terça-feira, 29 de dezembro de 2015

2015 vai tarde. Para 2016 há sinais de esperança!


2015 dá seus últimos suspiros. Foi um ano terrível. Abateu-se em nosso país uma grave crise política, em meio a problemas econômicos, paralisando o Brasil.

A violência, que sempre determinou a “ordem” das relações sociais no Brasil, tornou-se o recurso utilizado em doses cavalares por setores conservadores que tentam reposicionar-se num cenário de disputas reais e simbólicas.  Não nos enganemos: a paz dos túmulos não existe mais. Dito de outra maneira, não haverá justiça social e igualdade no Brasil sem tocar nos privilégios historicamente acumulados. Não é possível alcançar a paz sem perder nada.

Na atual crise política brasileira, alguns elementos são mais ou menos evidentes. Como se não bastassem os limites da democracia representativa, temos poucos e frágeis mecanismos de democracia direta e participativa; uma cultura altamente individualista e pragmática; a criminalização da política pelos segmentos conservadores; a perversidade do mercado eleitoral (via  financiamento das campanhas); a burocratização e centralização partidária e o papel seletivo desempenhado pela mídia e pelo Judiciário.

Além desses elementos conjunturais, a configuração política brasileira apresenta elementos marcantes de uma longa tradição autoritária, centralizadora e elitista; a concentração de poder nas mãos de elites políticas tradicionais, a facilitar o clientelismo; a corrupção e o desvio de recursos públicos, um sistema eleitoral defeituoso, principalmente pelo abuso do poder econômico nas eleições; uma má organização partidária (extinção, fusão, multiplicação ilimitada de partidos e legenda; fidelidade; partidos pragmáticos ao invés de programáticos), além de outras questões como a da desproporcionalidade da representação política dos Estados no Legislativo Federal; a baixa (ou a não) representação de segmentos sociais (indígenas, negros, LGBT, mulheres) nos Parlamentos.

Outro fenômeno que ressurgiu nas últimas eleições foi um misto difuso de ódio e vingança, fazendo da disputa eleitoral uma verdadeira guerra, quando o processo democrático da escolha dos representantes deveria ser tão e somente um embate civilizado e respeitoso de ideias, opiniões e pontos de vista sobre os rumos do país. A quem interessa um país esfacelado?

A intolerância, o racismo, o preconceito – principalmente de matrizes socioeconômica e étnico-cultural -, o fascismo disfarçado de nacionalismo são alguns dos "demônios" que saíram do armário (porque lá sempre estiveram) e seus adeptos (que comportam como massa acéfala) querem se impor, afrontando a democracia: privilegiados que não aceitam uma sociedade que caminha, a passos lentos, rumo a igualdade de fato, para além da igualdade de direito. Grupos que querem continuar a ostentar velhos privilégios da Casa Grande. Apesar de escolarizados, são muito deseducados, porque negam a igualdade de direitos e desconhecem a história, dado que a conquista de direitos, mesmo lenta e gradual, é irreversível em qualquer sociedade minimamente democrática e plural.

Não há democracia numa sociedade estamental, como era o Brasil até bem pouco tempo. A igualdade de direitos faz parte do processo de consolidação da cidadania e é fundamento das democracias. 
Escolas ocupadas indicam que a juventude é sinal de esperança, apontando saídas...

Enquanto o Brasil encontrava-se nesse redemoinho, mais de 200 escolas no estado de São Paulo  foram ocupadas pelos estudantes, contrários a reorganização proposta pelo governo do estado.




Depois de mais de um mês de resistência e muita mobilização por parte dos estudantes e apoiadores dentro e fora das escolas, o governo tucano voltou atrás e suspendeu a reorganização.

Vitória da rapaziada. Dos que entenderam que escola é feita não para domesticar mentes e corações, mas para transformar vidas e realidades.

Em Goiás, estudantes ocupam 21 escolas, em quatro cidades, contra a implantação das OSs (Organizações Sociais) na rede pública de ensino do estado. Os estudantes estão informando o número de instituições ocupadas em páginas no Facebook. Nelas, eles pedem doações de alimentos e materiais de limpeza e higiene, além de apoio para as ocupações.

