A segurança pública no Brasil está caquética porque os governos democráticos (Executivo e Legislativo nos planos nacional e estaduais; civis; eleitos pós 1988) não tiveram e não têm coragem de enfrentar suas mazelas.
Como apontei em minha pesquisa de doutorado, são, cinicamente, coniventes e responsáveis pela onda de barbárie e arbitrariedade que dizima a vida de milhares de cidadãos a cada ano, pela insegurança e medo generalizados... Não tratam a segurança como política pública e mantém a visão ultrapassada segundo a qual segurança pública se resolve, somente, com repressão policial seletiva (para os pobres, os negros...). O resultado, além dos milhares de mortos, de um sistema prisional caótico, da crescente onda de ódio entre as pessoas (com linchamentos públicos), do clima de medo é que cada vez o cidadão acredita menos nas instituições desarticuladas e ineficientes do sistema de justiça criminal.
Somente 30% dos brasileiros acreditam na justiça e nas polícias. Como essas instituições terão legitimidade para reverter o quadro, ainda mais quando parte de seus quadros age ao arrepio da lei?
Não adianta apontar o dedo somente para os policiais (que também têm suas responsabilidades, assim como a sociedade que se cala convenientemente desde que a barbárie seja direcionada ao OUTRO). Como diz MariaFrô, "revolta e causa indignação um governador eleito pelo PT endossar sem investigação a ação da polícia, historicamente autoritária e não raro agindo fora da lei."
A fala lamentável de Rui Costa e o genocídio negro institucionalizado
Por: Maria Frô
Revolta e causa indignação um governador eleito pelo PT endossar sem investigação a ação da polícia, historicamente autoritária e não raro agindo fora da lei.
O uso de metáfora futebolística de modo tão inapropriado só aumenta a gravidade de como está sendo conduzida a ação do governo baiano diante da chacina de 12 jovens negros no Cabula:
Segundo Rui Costa é preciso, em poucos segundos, “ter a frieza e a calma necessárias para tomar a decisão certa”. “É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol”, comparou. “Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado”, continuou.
A matança da população jovem, do sexo masculino e da cor negra no país é algo tão naturalizada que não indigna e nem comove a população brasileira. Ao contrário, possíveis vítimas nas favelas, morros e periferias dos grandes centros vivem legitimando tais ações e pedindo ‘pena de morte’ para os ‘bandidos’. Como se a pena de morte pra este grupo populacional já não existisse.
Vários programas em todos os canais televisivos expõem corpos negros cravados de bala, mutilados, ovacionam ações ilegais da polícia, repetem várias vezes cenas de tortura, linchamentos na hora do almoço e jantar.
Âncoras de telejornais louvam pitboys brancos, de classe média, justiceiros que amarram e espancam adolescentes negros em postes. Ao serem questionados de usar uma concessão pública para estimularem o crime, desqualificam a luta pelos direitos humanos e debochadamente anunciam: “Está com dó? Leva pra casa”. E quando se descobre que os jovens de classe média justiceiros traficavam drogas não há nenhum comentário de retratação no horário nobre ou qualquer tratamento desumanizador diante do caso já que os bandidos em questão são brancos e de classe média.
70% dos jovens assassinados no Brasil, ano após ano, são da cor negra. Isso tem de significar algo, mas não significa. A mentalidade escravagista, que desumanizou a pessoa negra no Brasil continua firme e forte. É o que faz um governador, eleito pelo PT, fazer um dos discursos mais lamentáveis da história.
Enquanto isso, a polícia que aplaude ruidosamente o governador é acusada de assassinar 12 pessoas que já estavam rendidas.
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