Fica cada vez mais evidente que a
extrema-direita brasileira partiu para o confronto e resolveu violar a democracia
e a Constituição.
Como é incapaz de vencer as eleições,
aliou-se a setores do sistema de justiça para implementar, a qualquer custo,
uma agenda ultraliberal perversa e cruel num país ainda ferozmente desigual. Resolveu
utilizar da violência das leis (via contrarreformas aprovadas nos últimos dois
anos) e, mais recentemente, ameaça a utilização das armas para tentar silenciar
o povo brasileiro.
Desde
2013, a extrema-direita (agronegócio, grande empresariado e bancos, setores da
justiça e elites políticas, em associação com a mídia empresarial) começou a
sinalizar a recusa à institucionalidade (constituição, poderes da república e
regras procedimentais da democracia). E partiu para a ruptura...
Na
ocasião, o PT estava no poder. E preferiu optar pela institucionalidade: reforçava
o sistema de justiça; apoiava legislações (draconianas) que vitaminavam os
setores fascistas desse sistema; apostava no Supremo como guardião da
Constituição; enfim, fazia o jogo republicano do respeito às instituições que, paulatinamente,
eram carcomidas pela sanha persecutória e inquisitorial de juízes, promotores e
policiais, “com o Supremo, com tudo”.
A coalizão de extrema direita,
com o impeachment sem crime de responsabilidade urdido numa cruel conjuntura política (iniciada com
as jornadas de junho de 2013 e aprofundada com a recusa dos resultados das
eleições de 2014 pela turma de Aécio Neves) e grave crise econômica, desmontava todas
as possibilidades de pactuações futuras com vistas à restauração da democracia.
Para justificar o assalto
democrático, dois discursos oportunistas, usados em doses cavalares, foram cuidadosamente
construídos pela mídia empresarial: o primeiro se referia à corrupção. Contra a
corrupção, o Brasil foi entregue à camarilha mais corrupta da história.
O outro, mais recente, é o
discurso da polarização. Para justificar o fascismo enrustido que ainda continua
dentro do armário de muitos “cidadãos de bem”, essa narrativa autoritária tenta
comparar um candidato fascista com outro do campo democrático.
É óbvio que o antipetismo cimenta
esses dois discursos hipócritas, construído a rigor para “homens de bens” e “bons
cristãos”. Não à toa, líderes religiosos, sem nenhum escrúpulo, apoiam o
candidato de extrema-direita. Conhecemos muito bem essa história: 1964 é logo ali...
O fato é que as eleições de 2018 (que
poderiam ser o início da saída do poço sem fundo que se encontra o Brasil) poderão se transformar num novo abismo. Isto porque as vozes roucas que ecoam das cavernas
do ódio, da intolerância, do racismo, do patriarcado, enfim, da Casa Grande, retumbam
de duas cornetas: da justiça e da caserna.
Em relação aos militares, é bom lembrar
do malfadado pacto entre elites articulado no processo da redemocratização - que
foi cantado em prosa e verso como o grande acordo nacional (também naquela
época com o supremo, com tudo): como se não bastasse a lei da anistia, ainda se
permitiu às Forças Armadas a responsabilidade pela garantia da Constituição e
da lei e da ordem (artigo 142). Ou seja,
entregou-se de bandeja aos militares a tutela do país. Um arranjo genuinamente
brasileiro.
Agora, o "coiso" não cansa de dizer
nos microfones de discípulos de Goebbels da mídia empresarial que não aceita o
resultado das eleições caso não seja o vencedor. Ou seja, o capitão e o seu
vice (o general - que parece não aceitar qualquer insubordinação de seu
comandado) sinalizam que tramam novamente contra as regras mais comezinhas da
democracia, como fez Aécio, em 2014. Como diz o ditado popular, “onde passa um
boi, também passa uma boiada”.
O ex-ministro Celso Amorim,
figura de proa dos segmentos democráticos, garante que esses roncos não redundarão
em outros jogos oportunistas e autoritários se Haddad vencer o pleito.
Lembro-me que José Eduardo Cardoso também garantia que o Supremo daria um basta
à quebra da institucionalidade à época do impeachment. Aliás, parte dos setores
de esquerda, paradoxalmente, continuam a apostarem na institucionalidade.
Com claros sinais de manutenção da
ruptura institucional pelos setores da extrema-direita - que já colocaram a
democracia para escanteio faz muito tempo -, será que há espaço para um novo pacto
no país, nas condições atuais?
Tomara que eu esteja redondamente
enganado...
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