Dilma não é
Jango e, a bem da verdade, os governos do PT nunca se comprometeram com as
reformas de base. Feita essa ressalva, qualquer brasileiro(a) que fizer um
esforço de reflexão e análise do momento histórico que vivemos perceberá muitas
semelhanças com o cenário do golpe CIVIL-militar de 1964.
Hoje, como antes, trata-se de um movimento que insiste em se impor, mesmo na ausência de provas cabais de dolo contra os acusados.
Hoje, como antes, trata-se de um movimento que insiste em se impor, mesmo na ausência de provas cabais de dolo contra os acusados.
No golpe em curso há o lado da direita, formado
pelas mesmas instituições e personalidades que tramaram 1964.
a) Mídia: representa os interesses do capital externo que não aceita a autonomia do Brasil e quer nos manter eterna colônia. Encabeçam essa rede de ilegalidade e manipulação as organizações globo, veja, folha e estadão (a promoverem e insuflarem o golpe);
b) os empresários do pato amarelo (liderados pela fiesp): representam um segmento empresarial cuja mentalidade sempre foi subserviente ao capitalismo internacional; nunca tiveram competência de implantar uma indústria autônoma e genuinamente nacional e sempre foram serviçais do capitalismo do centro (por isso, gostam é de Miami);
c) políticos de reprovável reputação, incapazes de propor um projeto de país, voltados somente para protegerem seus feudos/capitanias hereditárias; denunciados inúmeras vezes por práticas ilícitas e que têm a desfaçatez de discursarem contra a corrupção (Cunha, Aécio, Temer, Caiado, Alckmin, Serra...). (E é um escárnio constatar que a maioria dos membros da comissão do impeachment recebeu doações de empresas denunciadas na operação lava-jato.);
d) radicais de direita, incluindo religiosos (Bolsonaro, Malafaia e outros que estão entrando em cena), prontos a disseminarem o ódio e incitarem a violência real e simbólica;
e) segmentos da classe média que defendem privilégios (de classe/casta) e não a ampliação universal dos direitos (ao invés de lutarem contra a concentração de renda nas mãos de poucos ricos, preferem atacar os avanços sociais que incluíram à cidadania os empobrecidos);
f) intelectuais e artistas que fizeram fama e fortuna às custas da universidade pública e dos incentivos culturais bancados pelo erário em prol de uma educação e cultura elitizadas; que vivem dos favores das elites no poder; adeptos e defensores da velhaca "lei e ordem" burguesas;
f) e uma casta jurídica que na ditadura se fortaleceu e, paradoxalmente, se consolidou após os poderes dados a esse grupo pela CF de 1988 (parte do judiciário, MP, polícia e advogados de banca). Gilmar, Janot, Moro e o japonês da PF são as sub-celebridades desse grupo. (É lamentável um juiz do STF ser mencionado aqui. Mas, num dos últimos debates no Supremo sobre o rito do impeachment, ao dirigir-se a Gilmar, o ministro Barroso afirmou: “não sou um comentarista político; sou um defensor das instituições”. Precisa dizer algo mais?).
Constatamos que milhões de brasileiros(as), assim como ocorreu em 1964, assistem passivos
as disputas em curso. Não se trata de omissão e não devem ser culpabilizados.
Afinal, esses brasileiros não são protagonistas nas lutas sociais e políticas
porque nunca puderam ocupar esse lugar. Sempre foram tratados como sub-cidadãos,
inclusive pelo sistema educacional brasileiro que, desde o início da república
adotou Augusto Comte e nunca aceitou Paulo Freire. Uma educação que não ensina
a pensar, questionar, refletir; prefere ensinar a obedecer; disciplinar mentes
e corações a abaixarem a cabeça para as ideias prontas dos vencedores e
dominadores que escreveram nossos livros de história.
Pois bem:
existem outros lados. Num deles estão os movimentos sociais e sindicatos
(autônomos) que sempre tiveram do lado dos trabalhadores. Também há artistas,
políticos, magistrados, promotores, intelectuais e profissionais liberais da
classe média que sempre militaram na defesa da soberania brasileira e autonomia
de seu povo. Para além de partidos e pessoas preocupam-se com um país
verdadeiramente livre, socialmente justo, economicamente inclusivo. Soma-se
agora nesse lado uma potente rede de mídia alternativa e segmentos
historicamente alijados da sociedade que conquistaram um lugar ao sol nos
últimos tempos (movimentos negro, feminista, juventude, LGBT, urbanos, rurais, culturais
e outros).
A opinião
publicada pela mídia, serviçal dos ricos e poderosos de sempre, não quer que os
cidadãos entendam que há lados nessa disputa e nessa história (a história do
presente e a história do passado). Prefere anunciar aos quatros cantos, como
cornetas do apocalipse, uma terra arrasada; propaga o caos e uma crise
pré-fabricada com argumentos impositivamente criados para justificar saídas
antidemocráticas.
Como em 1964, a
direita - pelo seu poderio econômico - tem uma potência estrondosa. Mas, a
história não perdoa. Por mais que os segmentos poderosos imponham seus
domínios, há sempre uma potência insurgente e revolucionária nas bases e essa
força popular sempre reconstrói e dá dinamismo à história, revelando seus
personagens e interesses...
Por fim, vale a
reflexão de um dos intelectuais que muito admiro e que conhece profundamente a
história política do Brasil. E tem lado.
De Wanderley
Guilherme dos Santos:
O grampo da presidente da República Dilma Rousseff, sob a
responsabilidade direta do juiz Sergio Moro, e sua divulgação preferencial pelo
sistema Globo não permite outra interpretação: tentativa de interferência no
processo político nacional, com incitação à convulsão social. Sua ação,
associada à permanente propaganda do sistema Globo de rádio, televisão e
internet, estimulando a desordem, inclusive através de análises e comentários
imperitos sobre matéria jurídica de elevada gravidade, dogmaticamente
interpretando notícias fragmentadas e, finalmente, mentindo reiteradamente,
comprovam que o País ingressou na ilegalidade, que o juiz Sergio Moro,
partidariamente contaminado, perdeu o senso da legalidade jurídica, e que o
monopólio do sistema Globo de comunicação é incompatível com a ordem
constitucional.
Como
escreveu Juca Kfouri, prefiro “defender claramente a permanência de um governo
fraco, mas legítimo, para que não prevaleçam os métodos obscuros de
instituições fortes, mas autoritárias. ”
Texto esclarecedor, que explicita quais são os atores, os lados e o objetivo do jogo.
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