É curiosa a situação que vive
hoje o Brasil.
Estamos em plena vigência de um
Estado de Direito?
Ou de um “estado” de direita, que
está nos levando, na prática, a um estado de exceção?
Afinal, no Estado de Direito,
você tem o direito de ir e vir, de frequentar um bar ou um restaurante, ou
desembarcar sem ser incomodado em um aeroporto, independente de sua opinião.
No estado de direita, você pode
ser reconhecido, insultado e eventualmente agredido, por um bando de imbecis,
na saída do estabelecimento ou do avião.
No Estado de Direito, você pode
cumprimentar com educação o seu vizinho no elevador, desejando-lhe um Feliz Ano
Novo.
No estado de direita, você tem
grande chance de ouvir como resposta: “tomara que em 2016 essa vaca saia da
Presidência da República, ou alguma coisa aconteça com essa cadela, em nome do
Senhor.”
No Estado de Direito, você pode
mandar “limpar” o seu computador com antivírus quando quiser.
No estado de direita, você pode
ficar preso indefinidamente por isso, até que eventualmente confesse ou invente
alguma coisa que atraía o interesse do inquisidor.
No Estado de Direito, você tem
direito a ampla defesa, e o trabalho dos advogados não é cerceado.
No estado de direita,
quebra-se o sigilo de advogados na relação com seus clientes.
No Estado de Direito, a Lei é
feita e alterada por quem foi votado para fazer isto pela população.
No “estado” de direita,
instituições do setor público se lançam a promover uma campanha claramente
política – já imaginaram a Presidência da República colhendo assinaturas na rua
para aumentar os seus próprios poderes? – voltada para a aprovação de um
conjunto de leis que diminui – em um país em que 40% dos presos está
encarcerado sem julgamento - ainda mais as prerrogativas de defesa dos
cidadãos.
No Estado de Direito, você é
protegido da prisão pela presunção de inocência.
No estado de direita, inexistem,
na prática, os pressupostos da prisão legal e você pode ser detido com base no
“disse me disse” de terceiros; em frágeis ilações; do que “poderá” ou
“poderia”, teoricamente, fazer, caso continuasse em liberdade; ou subjetivas
interpretações de qualquer coisa que diga ao telefone ou escreva em um pedaço de
papel - tendo tudo isso amplamente vazado, sem restrição para a “imprensa”,
como forma de manipulação da opinião pública e de chantagem e de
pressão.
No Estado de Direito, você pode
expressar, em público, sua opinião.
No estado de direita, você tem que
se preocupar se alguém está ouvindo, para não ter que matar um energúmeno em
legítima defesa, ou “sair na mão”.
No Estado de Direito, os
advogados se organizam, e são a vanguarda da defesa da Lei e da Constituição.
No estado de direita, eles deixam
agir livremente – sem sequer interpelar judicialmente - aqueles que ameaçam a
Liberdade, a República e os cidadãos.
No Estado de Direito, membros do
Ministério Público e da Magistratura investigam e julgam com recato,
equilíbrio, isenção e discrição.
No estado de direita, eles buscam
a luz dos holofotes, aceitam prêmios e homenagens de países estrangeiros ou de
empresas particulares, e recebem salários que extrapolam o limite legal
permitido, percebendo quase cem vezes o que ganha um cidadão comum.
No Estado de Direito, punem-se os
corruptos, não empresas que geram riquezas, tecnologia, conhecimento e postos
de trabalho para a Nação.
No estado de direita, “matam-se”
as empresas, paralisam-se suas obras e projetos, estrangula-se indiretamente
seu crédito, se corrói até o limite o seu valor, e milhares de trabalhadores
vão para o olho da rua, porque a intenção não parece ser punir o crime, mas
sabotar o governo e destruir a Nação.
No Estado de Direito, é possível
fazer acordos de leniência, para que companhias possam continuar trabalhando,
enquanto se encontram sob investigação.
No estado de direita, isso é
considerado “imoral”.
