sábado, 20 de maio de 2017

Para entender o atual momento político nacional: os donos do mundo, os golpes e o que podemos fazer



Não nos enganemos. Quem manda no mundo ultimamente são as corporações. Os governos são serviçais dos donos do capital.

A partir da crise financeira de 2008 recrudesceu a concentração econômica planetária. Atualmente, 28 grandes grupos financeiros manejam quase dois trilhões de dólares por ano. O balanço desses megaconglomerados financeiros que tem, entre outros, o Goldman Sachs, o JP Morgan Chase, o Bank of America, o Citigroup, o Santander mostra um patrimônio (não produtivo) de 50 trilhões de dólares, sendo que o PIB mundial está na casa dos 75 trilhões. Esses conglomerados detém cerca de 68% do fluxo  mundial do capital.

E como esses conglomerados controlam os governos, a economia, as políticas e as agências multilaterais? Dois exemplos: o orçamento da ONU no biênio 2014-2015 foi composto de 5,5 bilhões de dólares de doações dos estados membros e 14,1 bilhão de orçamentos extrais, leia-se doação de grandes grupos financeiros e empresariais. Quando o FMI, um órgão da ONU, por exemplo, é chamado para “socorrer” um país a fatura dessa “benemerência” é cobrada. É o mesmo processo que vicia a representação política, com o financiamento ou o caixa dois das campanhas eleitorais.

No plano das Nações, o controle do capital se dá não somente através desses organismos multilaterais como também através dos chamados “quadros técnicos” que compõem os governos dos países. Por exemplo, os ministros da Fazenda e/ou da Economia são, na atualidade, funcionários dos bancos; ou seja, são treinados no mundo das finanças. Dito de outra forma: lá estão para defender os interesses das corporações; nunca os interesses dos povos. Só um mal intencionado não percebe isso...

Vejamos no Brasil: o atual ministro da Fazenda veio do Banco de Boston e o atual presidente do Banco Central é cria do Banco Itaú. Aliás, Henrique Meireles também trabalhou na JBS.  E é candidatíssimo da coalizão golpista para suceder Temer, o impostor, tão logo ele renuncie ou seja deposto.

Ademais, CEO’s de bancos estão em outros cargos estratégicos dos governos. Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, por exemplo, à época da crise de 2008 era executivo do Goldman Sachs. Ele conseguiu que o rombo provocado pela crise gerada pelo mercado imobiliário fosse transferido para os governos. Ou seja, fosse paga com dinheiro dos impostos dos contribuintes. Sob Trump, essa relação promíscua entre público e privado ainda é mais explícita.

Esse sistema funciona graças à corrupção generalizada; um fenômeno internacional. Nada menos de 25% do PIB mundial são remetidos a paraísos fiscais por grandes empresas e instituições financeiras.  Estima-se que a cada ano 18 trilhões de dólares seguem o caminho da sonegação de impostos. No Brasil a estimativa de evasão fiscal entre 2003 e 2012 foi de 220 bilhões de dólares. E a turma do pato amarelo vive falando de carga tributária. Quanta desfaçatez!

Tudo isso para dizer que a corrupção é a mola propulsora do capitalismo rentista e concentrador de renda e riqueza que viceja nos últimos tempos. A concentração de poder em pouquíssimas empresas e a fusão ou compra de grandes bancos desencadeados pela crise de 2008 determina o modo de funcionamento de um sistema apodrecido e que precisa corromper governos (agentes públicos) para subsistir.

Registramos, também, a política de criação de megaempresas brasileiras durante os governos petistas, a corroborar o adensamento do já histórico processo endêmico de corrupção que assola nosso país. Certamente, essa política agravou o quadro de corrupção no Brasil.

