segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Seis semanas depois... e um feliz ano velho!



As eleições, comumente, sempre renovam as esperanças de dias melhores...

Mas, desde a eleição do capitão Jair Bolsonaro, em 28 de outubro, convivemos, a cada semana, com supressas e sobressaltos. Para muitos, nada mais “natural”, em se tratando de um presidente que não tinha um plano de governo claro, nem discutiu com os eleitores suas propostas de ação. Afinal, a “facada salvadora” foi um álibi perfeito para retirar do debate quem não tinha muito a apresentar à população.

Para outros, esse “cheque em branco” ao eleito será o modus operandi do futuro governo que precisará do caos, do espanto, do medo e da distração para implementar uma agenda ultraliberal, conservadora e marcada pela violência seletiva contra grupos sociais.

Segue, abaixo, uma breve síntese do que ocorreu até agora:

O aparente todo-poderoso (cujas pernas parecem ser de ferro e os pés de barro) reclama estar doente (principalmente quando é colocado em xeque); é débil e visceralmente dependente dos filhos. Estes, por seu tuno, são encrenqueiros de criação. Não sabem conviver com as diferenças e a diversidade sociopolítica e cultural e acham que governar é entupir as redes sociais de fake news a acionar um “exército” de zumbis. Para complicar a vida de uma família que se apresentar como modelar, a mulher foi pega recebendo um cheque suspeito do motorista, cuja movimentação financeira, segundo o COAF, é incompatível com a renda do titular da transferência.

O futuro chefe da Casa Civil, um político dos mais tradicionais - no sentido pejorativo do termo -, foi descoberto como "cliente" de caixa-dois. Mas, já foi indultado, porque é amigo do futuro superministro da Justiça que o perdoou, depois do nobre deputado ter explicitado um cândido arrependimento público.

Aliás, suspeita-se que o ex-juiz que comandará a justiça e a segurança pública tenha chegado ao futuro cargo depois de usar a toga para interferir no processo político e eleitoral, retirando da disputa o candidato que tinha as melhores chances nas eleições deste ano. Revelações do WikiLeaks dão conta de uma estranha relação sua com órgãos do governo norteamericano. O futuro xerife-mor, tão viçoso quando estava sentado numa cadeira de juiz, andou correndo de perguntas de jornalistas nos últimos dias. Será que, sendo o chefe do COAF, investigará a conta do motorista do chefe, cujos valores movimentados dariam para comprar dezenas de pedalinhos ou reformar um apartamento?

O superministro da economia é um especulador de ofício. Banqueiro de profissão, só pensa no andar de cima e já foi acusado de falcatruas às custas de dinheiro público. É citado num esquema de fraude em que ganhou 600 mil reais em dois dias de operação na bolsa de valores, em 2004. Segundo a investigação, o esquema envolvia um fundo de pensão ligado a funcionários do BNDES.

O chanceler é um religioso fanático e infantil. Crê que Mao-Tsé-Tung está vivo; que comunistas, em pleno século XXI, ainda comem criancinhas e, pasmem: que Trump é um enviado de Deus para salvar a civilização ocidental.

O ministro da "educação” é discípulo de um lunático boquirroto (muito inteligente, diga-se de passagem), que se diz filósofo. Entre suas propostas inovadoras para o Ministério da Educação estão o combate à doutrinação marxista e a eliminação da “ideologia de gênero”: dois fantasmas que, simplesmente, não existem. Como se vê, é um gênio!

Em relação ao “filósofo”, que também é guru do presidente e seu núcleo de poder, segundo a própria filha, ele a impedia de estudar; cultuava a poligamia e hoje se refugia nos Estados Unidos. Especializou-se em produzir vídeos para a doutrinação ultraliberal de brasileiros.

O futuro ministro do meio ambiente, um filhote de think tank norteamericano, é réu em ações por eventuais práticas de crime ambiental; quase já foi preso por não pagar pensão alimentícia aos filhos e quando candidato à deputado federal em São Paulo propunha a eliminação de javalis, da esquerda e do MST, exibindo balas de um fuzil 30 ponto 60.

A bancada do partido do todo-poderoso, antes de tomar posse, já partiu para a baixaria. Trata-se de um bando de ególatras, panfleteiros e oportunistas, incluindo seus próprios filhos, uma "jornalista" barraqueira especializada em produção e disseminação de fake news e uma advogada tresloucada, conhecida pela “dança do fogo” – quando patrocinou o impeachment sem crime de responsabilidade de uma presidenta.

Em relação a futura ministra dos direitos humanos, seus vídeos de palestras na Igreja Batista da Lagoinha são suficientes para colocá-la no seu tempo: não estou certo se no século 13 ou 15.

O grande farol a guiar o futuro governo é o rei - cada vez mais nu - do império do Norte. Trump, um paranoico desmedido - que sapateia feito barata tonta lutando para colocar as Américas de volta ao seu quintal, enquanto a China amplia cada vez mais um novo império.

Com tanta dubiedade e esquisitice, “pela primeira vez na história deste país”, teremos um governo que, mesmo contando com a generosidade de seus patrocinadores (a mídia, os rentistas, banqueiros, latifundiários e empresários, entre outros) já se iniciará tutelado pelas Forças Armadas e pelo sistema de justiça da Casa Grande (que já tutelava a política há algum tempo).

E para completar o cenário, tudo é abençoado por um bando de caçadores de níquel disfarçados de discípulos das teologias da prosperidade e do domínio, saudosos de uma teocracia aqui nos trópicos.

A bem da verdade, o desejo mudancista de parte dos eleitores brasileiros - que desde 2013 vem cobrando novos atores e autores à altura da política -, somado ao rancor e ódio de parcela dos privilegiados desta nação acabou por lançar o país num “mato sem cachorro”.

Então, feliz ano velho...

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