Na
terra da hipocrisia, todo morto vira santo. E Teori, como sempre acontece
com os mortos, se tornou forte candidato a herói nacional e/ou a santo da
república das bananeiras.
Mas,
não esqueçamos que o STF e a juristocracia nacional (cujos maiores expoentes
são Gilmar, Janot e Moro) foram fundamentais para o êxito do golpe neste país.
Discute-se
o futuro da lava-jato como se a justiça brasileira fosse isenta e isonômica. E
muitos creem que Teori era um outsider dessa casta.
Pobre país que deposita confiança num sistema de justiça altamente politizado e
cheio de interesses pouco confessáveis.
Mas,
rememoremos a história do juiz que, logo ao chegar no Supremo, foi designado o
relator da lava-jato. Usando da presunção de inocência, dispositivo pouco
utilizado pelo STF nos últimos tempos, suponhamos que naquele primeiro momento,
ainda neófito na Corte, ele seria intocável, como deu a entender Romero Jucá na
conversa grampeada com Machado.
Mas,
como sabemos, as instituições totais moldam as pessoas. E como nos lembra
Foucault, tais instituições produzem pessoas disciplinadas, conformadas e
mansas.
Assim,
duas decisões tomadas por Teori foram fulcrais para o andamento e a
consolidação do golpe. Primeiro, ele ficou chocando por vários meses o pedido
da PGR de afastamento do carcará Eduardo Cunha, o primeiro e estratégico
condutor do processo golpista. Tempo suficiente para a mídia cumprir seu papel
de promotora do golpe junto à base social conservadora, insuflando as
manifestações domingueiras. Com isso, o nobre e impoluto presidente da Câmara
[à época] teve tempo suficiente para articular a votação escrota do fajuto impeachment naquela
casa legislativa; aquele espetáculo deprimente numa tarde de domingo.
Suponhamos
que Teori, como um magistrado “técnico”, tenha demorado na sua decisão por
cumprir ritos processuais. Ou por prudência. Ora, como é possível cumprir ritos
quando a democracia e a Constituição eram violentadas por segmentos da pior
espécie?
Teori
também foi o responsável pelas análises das ilegalidades cometidas pelo juiz de
Curitiba contra o ex-presidente Lula. Lembremos que esse fato, também
vitaminado pela mídia golpista, foi um ponto fundamental de inflexão para o
recrudescimento dos setores interessados em alavancar a camarilha golpista ao
poder.
Apesar
de ter criticado Moro – e a direita só lembra dessa parte da história (afinal
aparências valem mais que conveniências), surpreendentemente o "juiz
técnico do STF" avaliou que os atos ilegais, imorais e de sabotagem
política não constituíam impedimento para que o togado bem treinado pelos
“irmãos do norte” julgue o ex-presidente.
Não
quero crer que Teori tenha agido dessa forma por vontade e decisão próprias.
Acontece, que ele faz parte de um grupo altamente hermético que agiu, o tempo
todo, numa mesma direção.
Talvez, seu trabalho e suas qualidades técnicas e jurídicas poderiam se diferenciar dos demais membros do STF justamente nesse momento, quando seu papel de relator se tornaria central. E talvez, por isso mesmo, tenha ocorrido esse estranhíssimo acidente. Mas, ambas as hipóteses dificilmente poderão ser comprovadas.
Para
todos os efeitos, Teori – que tinha muitas qualidades, entre elas a discrição e
a ponderação - sempre esteve na mesma sintonia daqueles que deram o suporte
jurídico e constitucional para o golpe parlamentar-midiático-empresarial e
elitista.
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