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Nas rodas de conversa, na mídia empresarial e nas redes sociais há um retumbante discurso sobre a corrupção no Brasil. Até parece que aqui só há corruptos. E que os corruptos daqui estão somente na política.
Num artigo anterior (aqui) demonstrávamos que o capitalismo no seu formato de rentismo, na atualidade, funciona graças à corrupção generalizada: nada menos de 25% do PIB mundial são remetidos a paraísos fiscais por grandes empresas e instituições financeiras. Estima-se que a cada ano 18 trilhões de dólares seguem o caminho da sonegação de impostos. No Brasil, a estimativa de evasão fiscal entre 2003 e 2012 foi de 220 bilhões de dólares. Os conglomerados financeiros, via corrupção, controlam os governos, a economia, as políticas e as agências multilaterais.
Os midiotas, aqueles que odeiam a política e se deixam envenenar pela mídia e pelos setores mais retrógrados – umbilicalmente parceiros da corrupção estrutural que viceja em nosso país -, são os maiores falastrões sobre corrupção. O grupo político que mais bradou contra a corrupção no Brasil, ao som de panelas, hino nacional e camisetas da CBF (uma entidade virginal, como se sabe) assumiu o poder através de um golpe e, desde então, dia após dia, é desmascarado com práticas vergonhosas de corrupção.
Poucas são as propostas objetivas para se combater a corrupção nos poderes públicos e nas empresas, bancos e sistema financeiro global. E muita hipocrisia e cinismo retumba nesse falatório sem sentido sobre corrupção.
Será que a corrupção está somente na política institucional?
Vejamos: o cidadão que sonega imposto, fura fila e não respeita o direito alheio é corrupto.
O empresário da indústria e do comércio que vive criticando a carga tributária e é responsável por uma sonegação fiscal anual na casa de 100 bilhões de reais, é corrupto.
Os líderes religiosos que fazem pregações inflamadas contra a corrupção e não prestam contas do dízimo que arrecadam não seriam também corruptos?
A classe média que vive reclamando do estado e é composta majoritariamente por profissionais liberais também está cheia de corruptos. Certamente, você conhece advogados, médicos, odontólogos, veterinários, engenheiros, professores e outros profissionais que prestam serviços e não emitem notas fiscais e adoram burlar o fisco. São corruptos.
Há uma corrupção violenta fruto de um sistema econômico perverso: bancos que cobram taxas de juros como no Brasil estão no topo de uma corrupção legalizada. E empresários que exploram o trabalhador também são corruptos.
Quando o sistema econômico se sobrepõe aos poderes públicos é sinal de corrupção institucional e generalizada. Esse é o caso do Brasil, onde uma horda de corruptos, à serviço do capital, está no poder.
Um sistema de justiça seletivo e não isonômico é azeite à máquina da corrupção.
Para se combater a corrupção os discursos de nada valem. Mecanismos institucionais de controle público e privado, uma cultura cidadã e democrática, justiça isonômica e igualdade de direitos são os melhores remédios.
A Dinamarca, por exemplo, é um dos países menos corruptos do mundo. Sabe porquê? Porque lá os cidadãos, os políticos e os empresários são honestos. No supermercado o controle é eletrônico e as pessoas pagam os produtos sem precisar de policiamento. Os empresários não sonegam impostos, nem têm lucros exorbitantes, pois quem paga por produtos e serviços é responsável pela fiscalização. Os bancos são, razoavelmente, controlados e não praticam taxas de juros que são verdadeiros assaltos à mão desarmada.
E os políticos? Um deputado federal de lá, por exemplo, ganha o equivalente a 23 mil reais e um pedreiro 18 mil reais. Ambos, deputados e pedreiros têm os filhos na mesma escola pública, são internados no mesmo hospital público e recebem a aposentadoria pública.
Com pouca desigualdade e bons salários para todos, o pedreiro, o parlamentar e o empresário vivem "num mesmo mundo": usam transporte público e são tratados com os mesmos direitos e deveres por uma justiça cujos juízes e promotores têm o mesmo padrão de vida dos demais cidadãos.
Excelente reflexão. Parabéns!
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