de documentos e apropriação indevida
de fundos públicos."
O
jornal irlandês The Irish Times classificou os deputados federais brasileiros de palhaços e disse que se comportaram como
bêbados em jogo de futebol: “Quando um dos mais amados palhaços do Brasil, Tiririca,
foi eleito para o Congresso em 2010
houve muito ranger de dentes entre os comentaristas sobre sua vitória e o que isso significava sobre a direção da
política do país. Mas no domingo, quando a Câmara votou sobre a possibilidade
de cassar a presidente Dilma Rousseff sobre as acusações de que ela violou leis
orçamentárias, ficou claro que Tiririca não só se encaixa bem, mas está longe
de ser o maior palhaço no bloco político. Na mais importante sessão da Câmara em
quase um quarto de século muitos de seus membros comportaram-se como palhaços
ou fãs de futebol bêbados num jogo local”.
O
mais respeitado comentarista político de Portugal, Miguel Sousa Tavares, afirmou na SIC, uma das principais emissoras de TV daquele país, que nunca viu
o Brasil descer tão baixo e, que o que se viu no Congresso ultrapassa tudo: “Nunca
se viu o Brasil descer tão baixo. O que se viu foi uma assembleia geral de
bandidos comandada por um bandido - Eduardo Cunha – fazendo a desconstituição
de uma presidenta sem qualquer base jurídica e constitucional, mas sobretudo
com uma falta de dignidade de arrepiar”. O comentarista acredita que nada do
que se passou vai resolver a situação brasileira, nem mesmo a questão
econômica. Afirmou, ainda, que a situação brasileira está madura para um golpe
militar.
O
site alemão Die Zeit afirmou que a votação na Câmara "mais parecia um carnaval" e que uma pessoa
desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia da gravidade da situação.
"Nesse dia decisivo para o destino político da sétima maior economia do
mundo, o que se viu foram horas de deputados aos berros, que se abraçavam,
tiravam selfies e entoavam
canções". E mais: "Nos discursos dos representantes do povo havia tudo o que
se possa imaginar: lembranças aos netos, xingamentos contra a educação sexual
nas escolas, paz em Jerusalém, elogio a um torturador do antigo governo
militar, o jubileu de uma cidade e assim por diante".
O
El País, principal meio de
comunicação da Espanha, registrou: “Deus, onipresente numa votação que nada
tinha ver com ensinamentos bíblicos, foi apelado até para tomar o comando e as
famílias dos parlamentares pareceram ter sido mais motivadoras para derrubar a
presidenta do que qualquer negociação. Não estranha em um Congresso cheio de
fundamentalistas religiosos e que possui o maior percentual de deputados com
familiares políticos desde as eleições de 2002. O nepotismo na Câmara revela-se
ao ver 49% dos deputados federais com filhos pais, avôs, mães, esposas ou
irmãos atuando em política, segundo um estudo da Universidade de Brasília. É o
maior índice das quatro últimas eleições. Após quase cinco horas de votação,
Deus e os netos dos deputados derrubaram a presidenta do Brasil”.
Além
de discursos horripilantes e abjetos e sua péssima repercussão internacional, cenas
como a declaração de voto de Bolsonaro, o maior representante de um segmento
nefasto da política nacional (digno de compaixão - porque devemos
enxergar dignidade na vida que pulsa naquela carcaça), tivemos o mais fiel
retrato de uma casa legislativa que não nos representa. Somente
cerca de 40 dos 513 deputados federais tiveram votos suficientes para se
eleger. Significa que mais de 90% (noventa por cento) deles devem o mandato a
restos de votos (da coligação ou do partido), por causa do chamado coeficiente
eleitoral.
Passado
o deprimente espetáculo grotesco, agora resta ao cidadão o direito que tem de
se contrapor à coalizão parlamentar-midiático-jurídico-elitista-empresarial que quer se impor à força; de
lutar de todas as formas contra os usurpadores do poder que se impõem através
de um estado de terror, censura ou violências contra as garantias
sociais. A princípio, é legítima a ação contra um governo ilegal e ilegítimo.
A
verdadeira mudança só virá com a força das massas! Enquanto o novo não nasceu,
lutemos contra as velhas oligarquias e a plutocracia nacionais.
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