Será mera coincidência os governos do PSDB em São Paulo, Goiás, Paraná (e até bem pouco tempo em Minas Gerais) tratarem com tanto desdém a educação pública? Tropa de choque para professores e retaliação aos alunos... É para pensar.... e muito!

Uma rede de pessoas está sendo formada em São Paulo. A “Minha Sampa” é uma forma de mobilização independente, que não aceita nenhum recurso público ou de partidos políticos.

Vejam, abaixo, o belo clipe musical, com a participação de renomados artistas em apoio aos estudantes paulistas.



Que bela notícia no final de um ano ruim. Que essa rapaziada nos inspire em 2016. Vamos resistir contra aqueles e aquelas que, vidrados no retrovisor do passado, não deixam nosso país seguir em frente.


Feliz ano novo!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Não nos enganemos: segurança só é possível numa sociedade justa

A violência no Brasil, em especial a criminalidade violenta, cresce assustadoramente há mais de quatro décadas. Mas é preciso esclarecer que os problemas da segurança pública brasileira são reflexos de um legado político autoritário. As bases do sistema público de segurança estão assentadas numa estrutura social historicamente conivente com a violência privada, a desigualdade social, econômica e jurídica e os “déficits de cidadania” de grande parte da população.



Nas últimas décadas, a violência passou a se constituir em um grande obstáculo ao exercício dos direitos de cidadania. Resultado: com medo e não confiando nas instituições encarregadas da implementação e execução de políticas de segurança, percebe-se uma evidente diminuição da coesão social, a criminalização da pobreza, a desconfiança generalizada entre as pessoas e a ampliação de um mercado paralelo de segurança privada.

Mas, quais os principais desafios para o combate à criminalidade? Seriam necessárias medidas em distintas áreas, que envolvem políticas articuladas de segurança, saúde, assistência social e proteção a segmentos vulneráveis, em todos os níveis de governo (municípios, estados e União). O aumento persistente dos crimes, há pelo menos quatro décadas no Brasil, sinaliza que as agências encarregadas pela aplicação da lei não se prepararam para o recrudescimento e a sofisticação da criminalidade, agindo quase que exclusivamente de modo reativo. Além do mais, impunidade, seletividade e morosidade são características marcantes do sistema de justiça criminal brasileiro.

Ademais, para responder ao recrudescimento da criminalidade, os governos federal e estadual, os legisladores e a justiça criminal têm implementado uma série de medidas reativas. Em sua quase totalidade, essas medidas enfatizam o aumento do poder punitivo do Estado.

As ações de repressão, de contenção social e criminalização dos pobres e o recrudescimento penal, obviamente, não são suficientes para a construção de sociedades pacíficas. Significativa parte do problema da violência não é de polícia. Demanda respostas no âmbito da política. Sendo assim, programas e políticas públicas que combinam a prevenção à criminalidade, o combate ostensivo às várias modalidades de crime, o tratamento e a redução de danos para usuários e dependentes de drogas e ações duradouras de promoção da cidadania têm se mostrado eficientes no enfrentamento da violência.

Há, ainda, a necessidade de incremento da capacidade investigativa das polícias e de melhoria do controle externo, reformas no sistema prisional, programas para a resolução de conflitos em locais com altos índices de criminalidade e mecanismos de participação social na política de segurança.

Por fim, uma política de segurança pública deve priorizar a promoção da cidadania e respeito aos direitos humanos. Não adianta procurar atalhos. O único caminho possível para uma sociedade segura se dá com a diminuição das injustiças sociais, econômicas, étnicas etc.: A paz é fruto da justiça! Isso só será possível articulando a segurança pública com as políticas sociais por um lado e, também, com uma ousada reforma institucional das agências policiais e judiciárias encarregadas da aplicação da lei. Em outras palavras: remendos novos em panos velhos não resolvem os históricos e sedimentados problemas da segurança pública brasileira. A única saída é uma reforma estrutural em todo o sistema de justiça criminal, obviamente incluindo as agências de segurança pública.

É preciso avançarmos com uma política de segurança que esteja adequada aos princípios e práticas da chamada “segurança cidadã” que se refere a uma ordem democrática, igualitária, isonômica, eficiente e justa que permite a convivência segura e pacífica de todos e todas, independentemente de sua classe social, seu poder econômico, sua origem étnico-racial e sua filiação política ou religiosa.



