O caso do "terço enviado pelo Papa a Lula" (que invadiu as redes sociais e produziu pelo menos três notas da Secretaria de Comunicação do Vaticano) é emblemático. Mostra a importância das disputas de narrativas entre os setores hegemônicos e as novas mídias sociais, alternativas e não atreladas aos poderosos.
Até bem pouco tempo, a mídia empresarial e os setores conservadores da sociedade, irmãos siameses, tinham o monopólio da informação e se pontificavam como donos da Verdade.
Há algum tempo novos atores (sociais, políticos, culturais...) , historicamente silenciados e/ou ignorados, entraram em cena.
Primeiro, esse novo mundo da comunicação foi acusado de provocar o caos; agora, é acusado de produtor de mentiras.
Penso que não se trata de uma questão maniqueísta. O bem e o mal estão presentes em ambos os campos. Trata-se, isso sim, de problematizar o que está em disputa. Visões totalmente antagônicas de mundo. Não só duas visões. Mas, em sociedades capitalistas, múltiplas visões lastreadas em paradigmas neoliberais (mercado e capital no centro) e socialistas ou social-democratas (o ser humano no centro), para simplificar uma complexa discussão...
Numa sociedade polissêmica, como se transformou o Brasil nos últimos tempos, outras vozes, para além dos que se julgam os donos da verdade e do saber/conhecimento, disputam as muitas narrativas possíveis. Isso incomoda por demais o establishment (elites econômicas, políticas, intelectuais, sociais, religiosas...).
A velha "pax romana", ou paz dos túmulos - sendo a mídia o instrumento de dominação, via manipulação e chantagem desse modelo de sociedade subserviente e servil aos interesses de uns poucos -, encontra nas redes comunicacionais alternativas uma trincheira permanentemente aberta para a disputa de visões de mundo.
É claro que os barões da velha mídia estão esperneando...
Agora, querem imprimir a censura e retomar o campo perdido criando as "agências de checagem", muitas delas regadas com dinheiro (de banqueiros e grandes empresários) e interesses daqueles que insistem em transformar opinião publicada em opinião pública.
A isenção do jornalismo da velha mídia se transformou em conto da carochinha e, desmascarados, os barões da mídia tentarão criar novos mecanismos de controle e manipulação da informação.
Ou, no desespero, retomando a velha tradição autoritária da mídia empresarial tupiniquim, apelarão aos tutores da sociedade (legislações draconianas e/ou utilização dos sistemas de justiça e segurança), a demandar o controle da comunicação pela força (das leis ou das armas) .
Mas, a luta continua...
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