Por: Pe. Magno Marciete do Nascimento
Oliveira
Ter domínio de alguma certeza é
desejo natural do ser humano. Vivemos à cata de certezas. Elas nos
tranquilizam, dão a sensação de segurança. Ter certeza é uma maneira mais
branda de dizer que temos uma verdade. Daí que nos caminhos tão cheios de
certezas que percorremos, por aí se costuma dizer que nossa única certeza é a
morte. Todas as outras coisas, então, ficam lançadas no campo das incertezas.
A experiência comum, mais simples,
mostra que tudo que tem vida morre. Morre tudo ao nosso redor, não simplesmente
nós. Dos inanimados aos animados tudo se desgasta, deixar de ser. Olhar para a
vida é olhar para ela passando em sua transitoriedade. No cotidiano, o olhar
fixo sobre um corpo inerte traz à tona essa realidade e inculca, por isso, essa
convicção. De tal forma isso acontece que, mesmo não pensado a todo instante na
morte, descobrimo-nos perecíveis, frágeis e sempre a um passo dessa que seria a
nossa verdade mais tangível. Conformados e inconformados, de quando em vez,
dizemos para nós mesmo que tudo passa e que um dia não estaremos mais aqui.
Diametralmente em rota de colisão
com essa consciência coletiva, o cristianismo afirma o contrário. Em tom firme,
Paulo diz que se Cristo não ressuscitou e não ressuscitamos com ele, vã é nossa
fé (Vale ler integralmente I Cor 15). Esta certeza para Paulo é carta magna.
Sua defesa sobre a ressurreição é categórica e aposta nela como única forma de
sentido real, depois de termos abraçado os passos de Jesus, que se revela na
sua inteireza e compreensível aos seus discípulos na ressurreição, o que
equivale dizer que só na ressurreição podemos compreender o sentido máximo da
vida do mestre e também da nossa. A ressurreição para Paulo não é mistério
depois da vida do mestre. A ressurreição é o meio pelo qual se interpreta o
mistério da vida do mestre. O que estava oculto é desvelado pela ressurreição.
A ressurreição, logo, debela as
incertezas que se tinham sobre Jesus. Ela não traz incertezas, as tira. É
também o caminho de volta dos discípulos para o mestre. Sem ressurreição sem o
fato cristão, o fato Jesus. Tão radical é para os cristãos essa chave para
abrir a porta para encontrar Jesus e a vida em plenitude, que mesmo afirmando a
ressurreição como centro hermenêutico para acessar o nazareno, o cristão atual
médio nem se aproxima da superfície do significado dessa vultosa experiência. Essa
desmonta a certeza comum de que a morte é a única certeza. Dizer que a morte é
a única certeza é, na ótica cristã, uma forma de guardar uma segurança bastante
frágil, que não se confronta com a ressurreição. Certeza por falta de
esperança, pela aposta mais fácil na realidade atual como única realidade. O
cristianismo, todavia, não entende assim. Percebe nessa certeza o maior medo
humano, terror de não ter certeza alguma já que não poderia se agarrar a uma
vida após a morte. Portanto, a visão cristã não vê nessa certeza a verdade
sobre os desejos do ser humano, mas o afã de querer mais, um mais que está na
ressurreição de Cristo.
A vida e não a morte é a certeza
cristã. É a ressurreição de Cristo Jesus a base para essa certeza sobre a vida
que é transformada. É o choque dado por sua ressurreição nos discípulos que faz
todos olharem para sua vida e significados. A celebração de finados, então, é
dentro desse viés a celebração da esperança no resgate do ressuscitado e sua
promessa de vida para o ser humano. Desta forma é a desconstrução da certeza da
morte, pois implode o mascaramento do medo de aceitar as incertezas, as inquietações,
as perguntas sobre o viver. Por outro lado, a ressurreição, a vida que continua
transformada, lança o desafio da fé, o sossego de balbúrdias interiores que diz
que a vida é maior que a vida que toca nossos sentidos.
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