2015
dá seus últimos suspiros. Foi um ano terrível. Abateu-se em nosso país uma
grave crise política, em meio a problemas econômicos, paralisando o Brasil.
A violência, que sempre determinou a “ordem” das relações sociais no Brasil, tornou-se o recurso utilizado em doses cavalares por setores conservadores que tentam reposicionar-se num cenário de disputas reais e simbólicas. Não nos enganemos: a paz dos túmulos não existe mais. Dito de outra maneira, não haverá justiça social e igualdade no Brasil sem tocar nos privilégios historicamente acumulados. Não é possível alcançar a paz sem perder nada.
Na
atual crise política brasileira, alguns elementos são mais ou menos evidentes. Como
se não bastassem os limites da democracia representativa, temos poucos e
frágeis mecanismos de democracia direta e participativa; uma cultura altamente
individualista e pragmática; a criminalização da política pelos segmentos
conservadores; a perversidade do mercado eleitoral (via financiamento das campanhas); a burocratização
e centralização partidária e o papel seletivo desempenhado pela mídia e pelo
Judiciário.
Além
desses elementos conjunturais, a configuração política brasileira apresenta
elementos marcantes de uma longa tradição autoritária, centralizadora e
elitista; a concentração de poder nas mãos de elites políticas tradicionais, a
facilitar o clientelismo; a corrupção e o desvio de recursos públicos, um
sistema eleitoral defeituoso, principalmente pelo abuso do poder econômico nas
eleições; uma má organização partidária (extinção, fusão, multiplicação
ilimitada de partidos e legenda; fidelidade; partidos pragmáticos ao invés de programáticos),
além de outras questões como a da desproporcionalidade da representação política
dos Estados no Legislativo Federal; a baixa (ou a não) representação de
segmentos sociais (indígenas, negros, LGBT, mulheres) nos Parlamentos.
Outro fenômeno que ressurgiu nas últimas eleições foi um misto difuso de ódio e vingança, fazendo da disputa eleitoral uma verdadeira guerra, quando o processo democrático da escolha dos representantes deveria ser tão e somente um embate civilizado e respeitoso de ideias, opiniões e pontos de vista sobre os rumos do país. A quem interessa um país esfacelado?
A
intolerância, o racismo, o preconceito – principalmente de matrizes
socioeconômica e étnico-cultural -, o fascismo disfarçado de nacionalismo são
alguns dos "demônios" que saíram do armário (porque lá sempre
estiveram) e seus adeptos (que comportam como massa acéfala) querem
se impor, afrontando a democracia: privilegiados que não aceitam uma
sociedade que caminha, a passos lentos, rumo a igualdade de fato, para além da
igualdade de direito. Grupos que querem continuar a ostentar velhos privilégios
da Casa Grande. Apesar de escolarizados, são muito deseducados, porque negam a
igualdade de direitos e desconhecem a história, dado que a conquista de
direitos, mesmo lenta e gradual, é irreversível em qualquer sociedade
minimamente democrática e plural.
Não há democracia numa sociedade estamental, como era o Brasil até bem pouco tempo. A igualdade de direitos faz parte do processo de consolidação da cidadania e é fundamento das democracias.
Escolas ocupadas indicam que a juventude é sinal de esperança,
apontando saídas...
Enquanto
o Brasil encontrava-se nesse redemoinho, mais de 200 escolas no estado de São
Paulo foram ocupadas pelos estudantes, contrários a reorganização
proposta pelo governo do estado.
Depois
de mais de um mês de resistência e muita mobilização por parte dos estudantes e
apoiadores dentro e fora das escolas, o governo tucano voltou atrás e
suspendeu a reorganização.
Vitória
da rapaziada. Dos que entenderam que escola é feita não para domesticar mentes
e corações, mas para transformar vidas e realidades.
Em
Goiás, estudantes ocupam 21 escolas, em quatro cidades, contra a implantação
das OSs (Organizações Sociais) na rede pública de ensino do estado. Os
estudantes estão informando o número de instituições ocupadas em páginas no
Facebook. Nelas, eles pedem doações de alimentos e materiais de limpeza e
higiene, além de apoio para as ocupações.
Será mera coincidência os governos do PSDB em São Paulo, Goiás, Paraná (e até bem pouco tempo em Minas Gerais) tratarem com tanto desdém a educação pública? Tropa de choque para professores e retaliação aos alunos... É para pensar.... e muito!
Uma
rede de pessoas está sendo formada em São Paulo. A “Minha Sampa” é uma forma de
mobilização independente, que não aceita nenhum recurso público ou de partidos
políticos.
Vejam,
abaixo, o belo clipe musical, com a participação de renomados artistas em apoio
aos estudantes paulistas.
Que
bela notícia no final de um ano ruim. Que essa rapaziada nos inspire em 2016.
Vamos resistir contra aqueles e aquelas que, vidrados no retrovisor do passado,
não deixam nosso país seguir em frente.
Feliz ano novo!
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