Depois do
veredicto do Tribunal Internacional pela Democracia no Brasil, ocorrido no Rio
de Janeiro nesta semana, que reuniu juristas de vários países para julgar a
legalidade do impeachment da
presidenta Dilma Rousseff, concluindo que o processo, "nos termos da
decisão de sua admissibilidade pela Câmara dos Deputados e do parecer do Senado
Federal, viola todos os princípios do processo democrático e da ordem
constitucional brasileira", e ainda a "Convenção Americana de Direitos
Humanos e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, e constitui-se
um verdadeiro golpe de Estado" (veja detalhes aqui),
é preciso muito esforço para divulgar as consequências reais na vida das pessoas a partir do advento do governo interino.
Como
ficou claro na última manipulação, entre tantas outras, da grande mídia, favorecendo o grupo
usurpador (a fajuta pesquisa do Datafolha do último domingo, veja aqui), não será através do partido da imprensa golpista que o povo brasileiro, pelo
menos no presente, tomará conhecimento do processo político em curso no país.
Como
comentei no artigo anterior, o novo formato dos golpes patrocinados pela
inteligência estadunidense no seu pretenso “quintal” latinoamericano é
caracterizado pela sagacidade em travestir a violência à democracia com
roupagem de constitucionalidade. Para tanto, não são necessárias as armas;
basta arquitetar e promover uma junção dos segmentos mais conservadores,
incrustados no Parlamento, na Justiça e na sociedade (setores da classe média e
do empresariado) para se formar uma ampla coalizão que surfará com todo o
pendor a partir da ação discricionária, seletiva e manipuladora da grande
mídia, serviçal dos interesses alienígenas e do grande capital rentista e
corruptor.
Com uma
narrativa ficcional, no caso do Brasil as chamadas “pedaladas”, o bando não
armado toma de assalto o poder, sem a necessidade de tanques, mas utilizando-se
de violenta força simbólica à medida que impõe seus interesses privados em
detrimento das regras mais elementares da democracia, como o respeito ao voto e
ao eleitor (“todo poder emana do povo”).
As
reações aos golpistas vêm, fundamentalmente, de setores da sociedade civil
organizada, notadamente os movimentos sociais históricos, segmentos da classe
média progressista e um ou outro dissidente do mundo político, empresarial e
midiático. Um “batalhão” extremamente frágil a enfrentar o poderosíssimo
exército da coalizão golpista que, além de tomar o poder, usa de todos os
estratagemas para manter-se no posto e sufocar as fileiras dos opositores.
Com
exceção dos detentores dos meios de produção, os burgueses, todos os demais
segmentos da sociedade, em diferentes graus e intensidade, são prejudicados
pelo golpe. Certos segmentos ignorantes da classe média, formadores de opinião
- que pensam fazer parte da burguesia porque têm ensino superior, um carrão na
garagem, uma casa na zona sul e vai uma vez ao ano visitar o Pateta na Disney
-, negam sua condição de trabalhadores – que terão seus direitos violados e o
acesso às políticas públicas negado - e apoiam os golpistas. O fato é que,
apesar de detestarem ser classificados como tal, porque acham que trabalhador é
adjetivo de pobre, esses segmentos vendem sua força de trabalho para aquele
grupinho que é cada vez mais rico e que se locupletará ainda mais com esse
(des)governo.
Por outro lado, o povo assiste confuso o
enredo golpista. A população, acostumada a ser objeto de manipulação,
expectadora das decisões políticas e impedida de decidir os destinos da nação –
não obstante o exercício pouco consequente do voto - (e isso não foi enfrentado
durante os anos do governo petista, por leniência ou por convivência com essa
segregação política alienante) -, parece não dimensionar o futuro sombrio no
porvir.
É claro
que a educação política é um empreendimento complexo e de longo prazo. Aliás, se
nosso sistema de educação - que não educa à cidadania e é um ótimo instrumento
de docilização das mentes e dos corações para aceitar “a vida como ela é” - não
muda, quixotesca é a ideia de tratar de um processo de educação para uma ação
cívica, com vistas à transformação social na atual situação sociopolítica.
Não
obstante, seria muito oportuno que uma cartilha produzida pelo Instituto Políticas Alternativas para o
Cone Sul, intitulada “Saiba por que o afastamento da presidenta Dilma é uma
ameaça à liberdade no Brasil” fosse espalhada aos quatro cantos do país, atingindo
o maior número de cidadãos e cidadãs. De forma didática, a cartilha mostra para
os brasileiros como o governo golpista é uma ameaça real ao pouco que foi
conquistado em termos de cidadania, desde a Constituição Federal de 1988.
É
significativo, por exemplo, observar na cartilha um breve resumo da história do
país: “Desde a chegada dos portugueses na Bahia já se passaram 516 anos. Desses
516 anos, o Brasil foi colônia em 64% e teve escravidão durante 67%. Além
disso, 13,4% dos anos o Brasil foi uma monarquia, 8% uma república oligárquica
e por 7,6% uma ditadura. Apenas durante 8% dos nossos conturbados 516 anos
tivemos eleições gerais para o executivo federal. Nesse período tivemos
7 presidentes eleitos. Apenas 3 deles completaram seus mandatos (até agora).
Entre os outros quatro (até agora), um deles se suicidou para evitar um golpe e
outro tomou um golpe. Resumo da história: o Brasil não é um país democrático
sofrendo de uma febre de intolerância e golpismo. É um país intolerante e
golpista que sofreu de um pequeno espasmo democrático nos últimos anos.”.
Se você
quer acessar a cartilha, clique aqui.
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