A
coalizão de direita, aos poucos, vai conseguindo seu intento. O golpe vai
avançando, liderado pelo filhote mais ilustre da ditadura, o grupo Globo (e seus
parceiras da velha mídia); parte do empresariado subserviente do capitalismo
global e incompetente desde sempre, porque nunca construiu uma indústria
nacional autônoma e voltada aos interesses dos brasileiros, guiado pela Fiesp;
grupos da classe média - saudosos da supremacia da Casa Grande e um bando de
políticos que “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.
Muitos
confiam numa reversão da empreitada golpista pelo Supremo Tribunal Federal. É
bom lembrar de 1964 e não alimentar muitas ilusões. Quanta inocência pensar em
isonomia e independência da justiça brasileira! Há uma casta jurídica consolidada
no país (formada por advogados de banca, e um grupo significativo de promotores, magistrados e policiais)
que não abre mão de privilégios e tem no sistema de justiça as salvaguardas
para se manterem no poder. Por isso, o STF facilmente se curvará aos ditames dos
varões de Plutarco aninhados na Câmara dos Deputados. Tudo em nome de uma pseudo-independência
dos poderes. Acreditar em independência e harmonia entre os poderes no Brasil é
como acreditar noutra lenda iluminista: a superioridade da razão.
Muitos
queremos crer que a história julgará e condenará os golpistas. Por isso
esbravejamos, “não vai ter golpe!” Mas, a bem da verdade, na história do Brasil
os crimes contra a democracia, como outros crimes praticados pelos ricos (evasão
fiscal, sonegação de impostos, apropriação indébita de bens públicos, grilagem
de terras e tantos outros) sempre compensaram. Os golpistas planejaram e
executaram as rupturas institucionais em 1930, 1937, 1964 e, mais recentemente,
em 1984, quando deputados, a maioria filhotes da ditadura, impediram a eleição
direta para presidente.
Nunca um golpista foi condenado. Como nossa história sempre é contada a partir da visão das elites vencedoras e nosso sistema educacional não se importa com formação à cidadania, apaga-se, maquia-se e desdenha-se facilmente a verdade.
Tragicamente,
quando no poder, o PT não foi firme na luta pela memória e pela verdade e foi
incapaz de reformar o sistema de segurança pública: essa estrutura
jurídico-policial criada para incriminar, perseguir, vigiar e punir os pobres,
os trabalhadores, os movimentos sociais, os negros, as mulheres e outras
minorias. Ao contrário, o PT manteve intocados os torturadores e assassinos incrustados nessas estruturas e que desde sempre deram o devido respaldo à coalizão de direita.
Mas,
qual o crime praticado por Dilma? Pedaladas fiscais? Contem-me outra história.
Se esse for o crime, nenhum governador se livraria da perda de mandato; sem
contar que presidentes anteriores, que cometeram os mesmos erros, nunca foram sequer
questionados. Dinheiro de empresas abastecendo sua campanha? Deixem de ser
hipócritas! Todos os partidos e os salvadores que se apresentam nesse momento
estão na mesma vala-comum e a “lista da Odebrecht” não deixa dúvidas a esse
respeito. Obstrução à justiça? Onde estão as provas? Não há posição do
Judiciário sobre esse fato. Recessão econômica? Em boa medida, a crise política
fabricada artificialmente pela coalizão de direita aprofundou a decadência
econômica atual.
Ademais, quem garante que os moralistas sem moral que se postam como solução para a crise terão condições de superar os impasses econômicos, pela sua magnitude. Só o farão se estuprarem os direitos trabalhistas, como constam alguns programas apresentados por víboras do PMDB e do PSDB, descaradamente.
A
comissão do impeachment, um clube de gatunos, salvo exceções, e o presidente da
Câmara, sujeito inclassificável, não têm moral para julgarem sequer um serial killer confesso. Quanto mais, uma
presidenta eleita democraticamente.
Agora,
no mar da lama da corrupção, o que resta é a traição. Ratos saindo dos porões à
caça de migalhas do banquete de usurpadores da nação que se postam como
salvadores da pátria. E o PMDB, o histórico cafetão da política nacional, cumpre,
mais uma vez, sua sina de vendilhão do templo da democracia.
Para
todos os efeitos, é uma vergonha observar, meio impotente, uma mulher honesta e
justa, sem nenhum crime comprovado, ser traída e julgada por figuras como
Eduardo Cunha, Michel Temer e Renan Calheiros: os três mosqueteiros que,
segundo inúmeras denúncias, seriam especializados na pilhagem do erário.
Vergonha maior é observar que gatunos graduados na ladroagem de outros tantos
partidos, que só pensam em si e nos seus interesses, já negociam até as
próprias vísceras para se safarem da enxurrada de denúncias e escândalos que
envolvem suas biografias e almejam participar, incólumes, do banquete fétido de
um próximo governo ilegítimo.
E mesmo que o impeachment seja enterrado, a governança política do país, na atual conjuntura, parece ser uma espada de Dâmocles rente ao pescoço de Dilma Rousseff. Aliás, com o sistema político destroçado nessa guerra fratricida pelo poder, haveria salvação para qualquer governo no futuro?
Ao
invés de uma saída política negociada, uma recomposição de diferentes forças
políticas em prol dos interesses nacionais, visando uma saída segura e
constitucional da crise, os profetas do caos preferem lançar o país num mar
turvo de incertezas acerca de nosso futuro como nação. O preço será alto
demais. E certamente, serão os mesmos de sempre a pagarem essa conta.
Infelizmente, você tem razão. Trágico seria se o co-autor das pedaladas, o vice-presidente que as assinou, também for impedido. Aí o Brasil seria posse exclusiva do senhor Jesus.com e só teria ministros guiados pelo fundamentalismo bíblico. Já pensou a tragédia?
ResponderExcluir