Um bombardeio de informações acerca de violência nas escolas toma
conta do noticiário nos últimos tempos. A violência na escola não é um fenômeno
novo. Há relatos desse fenômeno desde o século dezenove. Porém, ultimamente
mudou a forma de manifestação da violência no âmbito escolar. As agressões
agora são muito mais graves: são casos de tentativa de homicídios, homicídios,
estupros e a presença de armas no ambiente escolar. Os envolvidos são cada vez
mais jovens e há relatos constantes do número de intrusões externas, como
acertos de conta que se iniciam fora da escola. Há uma crise de autoridade e
legitimidade da instituição escolar, como ocorre também em relação à família e
outras instituições socializadoras.
Para trabalhar as várias formas de manifestação da violência no
ambiente escolar, Bernard Charlot, sociólogo francês, propõe algumas
distinções.
O termo violência na escola
se refere às violências que ocorrem dentro da instituição escolar, mas não
estão ligadas às suas atividades. São exemplos dessa violência, os roubos,
invasões e acertos de contas por grupos rivais. Nesse caso, a escola é um local
onde a violência ocorre.
A violência na escola não é um fenômeno novo. Há relatos desse fenômeno desde o século dezenove.
A violência à escola é
a violência ligada à natureza e às atividades da instituição educacional. Ela
ocorre quando os alunos provocam incêndios e agridem os professores, por
exemplo, ou seja, a violência contra a instituição ou contra aquilo que ela
representa.
Por fim, há também a violência
da escola, que é institucional e simbólica e se manifesta, por exemplo, na
forma como a instituição escolar define os modos de composição das classes, as
formas preconceituosas de tratamentos dos alunos ou a atribuição discricionária
de notas pelos professores, etc.
É muito importante compreender que a violência está espraiada na
sociabilidade moderna. Desde a violência intrafamiliar (característica da nossa
sociedade patriarcal e machista), passando por várias modalidades de violências
interpessoais (no trânsito, por exemplo) e as múltiplas formas de violências
associadas às drogas vivemos numa sociedade que naturaliza e banaliza as várias
formas e manifestações da violência. Por que pensar que a escola
estaria fora desse contexto? Aliás, passa a ser papel da escola,
enquanto instituição de educação à cidadania, tratar dessa sociabilidade
violenta. Pois, fundamentalmente, a escola deveria formar cidadãos capazes de
conviver com as diferenças, sem se impor através de variadas formas de violência.
A violência nos estabelecimentos escolares tem, muitas vezes,
relação com desordens socioambientais. Quando se analisam as escolas com altos
índices de agressão, verifica-se uma situação de forte tensão. Os incidentes são produzidos nesse fundo de tensão social e
escolar onde um pequeno conflito pode provocar uma explosão. As
fontes de tensão podem estar ligadas às relações familiares e comunitárias. Por
isso, é importante a articulação da escola e suas práticas de ensino com a
sociedade em seu entorno.
(...) a escola deveria formar cidadãos capazes de conviver com as diferenças, sem se impor através de variadas formas de violência.
Ademais, as queixas dos
professores podem se transformar em discursos de vitimização. E como
vítimas, os educadores se colocam num lugar de impotência frente aos problemas
da violência e da aprendizagem de seus alunos. Não se trata aqui de minimizar
ou negar os dilemas enfrentados pelos professores no cotidiano escolar. Eles
são graves. Porém, é possível encontrar alternativas para a solução dos
eventuais conflitos quando os profissionais da educação se colocam, também, como
sujeitos responsáveis pelos processos educativos dos alunos e não meros
transmissores de um conhecimento muitas vezes distante da realidade escolar na
qual atuam.
Trabalhando de forma isolada, a escola não encontrará soluções
possíveis e ainda correrá o risco de entrar num círculo vicioso de perpetuação
de uma lógica criminalizante e repressiva. Os problemas
da violência são complexos e nenhuma instituição sozinha poderá resolvê-los,
sendo necessário um trabalho ampliado com outros segmentos sociais e governamentais.
Num cenário de corresponsabilidade, deve-se analisar e enfrentar a
violência como algo complexo e não apenas como um ato isolado, procurando
descriminalizar os conflitos e trabalhá-los pedagogicamente.
O pior dos mundos, no entanto, é essa espetacularização da violência na escola, que serve somente para a
implementação de respostas simplistas, ampliação do mercado privado da
segurança, criminalização de segmentos infanto-juvenis e o retorno ao velho
discurso da repressão como lenitivo para o enfrentamento de um problema que
demanda a responsabilização de todos os atores do processo educativo: pais,
professores, diretores, comunidades, governos e especialistas.
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