Publicado originalmente no Jornal Santuário de Aparecida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Feliz Natal para TODOS(AS) OS(AS) BRASILEIROS(AS)!




PARA TODOS aqueles e aquelas que não têm medo do fascismo e do egoísmo narcisista de poucos privilegiados;

que lutam por um Brasil mais justo e igualitário;

que enfrentam de peito aberto a sanha dos segregacionistas;

que disputam com aqueles(as) fixados no retrovisor, a insistirem num país DE e PARA POUCOS...

PARA TODOS(AS) QUE SABEM QUE A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA,


um feliz Natal e um 2016 cheio de energia, paz e muito axé, solidários e embalados(as) pela canção de Chico Buarque:


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O melhor livro sobre segurança pública com 50% desconto

Comentário do ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, professor Ricardo Brisolla Balestreri: 

O melhor, mais completo e mais bem informado livro sobre a história recente da segurança pública no Brasil.




Comentário do ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, professor Luiz Eduardo Soares: 

Desde logo, trata-se do primeiro estudo dedicado à política nacional de segurança pública, no Brasil democrático, isto é, pós-promulgação da Constituição federal de 1988 (…). A análise é riquíssima porque mapeia perspectivas, disposições, sensibilidades, conceitos e projetos, que estão longe de esgotarem-se em planos de governo ou programas de políticas públicas de órgãos específicos. 

Adquira o seu exemplar com 50% de desconto, diretamente no site da Editora Letramento, através do link abaixo:

Clique aqui >>>

sábado, 19 de dezembro de 2015

ÁUDIO: Cidadania nas Ruas e nas Redes - os jovens e os crimes

O alto índice de assassinatos no Brasil, 60 mil por ano, é o tema do programa apresentado pelo professor Robson Sávio que faz uma profunda reflexão sobre causas e caminhos que precisam ser feitos em busca de solução. 




Ele ressalta que o jovem é a maior vítima, especialmente o jovem negro.  Além de assassinatos, relacionados com a disponibilidade de armas e com o tráfico de drogas, cresce também outros tipos de violências como acidentes de trânsito e suicídio. 

As políticas públicas  precisam olhar para os jovens como os mais necessitados de atenção, pois são as principais vítimas.

Ouça o áudio do comentário, diretamente no link da Rádio Sinpro Minas, clicando AQUI >>>

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

UMA TRÉGUA NO FINAL DO ANO


A votação sobre o rito do impeachment no Supremo Tribunal Federal e o início das férias parlamentares possibilitarão uma suspensão temporária das hostilidades que, certamente, voltarão à tona no próximo ano com as eleições municipais. A curto prazo sou pessimista; a longo prazo penso que o atual momento propiciará o amadurecimento da democracia. Essa senhora que, francamente, não dá mais conta de resolver os dilemas de uma sociedade ainda desigual, injusta e violenta. Na melhor das hipóteses, nossa democracia tem que ser reinventada se quiser sobreviver... Mas, isso é outra história!


Na sessão do Supremo  ficou claro que os gritos pueris, raivosos e frustrados de Dias Toffoli e Gilmar Mendes não foram suficientes para intimidar a Corte. O ministro Barroso, de forma gentil e firme, proferiu um voto memorável. Mostrou que a Suprema Corte, numa democracia, é guardiã da Constituição e não dos interesses privados, autoritários e casuísmos.

A incoerência explícita de Fachin, antes um defensor do voto aberto, surpreendentemente proferindo o voto mais conservador da Corte, negando em parte seu passado, foi a triste surpresa. O que que Fachin aconselha que seja feito com suas manifestações anteriores favoráveis ao voto aberto?

Ricardo Lewandowski, atacado pelas elites conservadoras desde sua postura isenta na Ação Penal 470, fechou com chave de ouro a votação: os representantes (eleitos) têm que dar satisfação do mandato aos representados que os elegeram. Voto aberto e transparência é o mínimo que se espera de políticos honestos. Vitória da democracia!



Há que se registrar, ainda, a coragem do PCdoB ao propor a ação que questionou o rito do impeachment. Ousadia cívica em defesa da democracia a mostrar que partidos coerentes com seus programas ainda têm espaço e valor... 

