Já tratamos em diversos textos
sobre a juristocracia tupiniquim. O conglomerado, formado pela chamada “carreira
jurídica de estado”, principalmente por juízes, promotores e policiais, encrustado
na burocracia pública, que opera como uma espécie de estado paralelo.
Um vídeo da ex-corregedora do
Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, durante a XVI Conferência da
Advocacia Mineira, em Juiz de Fora, entre os dias 8 e 10 de março, resume a
ópera: [referindo a corrupção de juízes]: “sabe o que os meus colegas do CNJ diziam?
É inconstitucional investigar juiz. Pronto”.
Esses segmentos conviveram
pacificamente com a ditadura militar de 1964; não foram reformados pela
Constituição Federal de 1988; convenceram as elites e classes médias,
beneficiárias diretas de seus (bons) serviços, a vitaminarem seus poderes legais após a
Constituição e foram se autonomizando a tal ponto de deixarem a condição de
servidores da lei e fiadores da democracia e da República, a se transformarem
em castas herméticas paraestatais, violando frontalmente os poderes que
representam a vontade popular. Atualmente, qualquer prefeito é refém de um
promotor.
Como está cada vez mais claro e
evidente, o golpe de 2016 só foi possível por ações, omissões e conivências do
sistema de justiça que, assistindo de camarote a usurpação da Constituição por
diversas vezes (inclusive em transmissões ao vivo, como no caso do vazamento do
telefonema entre a presidenta Dilma e Lula), preferiu “dormir em berço esplêndido”
enquanto uma horda de malfeitores, a serviço do rentismo internacional e dos
privilegiados nativos, preparava a facada final, através do fajuto impeachment sem crime de
responsabilidade. Encenação tão mal-ajambrada que a presidenta cassada não
perdeu seus direitos políticos, a denunciar a patifaria que se constituiu tal
processo de exceção.
Qualquer cidadão que entende um
mínimo de estado democrático de direito compreende que o golpe de 2016 se
caracterizou pelo fato de um grupo minoritário ter tomado o poder sem respaldo
e delegação popular, desrespeitando a decisão da maioria e afrontando os mecanismos
institucionais e jurídicos do dito estado democrático e, por mais esdrúxulo que
possa parecer, tal golpe ter sido respaldado por ações judiciais.
Pois muito bem. Depois de implantarem um programa de governo rejeitado pelas urnas, com as vênias pomposas da justiça eleitoral, e passados dois
anos da empreitada, as pesquisas de opinião pública apontam o
total desdém do povo em relação ao conglomerado golpista, formado pela fusão
dos três poderes que operam contra o povo e os interesses da Nação. Temer et caterva, o Congresso
- majoritariamente formado por larápios - e o judiciário da Casa Grande são
objeto de reprovação da maioria dos brasileiros.
Enquanto foi possível substituir
os tanques pelas togas, o golpe funcionou precariamente, com disputas vergonhosas, à la faroeste caboclo, pelos despojos da trama entre os usurpadores e devido a resistência
popular que se avolumava, apesar da narrativa manipuladora da mídia nativa.
Mas, aproximando-se das eleições de
outubro vindouro e haja vista a total desaprovação popular de todos os nomes do
conglomerado usurpador que pleiteiam o Planalto, as aparências ruíram e foi ficando claro que o golpe
corria risco. Portanto, só restava recorrer
à caserna para manter o projeto “de salvação nacional”, como dizia o impoluto
conselheiro presidencial, o senador Romero Jucá.
Agora, fica claro: os grupos que
empreitaram o golpe de 1964 estão novamente juntos e misturados: as elites e a mídia nacionais a serviço dos interesses norte-americanos, o sistema judicial-policial e as
Forças Armadas.
Infelizmente, tivemos a lei da
anistia que jogou uma pá de cal nos torturadores, ratificada solenemente pelo
Supremo, diga-se de passagem; depois, a Constituição Federal de 1988 não
reformou os sistemas de justiça e de segurança. Os governos democráticos, sempre governando com coalizões conservadoras, não
enfrentaram as reformas estruturais que poderiam colocar freios no poder das
corporações midiáticas e na sanha predatória das elites nacionais de
mentalidade escravocrata.
Resultado: a repressão
institucionalizada que caracterizou o golpe de 1964 está novamente montada no
país e a intervenção no Rio é somente a face mais evidente dessa quadra do
golpe.
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