Ainda repercute a notícia de um
jovem de 23 anos que morreu após ingestão excessiva de álcool em uma festa
universitária, em Bauru, no Centro-oeste paulista. Humberto Moura Fonseca participava
de uma competição para ver quem conseguia beber mais. Outros três jovens —
incluindo duas mulheres — estão em estado grave.
Qual
a droga que mais mata no Brasil? O crack, a maconha, a heroína ou o êxtase?
Não. O que mais mata no Brasil é o álcool, consumido puro e/ou associado com outras drogas e fatores de risco.
Segundo o
Ministério da Saúde, as maiores causas de morte são problemas cardiovasculares
e o câncer, duas doenças relacionadas ao álcool. Mas a perda de vidas não está
associada somente às doenças relacionadas ao vício do álcool. Metade das mortes no
trânsito envolve motoristas embriagados.
Mesmo em pequenas doses, o álcool
prejudica a percepção de velocidade e distância; pode causar dupla visão e
incapacidade de coordenação. Resultado: milhares de vidas ceifadas no trânsito.
O
consumo de álcool no Brasil é quase 50% superior à média mundial e o
comportamento de risco no país já supera o padrão da Rússia (considerado um
país onde se consome álcool exageradamente). Levantamento feito pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que os brasileiros com mais de 15
anos bebem o equivalente a 10 litros de álcool puro por ano – a média no mundo
é de 6,1 litros. Entre os homens que bebem, a taxa é de 24,4 litros de álcool
por ano e entre as mulheres, de 10 litros.
O álcool no Brasil é responsável por 7,2% das mortes – índice quase duas vezes superior à
média mundial. Cerca de 30% da população que admite beber frequentemente afirma
que se embriaga pelo menos uma vez por semana. Nos EUA, a taxa é de 13%, contra
12%, na Itália. Mesmo na Rússia, o índice daqueles que exageram na bebida é
inferior ao do Brasil: 21%. A cerveja é responsável por 54% do consumo de
álcool no Brasil. Mas os destilados representam 40%, uma taxa considerada alta.
O vinho corresponde a cerca de 5%. Se somarmos as mortes no trânsito derivadas
do consumo de álcool àquelas por motivações fúteis, pertinentes a esse vício, e
às relacionadas a doenças associadas ao alcoolismo (cardiovasculares e
cânceres), teremos o álcool, além de a principal causa de óbitos, também como o
maior motivador da violência no país.
"Com uma propaganda constante e
subliminar (que inclusive associa álcool, sexo e prazer), a indústria do álcool
captura com facilidade milhões de jovens, que serão reféns desse vício por
longos anos (provocando enormes custos de tratamento no sistema de saúde) ou
constarão, em breve, das estatísticas das mortes em nosso país."
Pesquisa
realizada pelo sociólogo Guaracy Mingardi, do Núcleo de Estudos da Violência da
Universidade de São Paulo (NEV/USP), em 14 delegacias dos bairros mais
violentos da Zona Sul paulistana, constatou que o álcool é o agente
detonador de, pelo menos, 41% dos homicídios. Outra, feita pelo
Instituto Médico Legal paulista em 2005, revelou que as 2.007 vítimas de
homicídio no estado de São Paulo, 863 tinham consumido álcool, sendo que 785
delas tinham mais de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue. Os dados estão
no trabalho “Uso de álcool por vítimas de homicídio no município de São Paulo”,
do pesquisador Gabriel Andreuccetti, da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP), premiado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) em
2007.
Outra
pesquisa premiada pela Senad, Políticas municipais relacionadas ao álcool:
análise da lei de fechamento de bares e outras estratégias comunitárias em
Diadema (SP), do médico Sérgio Duailibi, da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), mostra a forte correlação entre álcool e violência nas mortes por
motivos fúteis.
Mas
por que no Brasil as políticas de controle e redução das mortes provocadas pelo
álcool são quase inexistentes? Porque a indústria do álcool (como a das armas)
é poderosíssima: tem bancada nos parlamentos, controla altíssimas verbas
publicitárias na mídia e, recentemente, é responsável pela promoção de grandes
eventos, inscritos, entre outros, naquilo que se denominou chamar de “paixão
popular”.
Ademais, com uma propaganda constante e subliminar (que inclusive
associa álcool, sexo e prazer), a indústria do álcool captura com facilidade
milhões de jovens, que serão reféns desse vício por longos anos (provocando
enormes custos de tratamento no sistema de saúde) ou constarão, em breve, das
estatísticas das mortes em nosso país.
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