Por outro lado, o ano termina com a "caixa de pandora" (que ocultava os saudosos do país da casa grande e da senzala) aberta. E isso é muito bom. Numa sociedade marcada pela hipocrisia e desfaçatez, pelo menos é possível, agora, identificar quem são aqueles(as) que se aliam ao gangsterismo político, ao oportunismo, ao desprezo à democracia e suas regras mais basilares, ao jogo sujo e desleal do vale-tudo. Golpistas não passarão!

Porém, não sou ingênuo: o mundo, a América Latina e, em breve, o Brasil já começam a viver tempos de direitização. Mas, resistir é preciso... 
As manifestações organizadas pela Frente Brasil Popular na última quarta-feira, país afora, mostram que dezenas de movimentos sociais, sindicados, movimentos estudantis e eclesiais e seus militantes estão cheios de disposição para a disputa política.



Os anais da história do Brasil encontram-se escancarados para registrarem à posteridade esses tempos, seus atores e as ideias que marcarão a história da atual e das futuras gerações.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Não vai ter golpe: movimentos sociais não se amesquinham e ocupam as ruas

16 de dezembro de 2015. Foi lindo! Cerca de 20 mil pessoas pelas ruas de BH numa manifestação alegre, pacífica e cheia de esperança. Todos numa só voz; num só desejo: a luta pela democracia e contra as tentativas golpistas orquestradas por segmentos da elite socioeconômica.


Organizada pela Frente Brasil Popular, a manifestação foi um protesto retumbante contra a tentativa de derrubar Dilma, pelo afastamento imediato de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e contra o ajuste fiscal do atual governo, que penaliza os(as) trabalhadores(as).




É claro que a mídia protofascista desdenhou da imensa mobilização que ocorreu, simultaneamente, em 20 capitais e noutras cidades; não deu manchete; não teve flashes a cada 10 minutos... 



Mas, o que esperar dessa imprensa porca, podre e corrupta e seus mentores? Do PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA, que apoia e promove o golpe... 

O fato é que dezenas de movimentos sociais, sindicados, movimentos estudantis e eclesiais estavam presentes e seus militantes cheios de disposição para a disputa política. E gente da classe média também (como professores, de vários níveis e de universidades, médicos, engenheiros, jornalistas,  advogados...). Não é toda a classe média que é fascista. Ainda bem! 


Que os mentores do golpe (Cunha, Aécio Neves, FHC, Temer, Ronaldo Caiado, Álvaro Dias, Agripino Maia, Roberto Freire, José Serra, Aloysio Nunes, Jair Bolsonaro, Mendonça Filho, Feliciano, Cássio Cunha Lima, Paulinho da Força, entre outros) entendam, de uma vez por todas, que não há atalhos para se chegar na presidência. 

Não estamos no parlamentarismo, regime no qual o Congresso pode derrubar o gabinete presidencial. Aqui, é presidencialismo e as eleições acontecem a cada 4 anos. Portanto, ao invés de tramarem golpes, tratem de trabalhar, de fazer política com o mínimo de honestidade; de apresentar uma proposta para o Brasil e disputá-la nas urnas. 


Por fim, que todos compreendam: o maior valor de uma sociedade democrática é a IGUALDADE: base de todos os demais valores. Portanto, que as mudanças continuem no país, sem retrocessos. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Vladimir Safatle: “O Estado Oligárquico de Direito”

Artigo do filósofo e professor da USP Vladimir Safatle, publicado originalmente na edição desta sexta-feira (11/12) da Folha de São Paulo.

