O que é mais importante numa cidade? O
mobiliário urbano? Os sistemas de transporte, com largas avenidas permitindo o
fluxo constante dos automóveis? A gestão pública eficiente, que se pauta pela
equação cujo resultado é sempre medido pelas variáveis custo e benefício?
Tudo isso pode contribuir para a
melhoria da qualidade de vida urbana. Mas, certamente, o mais importante na
cidade é a convivência entre as pessoas, a civilidade, a vivência solidária no
espaço público; enfim, o conjunto das relações humanas que se realizam nos
espaços urbanos. A cidade deveria ser um espaço de interação e não de exclusão.
Por que as cidades pequenas são, geralmente,
menos violentas? Porque há uma relação de solidariedade entre as pessoas. As
relações vicinais são mantidas e valorizadas. Todos zelam pela boa convivência
com vizinhos, amigos e conhecidos. Nesses locais, onde uns ajudam e se
solidarizam com os outros há pouco espaço para a ação dos infratores.
Mecanismos de vigilância informal são, muitas vezes, mais eficientes que
estratégias baseadas em aparatos policiais, por exemplo.
A cidade deveria ser um espaço de interação e
não de exclusão.
Diferentemente das pequenas cidades, nos grandes
centros urbanos observamos situações que colocam à prova o modo de vida
individualista, ancorado numa sensação/percepção equivocada segundo a qual a segurança
privada é suficiente para resolver todos os problemas derivados da (in)segurança pública.
Há poucos dias, lia uma reportagem que narrava o
acontecido num prédio de alto luxo: um ladrão usava o elevador, passando de um andar
ao outro, sem que os vizinhos notassem a presença do estranho. Isto porque os
vizinhos, apesar de morarem no mesmo edifício, não se conheciam.
Mecanismos de vigilância informal são, muitas
vezes, mais eficientes que estratégias baseadas em aparatos policiais, por
exemplo.
Se há menos coesão social e solidariedade
vicinal, há espaço para mais violência. Onde há muito individualismo, paradoxalmente,
há mais exposição ao risco individual e coletivo.
A vida na cidade propicia vários desafios para os
gestores públicos, mas também para todos os que estudam, planejam, administram
e vivem nas cidades. Uma cidade democrática é fruto de uma construção coletiva, de
um pacto sócio-político a promover as ações voltadas para o respeito e proteção aos direitos coletivos;
a garantir a presença e a manifestação das diferentes culturas e dos vários
modos e estilos de vida no espaço urbano, sem distinção.
O direito à cidade busca combater as
desigualdades resultantes de um processo de urbanização acelerado e sem
planejamento
Originalmente, a definição latina de cidade (civitas-civitatis)
era a reunião de cidadãos; lugar onde se respeita o direito do cidadão.
Contemporaneamente, voltou-se a discutir o tema do direito à cidade.
O direito à cidade busca combater as
desigualdades resultantes de um processo de urbanização acelerado e sem
planejamento.
Hoje, mais da metade da população do planeta –
cerca de 3,4 bilhões de pessoas – vive em cidades. E as previsões indicam que o
processo de urbanização continuará a ocorrer rapidamente, sendo marcado pela
precariedade e informalidade da ocupação do solo. Atualmente, estima-se que um
terço dos habitantes das cidades está em favelas e assentamentos informais.
De acordo com um dos principais teóricos
do direito à cidade, o geógrafo americano David Harvey, “o direito à cidade
não pode ser concebido simplesmente como um direito individual. Ele demanda um
esforço coletivo e a formação de direitos políticos coletivos ao redor das
solidariedades sociais” (A Liberdade
da Cidade. Revista Espaço e Tempo, 2009).
Infelizmente, observamos nas cidades a criação
de guetos que segregam parte dos cidadãos: condomínios fechados, por exemplo,
que isolam uma parte das pessoas; favelas, que excluem outros tantos. Será que
as relações sociais comportam (ou melhor, suportam) o abismo entre estes
"dois mundos" num mesmo espaço, a cidade? Esse colossal fosso tem
sustentação numa sociedade que se diz democrática?
“(...) o direito à cidade não pode ser
concebido simplesmente como um direito individual.”
Em muitas cidades, o interesse privado
(de construtoras e imobiliárias, por exemplo) parece sobrepor-se aos interesses
públicos. Ao invés de uma expansão planejada, para atender as demandas dos
cidadãos, as cidades estão à mercê do mercado especulativo imobiliário. Isso é
repugnante...
Como possibilitar novos modos, espaços e
condições de vida que favoreçam as relações sociais nas cidades? Qual o papel
de cada um de nós, cidadãos que vivemos nas cidades?
Os responsáveis pela políticas públicas deveriam contrapor essa
lógica segregadora, garantindo a inclusão de todos os
indivíduos no espaço urbano, com dignidade, respeito à alteridade e às
diferentes formas de vida. Isto significa uma convivência saudável, por
exemplo, com os moradores de rua - tão discriminados!
Neste sentido, uma ação fundamental para a
construção de espaços urbanos mais humanizados se dá através da ampliação de
mecanismos de participação social na gestão das cidades. E para tanto, há que
se investir na educação política dos cidadãos.
Olá Robson. Me lembrei do que aprendemos quando estudamos Simmel: "A função das cidades grandes é fornecer o lugar para o conflito...". abraços... Marcos Fontoura
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