Ao que tudo indica, teremos
eleições em outubro deste ano.
Como não somos uma turba de míopes,
precisamos lançar luzes nesse processo eleitoral.
Não é possível, depois de tudo o
que aconteceu desde 2014, que naturalizemos esse pleito - como se nada houvera
anteriormente e como se o processo eleitoral seguisse transcurso normal e
democrático.
É preciso esclarecer, de início,
que uma eleição não é um jogo de futebol, disputado às vísceras; nem uma
guerra, cujas estratégias são a eliminação do oponente a qualquer custo.
Mas, uma eleição não deixa de ser uma disputa aguerrida por visões de mundo (modelos de sociedade e governo) antagônicas e
distintas.
É preciso ficar cristalino: em
2014, uma presidenta foi eleita democraticamente e, menos de dois anos depois, foi deposta num processo
eivado de todo o tipo de vício, malandragem e corrupção. Ou seja, Dilma ganhou o jogo
e não levou.
Não obstante o estupro democrático
havido em 2016, as cúpulas partidárias, inclusive das esquerdas, resolveram
continuar a jogar um jogo cujas regras, interesses e juízes são totalmente manipuladores
e manipulados à revelia das regras da democracia (até mesmo procedimental) e dos interesses do povo (a origem e o fim do poder).
Mesmo sabendo que o processo eleitoral deste ano pode ser um jogo farsesco, os setores populares e democráticos optaram por jogá-lo, sem alterações
substantivas nas regras, nos interesses (nem sempre confessáveis) e nos árbitros
de plantão.
Quando o país foi duramente
golpeado, tais setores (aliando-se com o povo em busca de uma ruptura que redundasse em algo novo nesse modelo de política) poderiam optar por posições mais radicais, como por
exemplo, não participar de eleições tuteladas (pela justiça, pela caserna, pelo
rentismo).
Mas, por interesses legítimos, crença nesse modelo democrático (cada vez mais viciado) ou talvez movidas pela conveniência eleitoral de suas elites políticas, as esquerdas decidiram por participar e continuar
nesse tipo de disputa...
Sabemos que os interesses econômicos
dos grupos políticos tradicionais associados à mídia, ao grande capital e à
justiça não se contentam mais, como ocorria anteriormente, com artimanhas jurídicas e poderes de veto nos processos eleitorais.
Desde 2014 e explicitamente a partir de 2016, perderam todos os escrúpulos na
disputa política e eleitoral.
Nessas eleições, se perderem o
pleito, os golpistas não terão qualquer dúvida: interferirão no resultado,
com ou sem o apoio explícito das Forças Armadas e das castas judiciárias e de
outras entidades secretas e obscuras que atuam no submundo da política.
Os setores herméticos do sistema
de justiça têm dado exemplos explícitos do lado que operam: retiraram, à fórceps,
o melhor jogador do campo e resistem em acatar até mesmo recomendações da ONU para que as eleições sejam, minimamente, democráticas.
Não fosse a espetacular pujança das redes e dos
movimentos sociais e uma militância fidelizada, Lula estaria no ostracismo
(essa, aliás, era uma das apostas dos golpistas ao trancafiá-lo em Curitiba).
É preciso registrar que o povo
não é bobo, para o desespero das elites que se acham as donas da verdade, da Constituição e do Brasil.
Os "tiros", ardilosamente planejados pelos golpistas com amplo apoio midiático e da justiça, estão a sair pela culatra: o impedimento de Dilma, sem crime de responsabilidade, deu certo. Mas, o decantado crescimento econômico não veio; as contrarreformas e a entrega do patrimônio público encontram forte resistência popular e não há nenhum candidato desse campo que sequer faz cócegas no líder de intenção de voto.
O povo, desde o primeiro momento,
não se alinhou ao bando que tomou de assalto o poder; não aprovou nenhuma das
contrarreformas que furtam direitos (conforme atestam pesquisas de opinião);
não abandonou Lula (ao contrário, cada vez mais está a seu lado) e não se
transformou em zumbi da globo e da mídia empresarial e golpista.
Até agora, a bem da verdade, todo o poderoso aparato golpista mais parece um Titanic a vazar água por todos os lados e prestes a afundar.
O jogo, se vencido pelos setores democrático-populares, pode ser o começo de uma lenta e dolorosa construção da democracia (que não existe, de fato, nesse momento).
Mas, será que não é esperar demais
uma insurreição popular caso a turma da Casa Grande resolva dar mais um golpe
se o resultado das urnas não lhe interessar?
É bom que todas as cartas desse jogo estejam
sobre a mesa.
Corre-se o risco (num jogo que cada vez mais é jogado fora do
campo) de destruir todo um patrimônio político e cidadão construído arduamente
nesses três últimos anos: uma cidadania que, aparentemente, não aceita mais ser tutelada. Por ninguém.
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