Neste exato momento, a população brasileira vê, atônita, a preparação de um golpe de estado tosco, primário e farsesco. Alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república da América Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos bastidores, conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de montar um novo governo com próceres da oposição que há mais de uma década não conseguem ganhar uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da administração pública se veem como dotados de um direito divino e eterno de governar as terras da nossa república, para eles, “ganhar eleições” é um expediente desnecessário e supérfluo.
O vice tem como seu maior aliado o presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas com vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante para distrair parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. O nome de sua empresa diz tudo a respeito do personagem: “Jesus.com”.
O golpe ganha um ritmo irreversível enquanto a presidenta afunda em suas manobras palacianas estéreis e nos incontáveis casos de corrupção de seu governo. Ela havia dado os anéis para conservar os dedos; depois deu os dedos para guardar os braços. Mais a frente, lá foram os braços para preservar o corpo, o corpo para guardar a alma e, por fim, descobriu-se que não havia mais alma alguma. Reduzida à condição de um holograma de si mesma e incapaz de mobilizar o povo que um dia acreditou em suas promessas, sua queda era, na verdade, uma segunda queda. Ela já tinha sido objeto de um golpe que tomou seu governo e a reduziu à peça decorativa. Agora, nem a decoração restou.
Bem, este romance histórico ruim e eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira. Que ela termine com um golpe de estado primário, fruto de um pedido de impeachment feito em cima da denúncia de “manobras fiscais” em um país no qual o orçamento é uma ficção assumida por todos, isto diz muito a respeito do que a Nova República realmente foi. Incapaz de criar uma democracia real por meio do aprofundamento da participação popular nos processos decisórios do Estado e equilibrando-se na gestão do atraso e do fisiologismo, ela acabou por ser engolida por aquilo que tentou gerir. Para justificar o impeachment, alguns são mais honestos e afirmam que um governo inepto deveria ser afastado. É verdade, só me pergunto por que então conservar Alckmin, Richa, Pezão e cia.
O fato é que, no lugar da Nova República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua feição de Estado Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter público dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas por meio da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os interesses não mais da elite cafeeira, mas da elite financeira.
Mas como a população brasileira descobriu o caminho das ruas (haja vista as ocupações dos estudantes paulistas), engana-se aqueles que acreditam poder impor ao país os princípios de uma “unidade de pacificação”. Contem com um aumento exponencial das revoltas contra as políticas de um governo que será, para boa parte da população, ilegítimo e ilegal. Mas como já estamos dotados de leis antiterroristas e novas peças de aparato repressivo, preparem-se para um Estado policial, feito em cima de leis aprovadas, vejam só vocês, por um “governo de esquerda”. Faz parte do comportamento oligarca este recurso constante à violência policial e ao arbítrio para impor sua vontade. Ele será a tônica na era que parece se iniciar agora. Contra ela, podemos nos preparar para a guerra ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim.
(Observação: destaques no texto são de responsabilidade do autor do blog).

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

MANIFESTO EM DEFESA DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 08/12/2015


Sob a liderança de Leonardo Boff e juntamente com dezenas de intelectuais, militantes sociais de renome, artistas, educadores, jornalistas, escritores, entre outros, assinei este manifesto em defesa da democracia e contra o golpe. 


Vamos divulgá-lo amplamente.

Liderado pelo teólogo,filósofo e escritor brasileiro Leonardo Boff, está circulando entre artistas e intelectuais o Manifesto em Defesa das Instituições Democráticas. O texto defende a legalidade das instituições democráticas e a cassação de Eduardo Cunha por este ter perdido a e legitimidade necessária para presidir a Câmara dos Deputados. O documento apela aos parlamentares, ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal uma atuação corajosa para manutenção do Estado de Direito. 

Até o momento, o Manifesto já conta com a adesão de nomes de destaque, como o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, o sociólogo e professor Emir Sader, os atores Paulo Betti, Sérgio Mamberti, Dira Paes, Chico Diaz e Cristina Pereira, o escritor Eric Nepumoceno, os músicos Chico César, Nelson Sargento e Teresa Cristina, o jurista Fábio Konder Comparato, Luiz Pinguelli Rosa, Diretor do COPPE/UFRJ, a Presidenta da UNE Carina Vitral e o ex-ministro de Direitos Humanos do governo FHC, Paulo Sérgio Pinheiro e tantos outros.
*****************************
  MANIFESTO EM DEFESA DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

O Brasil vive um momento histórico em que a legalidade e as instituições democráticas são testadas, o que exige opinião e atitude firme de todos e todas que têm compromisso com a democracia.

Desde as eleições de 2014, vivemos um grande acirramento político que permeia as mais diversas relações humanas e sociais. Essa situação ganhou novos ingredientes a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados e, de forma especial, após este ser denunciado pelo Ministério Público Federal por seu envolvimento em atos de corrupção, possuindo contas bancárias no exterior e ocultando patrimônio pessoal.

