Este post tem
como objetivo traçar, de maneira sucinta, um resumo sobre questões da segurança
pública brasileira.
A violência no
Brasil, em especial a criminalidade violenta, cresce assustadoramente há mais
de quatro décadas. Mas é preciso esclarecer que os problemas da segurança
pública brasileira são reflexos de um legado político autoritário. As bases do
sistema público de segurança estão assentadas numa estrutura social
historicamente conivente com a violência privada, a desigualdade social,
econômica e jurídica e os “déficits de cidadania” de grande parte da população.
Nas últimas décadas, a violência passou a se constituir em um grande obstáculo
ao exercício dos direitos de cidadania. Resultado: com medo e não confiando nas
instituições encarregadas da implementação e execução de políticas de
segurança, percebe-se uma evidente diminuição da coesão social, a
criminalização da pobreza, a desconfiança generalizada entre as pessoas e a
ampliação de um mercado paralelo de segurança privada.
Vamos
a um exemplo concreto: Minas Gerais. O segundo estado brasileiro em população e
o terceiro em termos de Produto Interno Bruto.
As
taxas de crimes violentos continuam altas há pelo menos três anos e quedas
sazonais não indicam melhorias a curto prazo. Sintomaticamente, observamos um
desarranjo na gestão da política estadual de segurança pública. A bem da
verdade, uma deterioração na gestão e nos indicadores de crimes começou em 2011
e não foi superado no atual governo. Em certa medida, notamos, inclusive,
alguns graves retrocessos nesse ano. A violência policial, por exemplo, estampa
cotidianamente as páginas dos jornais (que adoram explorar, com doses cavalares
de sensacionalismo, esse tipo de notícia). O sistema prisional está à beira do
colapso. As disputas entre as corporações policias estão de volta. Corrobora
esse quadro a fragilidade nas ações de integração policial, a redução em
investimentos e programas de prevenção à criminalidade e a retomada de uma
política de encarceramento em massa. Registre-se, ainda, baixíssimos
investimentos em estruturas de investigação, inteligência e perícia policial e os
frágeis mecanismos de controle externo das polícias.
Mas,
quais os principais desafios para o
combate à criminalidade? Seriam
necessárias medidas em distintas áreas, que envolvem políticas articuladas de
segurança, saúde, assistência social e proteção a segmentos vulneráveis, em
todos os níveis de governo (municípios, estados e União). O aumento persistente
dos crimes, há pelo menos quatro décadas no Brasil, sinaliza que as agências
encarregadas pela aplicação da lei não se prepararam para o recrudescimento e a
sofisticação da criminalidade, agindo quase que exclusivamente de modo reativo.
Além do mais, impunidade, seletividade e morosidade são características
marcantes do sistema de justiça criminal brasileiro.
Ademais,
para responder ao recrudescimento da criminalidade, os governos federal e
estaduais, os legisladores e a justiça criminal têm implementado uma série de
medidas reativas. Em sua quase totalidade, essas medidas enfatizam o aumento do
poder punitivo do Estado.
As
ações de repressão, de contenção social e criminalização dos pobres e o
recrudescimento penal, obviamente, não são suficientes para a construção de
sociedades pacíficas. Significativa parte do problema da violência não é de
polícia. Demanda respostas no âmbito da política. Sendo assim, programas e
políticas públicas que combinam a prevenção à criminalidade, o combate
ostensivo às várias modalidades de crime, o tratamento e a redução de danos
para usuários e dependentes de drogas e ações duradouras de promoção da
cidadania têm se mostrado eficientes no enfrentamento da violência.
Há,
ainda, a necessidade de incremento da capacidade investigativa das polícias e
de melhoria do controle externo, reformas no sistema prisional, programas para
a resolução de conflitos em locais com altos índices de criminalidade e
mecanismos de participação social na política de segurança.
Por
fim, uma política de segurança pública deve
priorizar a promoção da cidadania e respeito aos direitos humanos. Não
adianta procurar atalhos. O único caminho possível para uma sociedade segura se
dá com a diminuição das injustiças sociais, econômicas, étnicas, etc.: A paz é fruto da justiça! Isso só será
possível articulando a segurança pública com as políticas sociais por um lado
e, também, com uma ousada reforma institucional das agências policiais e
judiciárias encarregadas da aplicação da lei. Em outras palavras: remendos
novos em panos velhos não resolvem os históricos e sedimentados problemas da segurança
pública brasileira. A única saída é uma reforma estrutural em todo o sistema de
justiça criminal, obviamente incluindo as agências de segurança pública.
É
preciso avançarmos com uma política de segurança que esteja adequada aos
princípios e práticas da chamada “segurança cidadã” que se refere a uma ordem democrática,
igualitária, isonômica, eficiente e justa que permite a convivência segura e
pacífica de todos e todas, independentemente de sua classe social, seu poder
econômico, sua origem étnico-racial e sua filiação política ou religiosa.
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