terça-feira, 30 de agosto de 2016

Mídia, golpe e edição da política


Por: Pe. Magno Marciete do Nascimento Oliveira
           
Alguns comentários apareceram nas redes sociais observando que a mesma mídia que deu amplo espaço para a votação da câmara dos deputados e seu “circense” espetáculo, não foi capaz de fazer uma cobertura digna do momento histórico de Dilma apresentando sua defesa no senado. E mais uma vez constata os dois pesos e duas medidas habituais que acompanha o processo do impedimento da presidente. E não importa o quanto a defesa de Dilma possa representar para história do Brasil, para a grande mídia em geral tudo o que a mulher Dilma falar não tem importância alguma.

Nesse momento, Dilma precisa ser execrada pela mídia. Ela precisa desaparecer. A forma simples de fazer isso e não lhe dá holofotes. Quem não aparece na mídia não existe. Essa é maneira que a mídia tem de fazer sua edição da realidade, antes de editar nos seus estúdios. Primeiro se escolhe a realidade a ter foco, para existir ou não aos olhos de todos. Sem cobertura das tvs abertas é como se o que está acontecendo fosse um fato menor. Assim foi tratada a presença de Dilma no senado, como um fato menor, de pouca relevância. É a história de quem está do lado do poder que interessa. Para que mostrar a figura de quem não foi escolhida por todas as formas de padrões do poder, do estético ao de classe, quando se há a necessidade de desferir um golpe fatal, mortal, para destruir o que ainda resta?

Pe. Magno

O golpe que estamos a acompanhar vem sendo editado a partir da realidade desde os seus primeiros dias. Constantemente se escolheu noticiar a força dos que são contra a presidente, contra a esquerda, a fim de esconjurar qualquer reação contrária. Não fosse a mídia alternativa e as redes sociais não existiria aparentemente nenhum movimento a favor das forças democráticas. Exemplar foi sobremaneira a cobertura dada a câmara dos deputados. O requinte, em contexto clímax, dado em dia de domingo, tudo bem planejado, para a votação pelo impeachment. Tudo é tão bem editado que nenhum detalhe escapa. Tudo feito para todos os brasileiros acompanharem e sedimentar um sentimento de que o fim da linha chegava para a presidente, sem alternativas.

Com a edição da realidade abre-se a porta para as tantas edições da fala de presidente. Como sempre se diz que ela não sabe falar, que responde indiscriminadamente a mesma coisa para todas as perguntas, que lhe falta inteligência e outras conhecidas afirmações que se podem recolher na internet, mas que não repetiremos devido ao baixo calão. Seus argumentos são, assim, negados em nome do preconceito, da misoginia, e editados segundo várias cabeças, sobretudo de modo a desqualificar. De lado são postas qualquer observação sobre a fundamentação do que diz a presidente. Como a presidente mesmo disse em sua defesa, nenhum crédito é dado às provas em contrário do que lhe acusam. A sentença já lhe foi dada pelo ódio e a indiferença.

Todavia a historiografia recente nos lembra bem que existe a história dos vencedores e dos vencidos. Dilma deixa um documento histórico vivo com sua presença no senado, inclusive sorrindo na cara de alguns que sem escrúpulos algum se associaram a Cunha, por gestos, falas e fotos com o único objetivo de sancionar a derrubada da democracia. Isso terá ocasião certa para recolher das obscuridades seus fios de luz. E uma democracia mais sólida um dia agradecerá.

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