Absolutamente acuado pelas denúncias, pelas fartas provas do seu envolvimento em atos ilícitos e enfrentando manifestações em todo Brasil contra a agenda conservadora e retrógrada do ponto de vista de direitos que lidera, Cunha, que já não tem mais nenhuma legitimidade para presidir a Câmara, decidiu enfrentar o Estado Democrático de Direito. A aceitação de um pedido de impedimento da Presidenta da República no momento em que avança o processo de cassação do deputado é uma atitude revanchista que atenta contra a legalidade e desvia o foco das atenções e das investigações.

Neste sentido, viemos a público repudiar a tentativa de golpe imposta por Eduardo Cunha, por não haver elementos que fundamentem esta atitude, a não ser pelo desespero de quem não consegue explicar o seu comprovado envolvimento com esquemas espúrios de corrupção. Não se trata neste momento de aprovar ou reprovar a administração nem a forma como a Presidenta da República governa, mas defender a legalidade e a legitimidade das instituições do nosso país.

Por outro lado, defendemos o cumprimento do Regimento da Câmara dos Deputados e da Constituição Federal, ambos instrumentos com fartos elementos que justificam a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Caso contrário, toda a classe política e as instituições brasileiras estarão desmoralizadas, por manter no exercício do poder um tirano que utiliza seu cargo de forma irresponsável para manutenção dos seus interesses pessoais. 

Apelamos às e aos parlamentares, ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal, autoridades cuidadoras da sanidade da política e da salvaguarda da ordem democrática num Estado de Direito, sem a qual mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil clama pela atuação corajosa e decidida de Vossas Excelências.

Não aceitamos rompimento democrático! Não aceitamos o golpe! Não aceitamos Cunha na presidência da Câmara dos Deputados!

Brasil, dezembro de 2015.


