Manifesto já tem mais de mil adesões
Por Felipe Pontes - Da Agência Brasil
Um manifesto online, assinado por 51 acadêmicos especializados em
estudos sobre o Brasil em universidades estrangeiras, diz que a democracia
brasileira encontra-se “seriamente ameaçada” pelo atual clima político. O
documento, que convoca intelectuais estrangeiros a aderirem ao texto, já
recebeu mais de mil subscrições até a manhã desta segunda (28), desde que foi
lançado, há quatro dias.
Idealizado pelo historiador James Green, da Universidade Brown, em Rhode
Island, nos Estados Unidos, e o sociólogo brasileiro Renan Quinalha,
pesquisador convidado na Brown, o manifesto reconhece a legitimidade e a
necessidade do combate à corrupção por meio de inquéritos como os da Operação
Lava Jato, mas acusa o que seriam abusos na condução da investigação e afirma
que “setores do judiciário, com o apoio de interesses da grande imprensa, têm
se tornado protagonistas em prejudicar o Estado de Direito”.
“Tomamos a iniciativa de organizar esse abaixo-assinado por conta da
grave situação política que o Brasil atravessa hoje. Recebemos uma chamada de
acadêmicos brasileiros pedindo solidariedade na defesa da democracia e
atendemos prontamente a esse chamado”, disse Green, por email, à Agência
Brasil. “Nossa intenção foi somar a comunidade acadêmica internacional às
diversas iniciativas que estão se proliferando pelo Brasil.”
Green é autor dos livros Além do Carnaval – A Homossexualidade
Masculina no Brasil do Séc. XX (Unesp, 2000) e Apesar de Vocês – Oposição
à Ditadura Brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985(Companhia das Letras,
2009), que analisa as relações Brasil-EUA no período e conta a história de
pessoas que combateram o regime militar brasileiro a partir do país
norte-americano.
O texto é assinado, entre outros, por brasilianistas como Barbara
Weinstein (New York University), autora de diversos livros sobre o Brasil
pós-colonial; Elizabeth Leeds (Massachussets Institute of Technology – MIT),
que é também cofundadora e presidente de honra do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública; e Jean Hébrard, professor na Ecóle de Hautes Études en Sciences
Sociales, em Paris. Assinam ainda intelectuais brasileiros que no momento atuam
fora do país, como o especialista em literatura brasileira Pedro Meira
Monteiro, que leciona na Universidade Princeton, em Nova Jersey, nos Estados
Unidos, e o historiador Sidney Chalhoub, professor convidado na Universidade
Harvard, em Massachussets (EUA).
Impeachment
No manifesto, os acadêmicos enxergam um sério risco de que a retórica
contra a corrupção esteja sendo usada para desestabilizar um governo
democraticamente eleito, citando que o mesmo expediente fora utilizado antes da
queda do ex-presidente João Goulart (1964), dando espaço à ditadura militar
subsequente. À Agência Brasil, Barbara Weinstein criticou o processo
de impeachment em curso no Congresso.
“Caso surjam evidências de algo mais sério do que 'contabilidade
criativa', ou se você puder encontrar uma maioria de dois terços da Câmara dos
Deputados que se acredite nunca ter cometido qualquer ato que possa ser
descrito como 'corrupto' ou 'desonesto', então talvez eu possa considerar
legítimo que eles decidam se Dilma permanece no cargo ou é impedida”, disse
Weinstein. “Acho muito improvável.”
Para Chalhoub, um dos historiadores brasileiros de maior projeção
internacional, “o processo de impeachment tem bases muito frágeis,
como já mostraram vários juristas. E está sendo conduzido por parlamentares
sobre os quais pesam acusações de gravidade ímpar. Destituir uma presidenta
desse modo fragiliza a democracia, é um golpe contra ela, traduz apenas o
inconformismo dos derrotados nas eleições de 2014. Esse é um momento decisivo
da democracia brasileira”, disse ele à Agência Brasil.
Dos mais de mil subscritos no abaixo-assinado disponível
no site Avaaz, grande parte é composta por acadêmicos
do México e da Argentina, mas há intelectuais de países diversos, como África
do Sul, Índia, Japão e Turquia.
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