É preciso refletir com calma e serenidade, mas,
também, com coragem. Nesse domingo, 17
de abril, assistimos a um golpe parlamentar. A vitória de Ali Babá e seus 400
ladrões, à brasileira. Em nome de “deus e da família”, remetendo-nos a uma
triste memória, um show deprimente transmitido ao vivo. Nunca pensei que um big brother global fosse superado de
forma tão grotesca.
Porém,
conhecendo o perfil pífio da Câmara, francamente, o resultado não tem nenhuma
surpresa!
Quem
perdeu foi a nossa frágil democracia, que depois de menos de 30 anos da
"redemocratização", teve sua constituição rasgada em público, para o delírio
de um grupo minoritário, mas muito poderoso que luta ferozmente pelo retorno de
um país de e para poucos. Reveses fazem parte das nossas vidas e das histórias
das nações. Não nos acomodemos. Incomodemos!
Não
confio numa reversão do golpe parlamentar por parte do Poder Judiciário. Salvo
exceções e espasmos, a justiça em nosso país sempre esteve a serviço da casa
grande. Quem conhece o sistema de justiça criminal, por exemplo, sabe disso:
estado penal para os pobres; estado constitucional para os ricos. No plano
político, o fato de o Supremo nunca ter revisado a lei de anistia autoriza,
simbólica e na prática, a barbárie praticada cotidianamente por agentes do
estado. Falar do sistema de justiça significa falar de uma casta jurídica conservadora
e elitista infiltrada em diferentes agências, órgãos e poderes do Estado. Sem uma
profunda reforma no sistema de justiça brasileiro não há democracia de fato; só
"de direito(a)".
As
investidas golpistas ao longo dos últimos meses explicitaram, até para a mídia
liberal-democrática norte-americana, que os oligopólios da imprensa brasileira
se consolidaram como um cartel, altamente corrupto e manipulador. É preciso, também,
enfrentar essa máfia.
Consideraremos,
também, que os que lutam para definir os rumos das nações (não somente no
Brasil) são os donos do dinheiro. A economia substitui, cada vez mais, a
política. Porém, em nosso país, o capitalismo atrasado do século 19 (que sequer
teve a competência de construir uma forte indústria nacional ao longo dos
últimos dois séculos), aliado a políticos dos partidos neoliberais formam uma
ampla coalização cujo modus operandi
não tem limites éticos e é antinacionalista.
Por
outro lado, apesar de importantes na democracia representativa, os partidos nacionais,
salvo raríssimas exceções, se transformaram em confrarias voltadas somente para
a confabulação do crime organizado com vista a assaltarem o erário.
Como
já escrevi, quem pode barrar esse vergonhoso golpe parlamentar e
midiático-jurídico-elitista-conservador-empresarial é o povo nas ruas (manifestações,
greves gerais, etc.). Tudo, preferencialmente, dentro dos limites da lei e com
respeito à diversidade de opiniões.
Lembrando
que há sempre o direito à resistência e à rebelião frente a governantes de
origem ilegítima (mesmo travestidos de alguma “legalidade”).
Portanto,
enquanto continuamos o bom combate nas redes e nas ruas e aguardamos as
posições do Senado e do STF (instituições nas quais não deposito esperanças!),
pensemos: quando há evidente dissociação entre a justiça e o direito (dado que no
pedido que originou o processo de impedimento não há crime de responsabilidade),
temos instalado um estado ilegítimo (porque a presidente está sendo arrancada à
força do poder) e, no caso, também, ilegal (porque esse fajuto possível
impedimento não tem fulcro e amparo na Constituição).
Até
mesmo a tradição política liberal conservadora admite (desde John Locke), o
direito que todo cidadão tem de se contrapor ao tirano; de lutar de todas as
formas contra os usurpadores do poder que se impõem através de um estado de
terror, da força, censura ou violências contra as garantias sociais. Portanto,
há que se considerar: a princípio, é legítima a ação contra um governo ilegal e
ilegítimo.
Os
que acreditam numa democracia de fato, para além da democracia de direito(a),
têm, agora, novos desafios. Alegres,
porque sabemos o que defendemos, e com a cabeça erguida vamos à luta pela
democracia de e para todas e todos.
A
verdadeira mudança só virá com a força das massas! Enquanto o novo não nasceu,
lutemos contra as velhas oligarquias e a plutocracia nacionais.
Lembrar Darci Ribeiro: "perdemos essa luta, mas não queríamos estar com os que venceram". Que Cunha, Malafaia, Temer, Bolsonaro e Janaína chamem Serra, FHC e Armínio pra festejar!
ResponderExcluir