Assinam este manifesto:
Leonardo Boff – Teólogo,Filósofo, Escritor e Professor
Emir Sader – Sociólogo, Cientista Político, Escritor e Professor
Eric Nepumoceno – Escritor
Chico Buarque – Cantor, Compositor e Escritor
Paulo Betti – Ator
Chico César – Músico
Sérgio Mamberti – Ator
Dira Paes – Atriz
Chico Diaz – Ator
Fábio Konder Comparato – Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Nelson Sargento – Músico, Compositor, Escritor, Ator e Artista Plástico
Teresa Cristina – Cantora
Sara Antunes – Atriz
Georgiana Goes – Atriz
Lucia Bronstein – Atriz
Marco Lucchesi – Escritor e membro da Academia Brasileira de Letras
Paulo Sérgio Pinheiro -Professor de Ciência Política da USP e Ex-Ministro de Direitos Humanos do Governo Fernando Henrique Cardoso
Cristina Pereira – Atriz
Pablo Gentili – Doutor em Educação
Regina Zappa – Jornalista
Maria Victoria de Mesquita Benevides – Socióloga
Luiz Pinguelli Rosa – Físico, Diretor da COPPE/UFRJ
Ana Kutner – Atriz e Produtora
Clayton Mariano – Ator
Vinicius de Oliveira – Ator
Carina Vitral – Presidenta da União Nacional dos Estudantes
Jean Tible – Professor do Departamento de Sociologia da USP
Alexandre Luiz Mate – Professor do Instituto de Artes da UNESP
Tulio Mariante – Designer
Maria Luiza Busse – Jornalista
Angela Santangelo – Jornalista
Bruno Konder Comparato – Cientista Político e Professor da Unifesp
Nadine Borges – Advogada, Professora e Ex-Presidenta da Comissão Estadual da Verdade do RJ
Márcio Faraco – Músico e Compositor
Noca da Portela – Compositor, Cantor e Instrumentista
Zé Adão Barbosa – Ator
Jacqueline Pinzon – Atriz
Santiago – Cartunista
Milton Simas Júnior – Presidente Sindicato dos Jornalistas do RS
Tomaz Miranda – Músico
Marcia Miranda – Educadora Popular, Co-fundadora e Consultora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis/RJ
Evonete Belizário Mattos – Empresária e Produtora Cultural
Bruno Monteiro – Jornalista e Militante de Direitos Humanos
Luiz Fernando Lobo – Artista
Tuca Moraes – Artista
João Baptista Herkenhoff – Juiz de Direito aposentado (ES), Escritor, um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória
Jorge Antunes – Maestro
Felipe Nepomuceno – Documentarista
Luis Augusto Fischer – Escritor e Professor da UFRGS
Antonio David Cattani – Doutor pela Université de Paris
Toninho Geraes – Compositor
Céli Regina Jardim Pinto – Doutora em Ciência Política, Professora da UFRGS
Bagre Fagundes – Músico
Mari Martinez – Cantora
Chicão Dorneles – Músico
João Villaverde – Músico
Mel Machado – Música
Marcelo Delacroix – Músico
Reissoli Moreira – Ator
Ana Kruger – Música
Fernando Corona – Músico
Leandro Cachoeira – Músico
Denizeli Cardoso – Atriz
Margareth Diniz – Professora Adjunta de Psicologia da Universidade Federal de Ouro Preto
Augusto Conde de Mello Souza – Advogado
Tarso Cabral Violin – Advogado, professor de Direito Administrativo
João Ricardo Wanderley Dornelles – Advogado, Professor, Coordenador-Geral do Núcleo de Direitos Humanos da PUC/Rio e Membro da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro
Porcina Barreto Frota – Enfermeira
Jeferson Roselo Mota Salazar – Presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas
Janeslei Aparecida Albuquerque – Professora, Secretária de Formação da APP-Sindicato, Paraná e Secretária de Relação com os Movimentos Sociais da CUT Brasil
Maria Elizabeth Sousa da Silva – Historiadora
Martha Vianna – Ceramista
Yashiro Yamamoto – Ex-Professor Assistente Doutor do IF/USP
Lenini Bonotto Cabral – Analista de Sistemas e Empresário
Sérgio Sister – Artista Plástico
Andrea Maria Altino de Campos Loparic – Professora Sênior do Departamento de Filosofia/USP
Tania Carvalheira Cabos – Aposentada
Maria Helena Arrochellas – Teóloga, Centro Alceu Amoroso Lima para Liberdade
José Oscar Beozzo – Padre, Teólogo e historiador – Ceseep
Juliano Barreto de Carvalho – Músico, Compositor e Ator
Paulinho Cardoso – Músico
Milena Dugacsek – Música
Xico Esvael – Músico
Guaracira Gouvêa de Sousa – Professora e Pesquisadora em Educação
Luiz Alberto Gómez de Souza – Escritor e Sociólogo
Lucia Ribeiro de Souza – Pesquisadora e Socióloga
Guto Vilaverde – Artista Plástico
Silke Weber – Socióloga e Pesquisadora
Constança Hertz – Psicanalista
Lúcia Bernardes – Psicóloga
Charles Pessanha – Professor de Ciência Política, UFRJ
Rosemary Fernandes da Costa – Professora e Teóloga
Jorge Eduardo Levi Mattoso – Professor Universitário – IE UNICAMP (ap.)
Eny Moreira – Advogada
Pedro A. Ribeiro de Oliveira – Sociólogo, Professor Aposentado da UFJF e da PUC-Minas, membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política
