Por: Pe. Magno Marciete do Nascimento Oliveira
Alguns
comentários apareceram nas redes sociais observando que a mesma mídia que deu
amplo espaço para a votação da câmara dos deputados e seu “circense”
espetáculo, não foi capaz de fazer uma cobertura digna do momento histórico de
Dilma apresentando sua defesa no senado. E mais uma vez constata os dois pesos
e duas medidas habituais que acompanha o processo do impedimento da presidente.
E não importa o quanto a defesa de Dilma possa representar para história do
Brasil, para a grande mídia em geral tudo o que a mulher Dilma falar não tem
importância alguma.
Nesse
momento, Dilma precisa ser execrada pela mídia. Ela precisa desaparecer. A
forma simples de fazer isso e não lhe dá holofotes. Quem não aparece na mídia
não existe. Essa é maneira que a mídia tem de fazer sua edição da realidade,
antes de editar nos seus estúdios. Primeiro se escolhe a realidade a ter foco,
para existir ou não aos olhos de todos. Sem cobertura das tvs abertas é como se
o que está acontecendo fosse um fato menor. Assim foi tratada a presença de
Dilma no senado, como um fato menor, de pouca relevância. É a história de quem
está do lado do poder que interessa. Para que mostrar a figura de quem não foi
escolhida por todas as formas de padrões do poder, do estético ao de classe,
quando se há a necessidade de desferir um golpe fatal, mortal, para destruir o
que ainda resta?
Pe. Magno |
O
golpe que estamos a acompanhar vem sendo editado a partir da realidade desde os
seus primeiros dias. Constantemente se escolheu noticiar a força dos que são
contra a presidente, contra a esquerda, a fim de esconjurar qualquer reação
contrária. Não fosse a mídia alternativa e as redes sociais não existiria
aparentemente nenhum movimento a favor das forças democráticas. Exemplar foi sobremaneira
a cobertura dada a câmara dos deputados. O requinte, em contexto clímax, dado
em dia de domingo, tudo bem planejado, para a votação pelo impeachment. Tudo é
tão bem editado que nenhum detalhe escapa. Tudo feito para todos os brasileiros
acompanharem e sedimentar um sentimento de que o fim da linha chegava para a
presidente, sem alternativas.
Com
a edição da realidade abre-se a porta para as tantas edições da fala de
presidente. Como sempre se diz que ela não sabe falar, que responde indiscriminadamente
a mesma coisa para todas as perguntas, que lhe falta inteligência e outras
conhecidas afirmações que se podem recolher na internet, mas que não
repetiremos devido ao baixo calão. Seus argumentos são, assim, negados em nome
do preconceito, da misoginia, e editados segundo várias cabeças, sobretudo de
modo a desqualificar. De lado são postas qualquer observação sobre a
fundamentação do que diz a presidente. Como a presidente mesmo disse em sua
defesa, nenhum crédito é dado às provas em contrário do que lhe acusam. A
sentença já lhe foi dada pelo ódio e a indiferença.
Todavia
a historiografia recente nos lembra bem que existe a história dos vencedores e
dos vencidos. Dilma deixa um documento histórico vivo com sua presença no
senado, inclusive sorrindo na cara de alguns que sem escrúpulos algum se
associaram a Cunha, por gestos, falas e fotos com o único objetivo de sancionar
a derrubada da democracia. Isso terá ocasião certa para recolher das
obscuridades seus fios de luz. E uma democracia mais sólida um dia agradecerá.
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