Estamos a pouco mais de dois meses das eleições. Aproxima-se o pleito e com ele a esperança de sairmos do precipício; ou, a depender das condições de sua realização, o aprofundamento da tragédia que abate o país.
Desde o golpe, uma camarilha de aventureiros, “com o Supremo, com tudo”, resolveu mandar às favas a Constituição e a democracia. Esses sabujos do rentismo, das elites nacionais e dos interesses norte-americanos no país deram as costas ao povo, principalmente aos segmentos mais vulneráveis (aqueles 70% que ainda estão aquém aos direitos de cidadania).
Com o beneplácito de poderosos segmentos do sistema de justiça, atuando nos tribunais, no Ministério Público e em núcleos policiais, principalmente da PF, articularam toda a sorte de tramoias para manter um cadáver insepulto com 3% de aprovação na presidência e inviabilizar a todo e qualquer custo a possibilidade da vocalização do desejo da maioria dos brasileiros por mudanças no comando do país, com a candidatura e eventual eleição do ex-presidente Lula – um negociador capaz de criar alternativas ao abismo que a horda de impostores impôs aos brasileiros.
Com o processo eleitoral tutelado por capa-pretas que não têm mandato popular e se postam acima da Constituição e com sinais tuiteiros ameaçadores vindos, de quando em vez, da caserna a demostrarem a interferência no jogo político, os brasileiros demonstram desdém às eleições.
Como se não bastasse a campanha de criminalização da política pela mídia venal, encabeçada pela globo e os inúmeros casos de indiferença com a coisa pública - que ocorrem do menor município ao comando central do país -, as pesquisas indicam índices de abstenção, votos nulos e brancos próximos a 50% para o pleito de outubro.
Ou seja, a eventual eleição de um presidente, num país marcadamente presidencialista, nessas condições já tornaria o eleito, a priori, um governante deslegitimado, incapaz de cimentar uma saída ao abismo que encontramos. Incapaz, também, de enfrentar as mazelas deixadas pelo atual desgoverno.
Os próximos dias serão cruciais. O provável expurgo de Lula pela justiça, a baixíssima credibilidade de um pleito sem sua participação, a ausência de um candidato capaz de costurar uma concertação nacional e a interferência inconstitucional de segmentos do mercado, da justiça e da mídia nas eleições poderá lançar o país num precipício ainda mais perturbador, com consequências ainda mais desastrosas.
O Brasil se tornou motivo de piada internacional. Os cidadãos de muitos países acostumados com democracias que respeitam os clamores populares olham para o Brasil com desdém. Não conseguem entender como há tanta patifaria e artimanhas nas mais altas esferas dos poderes da república.
Espera-se algum bom senso principalmente por parte da justiça nesses dias. Dos políticos e dos partidos, alguma resposta à altura das necessidades do país. E que as consequências das próximas decisões responsabilizem, no presente e no futuro, seus autores.
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