Maria de Nazareth Baudel Wanderley – Professora
Rute Maria Bevilaqua – Aposentada
Maria Aparecida Baccega – Professora Universitária
Marco António Augusto Pimentel – Agricultor Familiar, Presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar de SP
Mara Márcia Grillo Peternella – Professora
José Luiz Menezes – Professor
Maridalva Silva – Professora
Luciene Alves da Silva Lima – Enfermeira
Erico Sampaio – Aposentado
Melissa Carla Silva – Frente Nacional contra a Redução da Maioridade Penal
Irma Maria D’ Assunção Falqueto – Enfermeira
Beatriz Helena Marão Citelli – Professora
Lourdes Lima Daou Vidal – Adminsitradora
Clara Strauss – Professora
Celso Henrique de Figueiredo – Professor da UERJ
Gaudêncio Fidélis – Historiador da Arte, Curador-Chefe da Bienal do Mercosul
Márcio Tavares – Historiador, Curador-Adjunto da Bienal do Mercosul
Margarete Moraes – Gestora Cultural
Vitor Ortiz – Gestor Cultural
Marcelo Delacroix – Músico
Jackson Raymundo – Pesquisador, Mestre em Letras
Guto Leite – Escritor, Compositor e Professor de Literatura
Valesca de Assis – Escritora
Marcelo Spalding – Escritor
Laís Chaffe – Escritora
Walter Karwatzki – Artista Plástico
Vera Pellin – Artista Visual, Designer e Produtora Cultural
Daniel Mello – Cantor
Adroaldo Bauer Corrêa – Escritor
Marcelo Restori – Diretor de Teatro e Cineasta
Monique Prada – Trabalhadora Sexual
Marcio Petracco – Músico
Fabiano Nasi – Músico
Rejane Verardo – Coordenadora da Frente Gaúcha dos Artesãos
Sérgio Freitas – Presidente da Cooparigs
João Carlos Agostinho Prudêncio – Mestre Griô
Giovani Valério – Teatro
Paulo Gaiger – Músico e Professor
Nelson Gilles – Músico e Gestor Cultural
Dinorah Araújo – Atriz
Robson Sávio Reis Souza – Cientista Social, Coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (PUC Minas)
Cristiane Costa de Jesus – Pedagoga, Analista Social, Assessora das Comunidades Eclesiais de Base de Cuiabá/MT
Wolfgang Leo Maar – Professor Titular da UFSCar
Maria Amalia Pie Abib Andery – Professora Titular da PUC-SP
Ladislau Dowbor – Economista, Professor Titular da PUC-SP
Michael Lowy – Sociólogo
Clayton Mendonça Cunha Filho – Professor Doutor de Ciência Política – Universidade Federal do Ceará
Fabricio Pereira da Silva – Professor Adjunto de Ciência Política da UNIRIO, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFF
Maria Edlani de Oliveira Saraiva – Administradora Aposentada
Atelisa de Salles – Músico
José Juliano de Carvalho Filho – Economista, Professor da FEA-USP
Ceci Juruá – Economista
Otávio Velho – Antropólogo
Claudio Sander – Músico
Marcelo de Barros Souza – Monge Beneditino e Teólogo. Assessor de Movimentos Sociais
Stella Maris Jimenez Gordillo – Médica Psicanalista
Isabel Lustosa – Historiadora, Pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa/FCRB
Raymundo de Oliveira – Professor e Engenheiro
Marilda Varejão – Jornalista
Lincoln Secco – Professor da Universidade de São Paulo (USP)
Maria do Socorro Braga – Cientista Política
Marcia Ribeiro Dias – Cientista Política, Professora da UNIRIO
Zico Cerqueira – Aposentado e Produtor Cultural
Denizeli Cardoso – Atriz, Cantora e Produtora
Milena Dugacsek – Etnomusicóloga
Maria José Bechara – Professora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo
Arline Sydneia Abel Arcuri – FUNDACENTRO/MTPS
Áurea Emília da Silva Pinto – Educadora Popular – ANEPS-RN
Benjamin Prizendt – Professor
Tereza Maria Pompeia Cavalcanti – Teóloga e Professora da PUC-Rio
Renato Gama – Técnico de Nível Superior e Mestre em Ciências da Religião
Abdias Vilar de Carvalho – Sociólogo
Laura Celina Puccinelli de Lima – Pedagoga Aposentada
José Dari Krein – Professor e Pesquisador
Lígia Chiappini – Professora, Pesquisadora e Ensaísta, nas áreas de Teoria Literária, Literatura Brasileira, Literatura Comparada
João Sicsú – Economista e Professor da UFRJ
Reiko Miura – Jornalista
Martha Pires Ferreira – Artista plástica, Advogada e Astróloga
Pedro Paulo Malan de Paiva Chaves – Engenheiro
Nair Yumiko Kobashi – Professora da Universidade de São Paulo
Ennio Candotti – Professora da Universidade Federal do Amazonas
Carlos Augusto Abicalil – Professor, Diretor Geral de Educação e Cultura da OEI
Cleuza Maria da Cunha Bettoni – Professora Universitária
Maria Luiza Martins Aléssio – Professora do Centro de Ciências Biológicas da UFPE
Ricardo Swain Alessio – Professor do Centro de Educação da UFPE
Waldemar Boff, educador popular, presidente do SEOP, Petrópolis RJ

Bruno Monteiro
Jornalista
(61) 9967-3522
@brunogmonteiro


Fonte:Blog do Leonardo Boff.