O discurso do Papa
Francisco na Bolívia, um pequeno e pobre país latino-americano (cuja vitalidade
cultural e étnica tem se destacado no mundo), deixou os homens de bens das
nossas plagas desnorteados. Simbolicamente, Francisco mandou um recado
contundente aos herdeiros do colonialismo latino-americano que, vira e mexe,
querem subjugar, pelo poder do capital, as nações deste continente.
Em seu pronunciamento
claramente anticapitalista, durante o segundo Encontro Mundial de Movimentos
Populares, em Santa Cruz de la Sierra, Francisco referiu-se ao sistema
econômico como uma “ditadura sutil”.
“A distribuição justa
dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever
moral”.
Como homem atento aos
movimentos políticos e sociais deste continente e conhecedor dos mecanismos de
dominação que historicamente impedem os avanços sociais na América Latina, o
Papa chamou a atenção para a concentração da mídia que, a serviço do capital, é
o instrumento do “colonialismo ideológico”:
“A concentração
monopólica dos meios de comunicação social pretende impor pautas alienantes de
consumo e certa uniformidade cultural”.
Francisco sabe que a
dominação capitalista, que aniquila os pobres e beneficia uma pequena elite
econômica, só pode ser superada com a “mudança de estruturas”. Assim, entre a
elite econômica que se beneficia do sistema “muitos esperam uma mudança que os
libere dessa tristeza individualista que os escraviza”.
No meio de centenas de
ativistas, entre os quais integrantes do MST (que tanto assustam as elites
tupiniquins), sem-teto, indígenas e quilombolas brasileiros, o Papa perguntou:
"Reconhecemos que
este sistema (capitalista) impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem
pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?"
Para o Papa Francisco, a economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas uma forma de administração da "casa comum", que é o nosso planeta. E, portanto, a economia deveria garantir a todo cidadão os três "T": terra, teto e trabalho.
O capitalismo, em seu formato especulativo e rentista da atualidade, além de destruir as comunidades e as minorias étnicas e sociais, corrobora também a destruição do planeta, ao extrair violentamente todas as riquezas naturais, transformando-as em produtos comercializáveis.
“Digamos juntos, de coração: nenhuma
família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos,
nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem
infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem velhice digna.
Sigam a sua luta e, por favor, cuidem muito da Mãe Terra."
O capitalismo, em seu formato especulativo e rentista da atualidade, além de destruir as comunidades e as minorias étnicas e sociais, corrobora também a destruição do planeta, ao extrair violentamente todas as riquezas naturais, transformando-as em produtos comercializáveis.
"Digamos sem medo:
queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se
aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o
aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São
Francisco".
É significativo, também,
o mea culpa do Papa em relação à
cumplicidade da Igreja com os poderosos, principalmente durante o período
colonial.
"Alguns podem dizer
que quando o Papa fala de colonialismo, ele se esquece de algumas ações da
Igreja. Mas eu digo isso a vocês com lamento: muitos pecados foram cometidos
contra os povos latinos em nome de Deus. Eu, humildemente, peço perdão, não
apenas pelas ofensas da Igreja em si, mas também pelos crimes cometidos contra
povos nativos durante a chamada conquista da América".
Aterrorizados com o
discurso contundente do Papa, os grandes veículos da mídia brasileira, como
sempre pífios e parciais quando se trata de críticas aos poderosos, preferiram
focar toda a cobertura do encontro dos movimentos populares no presente que o presidente da Bolívia, Evo
Morales, deu a Francisco: um Cristo crucificado em foice e martelo: trata-se da
reprodução de uma escultura do sacerdote espanhol Luis Espinal, que tinha
ligação com movimentos sociais bolivianos e foi assassinado por paramilitares
em 1980.
As elites político-econômicas
da América Latina podem espernear. Mas, é muito significativo que o Papa
Francisco inclua em sua viagem países como Bolívia e Equador, que estão em luta
aberta contra as oligarquias locais e as potências imperialistas da
América do Norte e da Europa.
Louvado seja, Francisco!
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