Não se pode ser leniente com
empresas que pagam bilhões em impostos e empregam milhares de pessoas, mas,
sim, ser mais do que leniente com bandidos contumazes e notórios, com os quais
se fecha “acordos” de “delação premiada”, mesmo que eles já tenham descumprido
descaradamente compromissos semelhantes feitos no passado com os mesmos
personagens que conduzem a atual
investigação.
No Estado de Direito, existe
liberdade e diversidade de opinião e de informação.
No estado de direita, as
manchetes e as capas de revista são sempre as mesmas, os temas são sempre os
mesmos, a abordagem é quase sempre a mesma, o lado é sempre o mesmo, os donos
são sempre os mesmos, as informações e o discurso são sempre os mesmos, assim
como é sempre a mesma a parcialidade e a manipulação.
No Estado de Direito você pode
ensinar história na escola do jeito que a história ocorreu.
No estado de direita, você pode
ser acusado de comunista e perder o seu emprego pela terceira ou quarta vez.
No Estado de Direito você pode
comemorar o fato de seu país ter as oitavas maiores reservas internacionais do
planeta, e uma dívida pública que é muito menor que a dos países mais
desenvolvidos do mundo.
No estado de direita você tem que
dizer que o seu país está quebrado para não ser chamado de bandido ou de
ladrão.
No Estado de Direito, você pode
se orgulhar de que empresas nacionais conquistem obras em todos os continentes
e em alguns dos maiores países do mundo, graças ao seu know-how e capacidade de
realização.
No estado de direita, você deve
acreditar que é preciso quebrar e destruir todas as grandes empresas de
engenharia nacionais, porque as empresas estrangeiras – mesmo quando multadas e
processadas por tráfico de influência e pagamento de propinas em outros países
– “não praticam corrupção.”
No Estado de Direito você pode
defender que os recursos naturais de seu país fiquem em mãos
nacionais para financiar e promover o desenvolvimento, a prosperidade e a
dignidade da população.
No estado de direita você tem que
dizer que tudo tem que ser privatizado e entregue aos gringos se não quiser
arrumar confusão.
No Estado de Direito, você pode
defender abertamente o desenvolvimento de novos armamentos e de tecnologia para
a defesa da Nação.
No estado de direita, você vai
ouvir que isso é um desperdício, que o país “não tem inimigos”, que as forças
armadas são “bolivarianas”, que o Brasil nunca vai ter condições de enfrentar
nenhum país poderoso, que os EUA, se quiserem, invadem e ocupam isso aqui em 5
minutos, que o governo tem que investir é em saúde e educação.
No Estado de Direito, é crime
insultar ou ameaçar, ou acusar, sem provas, autoridades do Estado e o
Presidente da República.
No estado de direita, quem está
no poder aceita, mansamente, cotidianamente, os piores insultos, adjetivos,
acusações, insinuações e mentiras, esquecendo-se que tem o dever de defender a
Democracia, a liturgia do cargo, aqueles que o escolheram, a Nação que
representam e teoricamente, comandam, e a Lei e a
Constituição.
No Estado de Direito, você pode
interpelar judicialmente quem te ameaça pela internet de morte e de tortura ou
faz apologia de massacre e genocídio ou da quebra da ordem institucional e da
hierarquia e da desobediência à Constituição.
No estado de direita, muita gente
acha que “não vale a pena ficar debatendo com fascistas” enquanto eles
acreditam, fanaticamente, que representam a maioria e continuam, dia a dia,
disseminando inverdades e hipocrisia e formando opinião.
No Estado de Direito você poderia
estar lendo este texto como um jogo de palavras ou uma simples digressão.
No estado de direita, no lugar de
estar aqui você deveria estar defendendo o futuro da Liberdade e dos seus
filhos, enfrentando, com coragem e informação, pelo menos um
canalha por dia no espaço de comentários – onde a Democracia está perdendo a
batalha - do IG, do Terra, do MSN, do G1 ou do UOL.
Fonte: Mauro Santayana, em seu blog.
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