É assim que precisamos entender o atual momento político nacional. Portanto, a visão distorcida pela mídia mostrando diuturnamente que a corrupção está associada exclusivamente a agentes políticos corruptos, incriminando o sistema político, é propositalmente falsa e manipuladora. A corrupção generalizada praticada por grandes empresas e bancos, inclusive com sistemática sonegação de impostos, é estratégia utilizada para a maximização de lucros de forma criminosa.
No caso brasileiro o escárnio beira o imponderável. Nas eleições de 2014, dez grandes grupos [bancos, empresas (empreiteiras e agronegócio) e fundos de investimento] gastaram 5 bilhões de reais e elegeram 70% do congresso nacional. Um congresso pra chamar de seu...

Esse grupo tocou o impeachment fajuto para implantar a pinguela para o passado de Temer: uma receita neoliberal que protege rentistas e destrói qualquer possibilidade de construção de um país minimamente justo.

Mas, como foram com muita sede no pote, o remédio amargo estava levando o paciente ao óbito. E como golpe começou a correr riscos era preciso reação. Ou alguém acha que as organizações globo estão preocupadas com democracia, justiça e paz?

Aqui, entra o terror dos conglomerados financeiros nacionais nos últimos dias com o adensamento da resistência popular a exigir o resgate da democracia real; ou seja, exigirem que os cidadãos voltem a decidir que o estado deve mediar as relações entre capital e trabalho, a criar mecanismos de controle do fluxo de capitais, retomando o controle político e democrático sobre a economia; uma economia a serviço do povo e não de meia dúzia de abastados.

É dentro desse complexo quadro que é preciso entender a luta fratricida das elites político-financeiras, nesse momento histórico nacional, frente à resistência popular em crescimento,no atual estágio do golpe.

Temer já cumpriu o roteiro que lhe fora atribuído pelo capitalismo rentista: vendeu e/ou destruiu o patrimônio e as grandes empresas públicas e encaminhou as políticas restritivas de direitos a garantirem o orçamento público para pagamento da dívida pública aos rentistas credores. Agora, pode ser descartado.

A briga, neste momento,  é um golpe dentro do golpe:  colocar no lugar de Temer um “homem de confiança do mercado” , a ser apresentado à sociedade como probo e eficiente, criando condições para que o grupo no poder consiga implementar as  malfadadas reformas em curso, além de viabilizar um candidato palatável em 2018, tendo em vista a derrocada dos caciques tucanos.

Usando da velhaca estratégia de respeito à constituição (que não foi respeitada quando impicharam Dilma), a ideia da ampla coalizão golpista é insistir nas eleições indiretas, mas uma vez expurgando o povo, origem e fonte do poder nas democracias, das decisões.

Em uníssono tentarão vender a ideia que o país está no rumo do crescimento com as reformas temerosas.

Mas, esquecem que o povo já começa a perceber que desenvolvimento não é crescimento (econômico, concentrador de riqueza); que crescimento só é eticamente justo e aceitável se for com distribuição de renda, inclusão e justiça social.

Portanto, é preciso unir forças para, primeiramente, retomarmos a democracia, mesmo que de baixa intensidade, com eleição diretas para presidente. Na sequência, utilizar a potente energia viva das ruas para elegermos um novo Congresso que poderá ter condições de legitimidade para promover as mudanças estruturais, como uma profunda reforma de todo o sistema político, a mãe de outras reformas como a tributária, a de comunicação, a do judiciário, a da segurança pública, dentre outras.

É hora dos movimentos sociais, sindicais e eclesiais olharem para a sociedade. É da sociedade que brotarão as forças capazes de liberarem os processos de mudanças estruturais.

___
Nota: os dados utilizados nesse texto são das seguintes fontes: DOWBOR, Ladislau, “El capitalismo cambió las reglas, la politica cambió de lugar”, Nueva Sociedad; CACCIA-BAVA, Silvio, “A corrupção e o impasse político”, encontro do Movimento Nacional de Fé e Política (maio 2017); Ministério das Relações Exteriores, “Temas orçamentários e administrativos da ONU”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário