domingo, 4 de novembro de 2012

Conversando Direito - meu blog atualizado semanalmente

No blog "Conversando Direito", você acompanha posts atualizados por mim, semanalmente.


Para além do Mensalão


Começou nesta semana o julgamento do chamado “núcleo político” do Mensalão. Independentemente do resultado, a grande mídia, há muito, já deu seu veredicto. Em uníssono, os setores conservadores da sociedade brasileira, capitaneados por uma grande imprensa venal, não desejam a condenação dos eventuais corruptos e corruptores – como tenta mostrar. O foco é, numa espécie de golpe branco, atingir mortalmente o Partido dos Trabalhadores.
Objetivamente, não podemos concordar com qualquer tipo de corrupção na esfera pública. E se houve corrupção, que os corruptos e os corruptores sejam punidos. Porém, a discricionariedade da cobertura da imprensa enoja qualquer pessoa que tem o mínimo de bom senso.
O financiamento das campanhas políticas (origem do mensalão mineiro – o pai - e do mensalão nacional – o grande filhote) continua valendo nas campanhas eleitorais nababescas pelo Brasil afora. Os doadores polpudos (bancos, construtoras e empreiteiras) continuam liderando as listas de doação para partidos e candidatos nestas eleições, conforme revela as primeiras prestações de contas apresentadas recentemente pelo Tribunal Superior Eleitoral. Sobre isso, o financiamento das campanhas,  uma das origens da corrupção política,  a mídia não dedica  cobertura  atenta, devida e desejável. Portanto, a pauta midiática não é republicana e democrática, com vistas ao interesse público. Mas direcionada para transformar o julgamento no STF no picadeiro espetaculoso da eleição de bodes expiatórios com vistas à supressão, a qualquer custo, de um partido legitimamente constituído e socialmente reconhecido, sem se preocupar com as causas da corrupção nas instituições republicanas.
Revistas que mais parecem panfletos de quinta categoria e colunistas movidos por uma espécie de ódio irracional e segregacionista sustentam uma pauta enviesada, replicada exaustivamente pelos grandes veículos de comunicação. Alguns intelectuais que sempre defenderam o apartheid social brasileiro e uma classe média gentil e cortês no espaço privado e violenta e autoritária no espaço público, cujo maior pesadelo é o fato de as classes trabalhadoras terem ascendido socialmente nos últimos anos, têm medo de perder seu espaço e desejam a volta daquela  sociedade piramidal e excludente, que prevaleceu por mais de 500 anos nessas plagas.
Não sou filiado ao PT. Mas, como Leonardo Boff, "interesso-me pela causa que ele representa, pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios populares". Por isso, É PRECISO MANTER VIVA A CAUSA DO PT, PARA ALÉM DO MENSALÃO, para contrapor as "elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo" e a mídia venal e aristocrática que atacam frontalmente não o partido, mas uma causa que "não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou".
Reproduzo, abaixo, um artigo de LEONARDO BOFF (*) sobre esse tema:
MANTER VIVA A CAUSA DO PT: PARA ALÉM DO “MENSALÃO”
Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.
De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização  nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.
Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em  que  este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático.
Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará  todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.
Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto  apenas duas decisivas.
A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.
Ora, o PT e Lula vem desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula Presidente  representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas,  amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e  liquidar  com  seus líderes.
A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos,  ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração. Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.
Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo do PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.
Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho  aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência.
Essa utopia mínima é factível. O PT  se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores  superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.
(*) Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e dr.h.causa em política pela Universidade de Turim por solicitação de Norberto Bobbio

Estudo aponta que Ditadura matou 1.196 camponeses, mas Estado só reconhece 29



                                                                                                                                                       ( Fonte : Carta Maior)
Reportagem de Najla Passos, disponível no site de Carta Maior , informa que a ditadura militar, financiada pelo latifúndio, “terceirizou” mortes e desaparecimentos forçados de camponeses.
Um estudo inédito do coordenador do Projeto Memória e Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência, Gilney Viana, revela que 97,6% dos 1.196 camponeses vítimas do regime foram alijados do direito à memória, à verdade e à reparação. Os dados serão apresentados à Comissão Nacional da Verdade para embasar investigações que possam alterar este quadro de exclusão.
O estudo revela que pelo menos 1.196 camponeses e apoiadores foram mortos ou desaparecidos do período pré-ditadura ao final da transição democrática (1961-1988). Entretanto, os familiares de apenas 51 dessas vítimas requereram reparações à Comissão de Anistia. E, destes, somente os de 29 tiveram seus direitos reconhecidos. Justamente os dos 29 que, além de camponeses, exerceram uma militância político-partidária forte, o que foi determinante para que fossem reconhecidos como anistiados.
Das 1.196 mortos e desaparecidos no campo, o estudo conseguiu reunir informações sobre 602 novos casos excluídos da justiça de transição, suficientes para caracterizá-los como “graves atentados aos direitos humanos”. Esta caracterização é condição primordial para que sejam investigados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Segundo Gilney, o objetivo é alterar o quadro atual e permitir que essas vítimas usufruam dos mesmos direitos dos militantes urbanos, estabelecidos pela Lei 9.140, de 4/12/1995, que reconheceu como mortos 136 desaparecidos e criou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), com mandato para reconhecer outros casos e promover reparações aos familiares que assim o requererem.
As novas vítimas que poderão entrar para a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos do país são 75 sindicalistas, 14 advogados, sete religiosos, 463 lideranças de lutas coletivas e 43 trabalhadores que tombaram em conflitos individuais.
Terceirização dos crimes -  Destes 602 casos, em apenas 25% é possível comprovar a efetivação de inquérito policial e, somente em 5%, desfecho judicial. Ainda assim, o estudo conseguiu comprovar a ação direta de agentes de estado em 131 casos, o que facilita o reconhecimento deles como vítimas da ditadura. O problema é que em 471, ou 85% dos casos, as evidências apontam para o fato de que os crimes foram cometidos por agentes privados, ainda que sob a anuência dos representantes da ditadura. 
“O Estado se omitiu, encobertou e terceirizou a repressão política e social no campo, executada por jagunços, pistoleiros, capangas e capatazes, a serviço de alguns fazendeiros, madeireiros, empresas rurais, grileiros e senhores de engenhos, castanhais e seringais. Esta hipótese explicativa principal é compatível com o papel importante que a classe dos latifundiários, fazendeiros, senhores de engenho, castanhais e seringais tiveram no golpe, na sustentação da ditadura e na coligação de forças políticas que fizeram a transição”, diz o estudo. 

Apesar da dificuldade, o autor do estudo avalia que a Comissão Nacional da Verdade tem poderes para incluí-los no escopo de investigados.  O Art. 1º da Resolução nº 2, da Comissão, define que caberá ao órgão “examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas (...) por agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado”. “Isso incluiu os crimes realizados pelos agentes do latifúndio em concurso com os da ditadura”.

Resultados das eleições: outros olhares


Terminado o primeiro turno das eleições, vamos aos resultados:
BRASIL:
Entre as três maiores "forças políticas" que disputam o poder atualmente, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi o que mais cresceu nessas eleições municipais.  O partido venceu as eleições em oito dos principais municípios brasileiros e disputa o segundo turno em outros 22. O PSDB já venceu em seis e disputa outros 17.
Veja o gráfico abaixo:
 
Fonte:  Uol/Eleições
Em números absolutos, a distribuição de votos por partido ficou assim: PT com 17 milhões; PMDB, com 16 milhões e PSDB com 13 milhões de votos.
O número de vereadores por partido: o PMDB tem 7870; o PSDB, 5184 e o PT, 5.102. Detalhe: na última eleição o PT elegeu 3206 vereadores; ou seja, o partido teve um aumento de 1896 vereadores, a maior variação positiva entre os grandes partidos.
A FORÇA DAS MULHERES
O balanço das eleições mostra que em 621 municípios as mulheres vão comandar a prefeitura a partir do ano que vem. Elas representam 11,37% dos 5.463 prefeitos já eleitos no Brasil - um recorde histórico. A maior parte das mulheres eleitas é do PMDB (122), e em seguida vêm PSDB (95), PT (67), PSD (56), PSB (51) e PP (44).
Porém, em Belo Horizonte, somente uma mulher foi eleita: a já vereadora Eliane Matozinhos, do PTB. Serão 40 homens e uma mulher na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Ainda em relação à Câmara de BH, dos 41 vereadores, 19 foram reeleitos para o cargo. Renovação de 54% na Câmara. Bom sinal! Nas eleições anteriores a média de renovação era de cerca de 40%. PSB e PT foram os partidos com mais vereadores eleitos; cada um com seis.

MENSALÃO, MÍDIA E STF
 A grande mídia elegeu o Partido dos Trabalhadores como o “bode expiatório” da Ação Penal 470, conhecida como “Mensalão”.    Em uníssono, a tecla da cobertura do julgamento era sempre a mesma: a demonização do partido.
Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal processa um julgamento cuja adjetivação aparenta-se como algo “nunca antes visto na história deste país”. O foco é o PT e não os réus, porque os ministros, nos dizeres de Wanderley Guilherme dos Santos “têm uma ojeriza em relação à política profissional, como se eles não fizessem política – fazem o tempo todo. Mas em relação à política profissional eles têm um certo desprezo aristocrático. E quando na política brasileira irrompeu a política popular de mobilização, eles não aceitaram, dão a isso um significado de decadência, degradação.
Ainda segundo o renomado cientista político  Wanderley Guilherme dos Santos , os ministros “estão considerando esse julgamento como um julgamento emblemático, mas é justamente o oposto, é um julgamento de exceção. Isso jamais vai acontecer de novo, nunca mais haverá um julgamento em que se fale sobre flexibilização do uso de provas, sobre transferência do ônus da prova aos réus, não importa o que aconteça. Todo mundo pode ficar tranquilo porque não vai acontecer de novo, é um julgamento de exceção”.
    Ao que tudo indica, o mensalão não influenciou o resultado das eleições. Aparentemente, o eleitor está mais autônomo em relação às suas escolhas e não é uma pauta externa ao pleito que determina o voto.
MINAS GERAIS
Em Minas, a polarização entre PSDB e PT continua forte. Veja no quadro abaixo:
Fonte:  Blog Rudá Ricci)
O PT administra sete municípios desta lista e no próximo ano administrará seis, podendo chegar a oito (disputa em segunda turno mais dois municípios). Já o PSDB administra quatro e já garantiu seis, também podendo chegar a oito (dois em segundo turno). O PMDB caiu de seis para três, podendo chegar a cinco.
Nas grandes cidades de Minas, o senador Aécio Neves, principal liderança tucana do estado, ganhou em Belo Horizonte e Betim (sendo que neste município, o eleito, Carlaile Pedrosa, enfrenta denúncias de compra de votos). Em Contagem, ganhou a prefeita do PT, Marília Campos, que colocou no segundo turno dois candidatos de sua base eleitoral. Em Uberlândia, o petista Gilmar Machado ganhou no primeiro turno. Em Juiz de Fora, o candidato tucano perdeu, e o PT disputa com o PMDB o segundo turno. Em Uberaba, segundo turno entre PMDB e PSDB; em Montes Claros, também segundo turno entre PT e PRB.

BELO HORIZONTE
            A vitória de Márcio Lacerda no primeiro turno é comemorada pelos tucanos. E nas eleições o que se comemora, com razão, é a vitória. Ainda mais numa disputa intensa e inusitada, como foi este pleito.
            Porém, é preciso uma atenção para os números desta eleição:
Eleitorado de BH: 1.860.172 eleitores
Votaram em Lacerda: 676.215
Não votaram em Lacerda: 1.183.957
            Em outros termos, Márcio Lacerda ganhou no primeiro turno com uma votação que representa pouco mais que 1/3 do eleitorado. Não é uma vitória retumbante, para quem tem uma administração aprovada - segundo institutos de pesquisa (cuja credibilidade está em xeque, mais uma vez) -,  por mais de 70% dos belohorizontinos.
            Por outro lado, os 40% de votos direcionados a Patrus Ananias o credencia novamente para tentar alçar novos voos nas eleições de 2014.

O papel da imprensa e outras impressões


Inúmeras e variadas são as análises dos resultados das eleições deste ano. Isto é muito bom e positivo. Com o avanço das redes sociais, os comentaristas de plantão, principalmente alguns velhos donos da verdade – que tentam emplacar seus pontos de vista lastreados numa “unanimidade burra” (favorável aos interesses das grandes elites detentoras do poder econômico) – encontram contrapontos que enriquecem o debate e, em última análise, aprimoram a democracia – que deve conviver, respeitar e promover as diferenças.
Este aprendiz de comentarista político, que observa nas redes sociais um espaço para vocalizar seus pontos de vista, também entra nesse mercado persa – onde há liberdade de expressão dos artistas –, mas que para muitos não passa de uma arena do opinódromo. E qual o problema?
As redes sociais estão incomodando... Não é a toda e sem motivos que alguns veículos da grande mídia começam uma campanha para deslegitimá-las. Como é difícil conviver com a pluralidade, principalmente num país que também não fez a sua “reforma agrária” no campo da comunicação social! O público já não espera que a opinião publicada seja determinante da opinião pública. Cada vez mais as nuances e incertezas acerca do que é publicado aparecem nas novas mídias. Antes, como não havia muita diversidade de fontes informativas, tudo o que a imprensa dizia não enfrentava o criticismo de hoje. Os jornalistas e os meios de comunicação perdem o lugar de oráculo da verdadeQue bons ventos!
Uma grande renovação
De maneira geral, e quase unânime – como sempre –, a grande mídia – que representa os interesses da direita conservadora brasileira – afirma que o grande vencedor das eleições deste ano foi o “gato de olhos verdes”, (Eduardo Campos), que driblou o “sapo barbudo” (Lula). Cansados de apostar suas fichas no PSDB (de Serra, FHC, Aécio e companhia) – que têm dado sinais de enfraquecimento nos últimos pleitos –,os grandes veículos de comunicação precisam eleger novos “salvadores da pátria”. Primeiro criaram a “Liga da Justiça”, ao eleger os juízes imaculados do Supremo como os novos referenciais da moral e ordem públicas. Depois, tentaram emplacar o “batman” (Joaquim Barbosa) – transformando o menino pobre e negro no herói nacional. Tudo com o objetivo de influenciar as eleições. Parece que a estratégia não “colou”.
O povo – “essa gentalha do andar de baixo” (na opinião de boa parte da elite e da classe média) – já não se deixa manipular facilmente, como nos tempos dos coronéis – e atualmente esses donos das capitanias hereditárias da grande imprensa.
Então, vamos colocar mais lenha na fogueira. O que essas eleições trazem de novo? Um país mais plural, representado pelo crescimento da votação dos chamados partidos nanicos. A busca insana para formar grandes coligações – sem levar em conta quaisquer preceitos ideológicos ou éticos – fez com que pequenos partidos conseguissem alcançar o coeficiente eleitoral. A Câmara de Belo Horizonte, por exemplo, tem representantes de 16 partidos. Nas capitais, temos um quadro partidário mais amplo, que supera a bipolar disputa entre PT e PSDB, suplantando também partidos tradicionais, como o PMDB e o DEM.
Em termos partidários, o PMDB ainda detém o maior número de prefeituras. Mas continua um partido que se sustenta por causas de suas elites locais; um partido sem grande expressão nacional (mas fiel da balança nas grandes disputas). O PSDB dá sinais de enfraquecimento (não só pelo fato de ter perdido na maior cidade brasileira, mas pelo desencanto geral da população em relação aos seus quadros e à falta de uma proposta alternativa de poder). O partido tem, ainda, uma configuração nacional, mas novo racha se avizinha na disputa entre o núcleo duro paulista e outros grupos, como o liderado pelo senador Aécio Neves. O PSD, de Kassab, representa a direita que tenta se renovar depois da vexatória derrocada do DEM (que é um morto-vivo, mesmo com a vitória de ACM Neto, em Salvador). O PT teve crescimento considerável e, hoje, é o partido de expressão nacional mais potente. Porém, a grande renovação nos legislativos e nos executivos sinaliza que se o partido não escutar “o clamor das urnas” poderá trilhar os mesmos caminhos de outras grandes forças políticas que experimentam a derrocada.
A quem interessa a demonização da política?
As vitórias do PSB devem ser encaradas com ressalvas: dizer que Márcio Lacerda, prefeito reeleito de BH, é socialista é o mesmo que acreditar que Marx fora um devoto de São José Operário. Ademais, a vitória de Geraldo Júlio em Recife deve ser analisada para além do apadrinhamento de Eduardo Campos. Lá, ao contrário de São Paulo, a interferência de Lula foi danosa para o PT – que poderia, noutro contexto, ter dado trabalho ao socialista. No caso de Fortaleza, a participação dos irmãos Ciro e Cid Gomes na campanha socialista foi decisiva para a vitória de Roberto Cláudio.
Daqui, das Minas Gerais, nenhuma novidade: o quadro eleitoral praticamente se definiu no início do segundo turno e qualquer liderança local que queira “cantar vitória” não terá seu discurso sustentado na realidade. Em Contagem, uma aliança duvidosa e pragmática definiu a vitória de Carlin Moura (estranho num mesmo lado termos newtistas, ademiristas, aecistas e comunistas – um verdadeiro “balaio de gatos”). Em Juiz de Fora, a vitória Bruno Siqueira, do PMDB, e em Montes Claros, de Ruy Muniz, do PRB, estavam anunciadas (sendo que em Montes Claros o apoio de Aécio Neves consolidou a vitória de Muniz). A surpresa veio de Uberaba. Apesar do apoio explícito de Aécio Neves e Márcio Lacerda, o candidato do PSB foi derrotado e Paulo Piau, do PMDB, foi eleito.
Um fato importante: os votos nulos, brancos e abstenções somam quase ¼ do eleitorado. Isso é preocupante. Em certa medida, uma pauta altamente negativa sobre a política – capitaneada pela mídia –, somada à propaganda incisiva do TSE acerca de um “voto limpo” são elementos que podem ter corroborado nesse contingente de brasileiros que parecem desacreditar da possibilidade de transformações sociais pela via das eleições. Numa democracia representativa, cujo suporte principal se dá no processo das eleições, isso é uma luz amarela incandescente que deve preocupar as lideranças da política institucional, a sociedade civil, os poderes constituídos e também os veículos de comunicação. A quem interessa a demonização da política?
O eleitor não está apático
Outro ponto que merece atenção especial é a pauta embutida no discurso religioso e moralista que vem recrudescendo nas últimas eleições. Esse é um fenômeno preocupante porque não contribui para o aperfeiçoamento da nossa cambiante democracia, sequer aponta para um discurso e prática propositivos. Ancorados num pragmatismo eleitoreiro – que usa a religião como bastião da salvação nacional (ao invés de atribuir a política como locus do aperfeiçoamento social) –, líderes de diversas denominações religiosas adentram num campo pantanoso que vai do incitamento ao ódio contra minorias às promessas impossíveis de serem alcançadas nessa vida...
Para 2014, o cenário ainda é nebuloso. Não dá para fazer qualquer análise futurológica, apesar dos analistas de plantão apontarem um quadro definido de disputa entre o PT e o PSDB. A grande renovação nas câmaras municipais, o despontar de novas lideranças e também a boa renovação nas eleições para prefeitos indicam que o eleitor – que optou por manifestar-se nestas eleições – não está apático no processo eleitoral.
O certo é que as alianças que se avizinham podem definir o cenário. Se, por exemplo, Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) lançarem candidaturas separadas com o objetivo de forçar um segundo turno na disputa com o PT (independentemente do candidato ser Dilma ou Lula), a disputa será eletrizante. Ainda mais dependendo de como se comportarão os pêndulos do PMDB e do PSD.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O pacotão da Segurança Pública


O governo de Minas, através da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), anunciou, nesta quinta (17/05) um pacote com várias ações visando uma melhor articulação do sistema de defesa social.


 Veja, abaixo, as principais medidas:

·  * Central de Flagrantes - Criação de estrutura no Bairro Lagoinha (Noroeste de BH) para receber os flagrantes e desafogar os plantões das delegacias de polícia.

·   * Sala de crises e grandes eventos - Vai funcionar no 9º andar da Cidade Administrativa. Terá 900 metros quadrados e deve reunir vários órgãos oficiais para garantir segurança em eventos. O teste será a Copa das Confederações e a previsão é de que esteja pronta em fevereiro de 2013.

·     * Centro Integrado de Comando e Controle - Prédio que será construído para centralizar dados e imagens da capital, para facilitar tomadas de decisões pelas polícias Militar, Civil e Federal, Defesa Civil, Bombeiros, PRF e PBH.

·     * Centros de Prevenção à Criminalidade - Três novas unidades do Fica Vivo, duas em BH (Primeiro de Maio, Região Norte, e Vila Pinho, no Barreiro) e uma em Contagem (Ressaca)


    *  Plano de segurança dos shoppings de BH - Militares fardados nas áreas externas dos shoppings, pontos de apoio da PM nesses locais, compartilhamento de informações de inteligência e designação de um delegado para investigar esses crimes.

·     *  Integração entre Seds, MP e Judiciário - Participação de todos os integrantes do sistema de segurança na hora de definir políticas públicas. A integração também pode facilitar autorizações da Justiça, mandados de prisão, busca e apreensão, além de  possibilitar operações conjuntas de uma maneira mais ágil.
·    
   * Integração da gestão em segurança pública - Diagnóstico da situação da criminalidade nas 15 Regiões de Segurança Pública (Risp) do interior e das três da região metropolitana, por meio de reuniões entre o secretário e autoridades maiores da PC e da PM, além das autoridades locais.

·  * Comitê de monitoramento diário de crimes violentos - Comissão interinstitucional para acompanhar a violência em todo o estado e monitorar o surgimento de novos ondas de crime, como as recentes explosões de caixas eletrônicos. Criada em 14 de maio.


·     * Reformulação da corregedoria da Seds - Órgão deve ser reformulado para investigar todas as denúncias dentro do sistema.

·   *  Modernização da Polícia Civil - Reforma de sete delegacias (a definir); capacitação de agentes; contratação de 700 estagiários para auxiliar no serviço das delegacias; construção de prédio integrado para a perícia criminal, que vai abrigar o Instituto Médico Legal e o Instituto de Criminalística. Início da construção neste ano.


·    * Ampliação da Lei Seca - Blitzes da Lei Seca todos os dias da semana na capital a partir de julho e ampliação para Contagem, Betim, Governador Valadares, Uberlândia e Juiz de Fora até dezembro.

·   *  Leilão de bens do tráfico de drogas - Venda das mercadorias apreendidas com o tráfico de drogas para gerar recursos a serem investidos no sistema de segurança.

·      * Ampliação de programas da PM - Mais 19 núcleos de Polícia e Família, 95 viaturas para policiar escolas de todos estado, 21 novas bases comunitárias para receber informações da população, novos veículos e armas para o Grupo Especializado de Policiamento em Áreas de Risco (Gepar).

·       * Melhorias no sistema prisional e socioeducativo: - Construção, no segundo semestre, de quatro unidades da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) em Sacramento, Araxá, Rio Piracicaba e Itajubá. - Inauguração, até o fim do ano, da primeira PPP para unidade prisional. Será em Ribeirão das Neves e terá 1.824 vagas. - Inauguração, em julho, de um presídio em Itaúna e outro em Oliveira, somando 418 vagas. - Construção de um presídio em Esmeraldas e ampliação de outros quatro em Divinópolis, Montes Claros, Itajubá e Muriaé. Cada ampliação vai custar R$ 7,5 milhões. - Inauguração, no segundo semestre, do Centro de Atendimento ao Autor de Ato Infracional (CIA) em Juiz de Fora. - Até 2014, construção de três centros socioeducativos: Santana do Paraíso, Lavras e Unaí - Até o fim do ano, quatro novos aparelhos body scan, nos presídios de Bicas I e Bicas II, em São Joaquim de Bicas, e Dutra Ladeira e José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves.

Comentários:

O plano é positivo na medida em que volta a pensar a política de segurança pública de forma integrada. Porém, as ações planejadas precisam se tornar efetivas. Não adianta criar estruturas de gerenciamento, comitês e grupos de estudos se essa equipe não tem poder de fazer com que as ações propostas se concretizem.

A criação de novos centros de prevenção da criminalidade (Fica Vivo e  medição de conflitos), é uma medida positiva. Mas o número dos novos centros é muito pequeno. Hoje existem áreas de crimes violentos associadas ao tráfico de drogas numa quantidade muito maior do que os núcleos que foram anunciados.

O investimento na perícia criminal e na criminalística é fundamental. Nos últimos 10 anos, o menor investimento (proporcional) do sistema de defesa social foi na Polícia Civil. No modelo atual (que demanda uma ação articulada das duas polícias), não dá para se pensar numa política de segurança efetiva quando uma das principais pernas do sistema (a Polícia Civil) está manca. É importante a construção do prédio da perícia e do Instituto de Criminalística, mas é preciso investir em contratação de novos delegados, peritos e escrivães. A contratação de estagiários para atuarem nas delegacias é um remendo. O estagiário, pela atual Lei do Estágio, tem que estar acompanhado por um supervisor, um operador de direito. Será que o delegado vai ter tempo de acompanhar cada um?.

A inauguração de uma central de flagrantes vai garantir mais agilidade no atendimento policial.

O pacotão da Seds deixa transparecer, nas entrelinhas, que o modelo de segurança pública mineiro ainda resiste a mudança qualitativas. Por exemplo, ao anunciar a criação de um cinturão rodoviário, a Secretaria informa que investirá 25 milhões de reais na compra de helicóptero, viaturas, fuzis, coletes balísticos, etc. Não trata em nenhum momento no aperfeiçoamento dos setores de investigação e inteligência, que são fundamentais para o sucesso desse tipo de ação. 

Outra medida que mostra um viés bastante repressivo: não obstante os gargalos do sistema prisional (que teve sua população duplicada em oito anos; que continua lotado; que é oneroso e ineficiente - cerca de 80% de reincidência criminal), o governo insiste em adensar ainda mais essa estrutura. Apesar do aumento no encarceramento, as taxas de crimes violentos continuaram altas, em Minas. Não seria o caso de se investir mais nos programas de prevenção; na criação de um número maior de centrais de acompanhamento de penas e medidas alternativas; de mais investimentos no sistema socioeducativo? 

Outra medida que julgo bastante panfletária: plano de segurança para shoppings. Ora, se a segurança pública for efetiva, todos ganharão com a diminuição dos crimes, inclusive os shoppings. Certamente, existe uma quantidade muito maior de crimes nos centros comerciais periféricos (dos nossos bairros, por exemplo). Por que, então, privilegiar os shoppings? 

Fala-se numa reestruturação da Corregedoria da Seds. É bom mesmo que o governo esteja atento aos mecanismos de controle da atividade policial. Dado que a Ouvidoria de Polícia transformou-se em órgão burocrático, é desejável que os mecanismos de correição funcionem de fato. Quero ver!

Há uma estranha integração entre o programa Fica Vivo e o projeto Rua Livre, da Subsecretaria de Política sobre Drogas. Espero que essa medida não seja tomada para criminalizar e segregar ainda mais os jovens usuários de drogas. Paira no ar uma dúvida sobre qual a política pública voltada para o enfrentamento do problema das drogas será efetivada pelo governo. Políticas de higienização, internação compulsória, de viés repressivo, não serão aceitas pela sociedade. 

Por fim, a criação de posto de trabalho itinerante da campanha "Sou pela Vida. Dirijo sem bebida" é uma medida importante para diminuir os homicídios no trânsito. É preciso de efetividade dessa ação para desestimular os motoristas que insistem em dirigir sob o efeito do álcool e outras drogas. Como dizia Beccaria, "mas vale a certeza da punição que a dureza da lei".

O grande desafio do novo plano é sair do papel; ou seja, é preciso que as ações aconteçam na prática. A Seds terá "força política" para implementar as ações que anuncia? Vamos ver... 

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terça-feira, 17 de abril de 2012

Segurança pública: muitas despesas; poucos investimentos: uma análise a partir do orçamento público de Minas Gerais no ano de 2011

Este breve estudo tem como objetivo analisar os investimentos em segurança pública no estado de Minas Gerais, a partir de uma análise panorâmica do orçamento público de segurança executado no ano de 2011. Todos os dados aqui apresentados foram retirados do Portal da Transparência do Governo de Minas.

Uma primeira observação é importante: os dados disponíveis no Portal da Transparência não nos permitem detalhamento de algumas despesas. Por outro lado, informações específicas (como o gasto do governo com o pagamento da folha salarial da educação, por exemplo), são de difícil apuração, dado que não existem informações detalhadas para este tipo de categoria.

Inicialmente, podemos verificar que houve uma significativa melhoria na arrecadação estadual no período entre 2007 e 2011. Em 2007, o governo de Minas arrecadou 22,45 bilhões de reais (valor efetivado). Em 2011, a arrecadação foi de 54,84 bilhões, um aumento de 140% no período.

Tabela I – Arrecadação MG (2007 – 2011)
2007
22,45 bilhões
2011
54,84 bilhões
Fonte: Portal Transparência MG


Em relação às despesas totais do estado, observamos que a cifra passou de 32,44 bilhões de reais em 2007 para 54,69 bilhões de reais em 2011. Portanto, houve um incremento nas despesas da ordem de 67%.

Tabela II – Despesas MG (2007 – 2011)
2007
32,44 bilhões
2011
54,69 bilhões
Fonte: Portal Transparência MG


No gráfico I, abaixo, observamos a evolução das despesas do estado com educação, saúde e segurança pública no período entre 2007 e 2011.

Gráfico I – Despesas do estado de MG, por área, 2007 – 2011
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor tendo a partir de dados do Portal Transparência MG


Como podemos observar, no período em análise (2007 – 2011), houve um aumento de 68% no orçamento da saúde, dado que o estado gastou 2,87 bilhões em 2007 e 4,81 bilhões em 2011. Na área da educação, o aumento foi de 65%, passando de 4,06 bilhões para 6,64 bilhões. Na segurança, o aumento no período foi de 76%, pulando de 4,28 bilhões para 7, 52 bilhões. Portanto, nesta primeira análise pode-se observar que, comparativamente, o aumento nos gastos com segurança pública foi superior às despesas com a educação e a saúde.

Na Tabela III, abaixo, observamos algumas das principais despesas na função segurança pública, relativas ao ano de 2011.

Segundo os dados do Portal Transparência do Governo de Minas, neste ano, o estado teve uma despesa com segurança pública no montante de R$ 7.528.957.827,74.

Tabela III - Despesa total - SEGURANCA PÚBLICA - 2011


Unidade Orçamentária
Valor Empenho
Valor Despesa Realizada
Valor Despesa Acumulado
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
463.594.036,76
463.594.036,76
463.594.036,76
DEFENSORIA PUBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
101.415,77
101.415,77
101.415,77
DEPARTAMENTO DE TRANSITO DE MINAS GERAIS
108.840.240,60
108.840.240,60
108.840.240,60
FUNDO PENITENCIARIO ESTADUAL
105.137,94
105.137,94
105.137,94
GABINETE MILITAR DO GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
20.392.398,75
20.392.398,75
20.392.398,75
POLICIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
939.094.691,56
939.094.691,56
939.094.691,56
POLICIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
4.965.310.250,54
4.965.310.250,54
4.965.310.250,54
SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS
16.006.777,52
16.006.777,52
16.006.777,52
SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL
1.015.512.878,30
1.015.512.878,30
1.015.512.878,30
TOTAL
7.528.957.827,74
7.528.957.827,74
7.528.957.827,74

Fonte: Portal Transparência MG


Na imagem I, abaixo, visualizamos melhor as principais despesas do estado de Minas Gerais com a função segurança pública no ano de 2011.

Imagem I – Despesa na função Segurança Pública em 2011



Fonte: Portal Transparência MG

Como se pode observar, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) respondia por 65,94% das despesas com a segurança pública. Em segundo lugar, a Polícia Civil (somando aqui a rubrica do Departamento de Trânsito de Minas, sob a responsabilidade desta instituição), com 13,91% dos gastos. Em terceiro lugar, com 13.48% do montante de despesas, a Secretaria de Estado de Defesa Social e com 6,15% de despesas, o Corpo de Bombeiros Militar.

Ao verificar mais cuidadosamente as despesas realizadas com a PMMG, em 2011, observamos que 55,44% dos recursos gastos são destinados ao pagamento da renumeração dos ativos e inativos desta corporação.

Somente para o pagamento dos inativos da PMMG o Estado tem uma despesa maior que o valor destinado à Secretaria de Estado de Defesa Social, ou seja, o gasto com os inativos da PMMG chega a 1,245 bilhão (no ano de 2011) enquanto a Secretaria teve uma despesa de 1, 015 bilhão.

Tabela IV – Despesas com pessoal da PMMG – 2011
REMUNERACAO DE PESSOAL ATIVO E ENCARGOS SOCIAIS
1.502.197.009,00
PROVENTOS DE INATIVOS MILITARES
1.254.023.366,00
Total
2.756.220.376,00
Fonte: Portal Transparência MG


Na Tabela V, abaixo, observamos detalhadamente as despesas efetuadas pela Secretaria de Estado de Defesa Social no ano de 2011.

Tabela V – Despesas da SEDS/2011


Projeto / Atividade
Valor Empenho
Valor Despesa Realizada
Valor Despesa Acumulado
GESTAO DA POLITICA DE INTEGRACAO DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
21.470.869,22
21.470.869,22
21.470.869,22
ACOMPANHAMENTO DA EXECUCAO DAS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS
387.766,93
387.766,93
387.766,93
ADEQUACAO E MANUTENCAO PREVENTIVA E CORRETIVA DAS UNIDADES FISICAS DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
6.840.528,26
6.840.528,26
6.840.528,26
APERFEICOAMENTO E PROMOCAO DA QUALIDADE DA ATUACAO DOS ORGAOS DE DEFESA SOCIAL
62.887,00
62.887,00
62.887,00
APOIO LOGISTICO AS UNIDADES PRISIONAIS E ADMINISTRATIVAS
715.928,76
715.928,76
715.928,76
APRIMORAMENTO E AMPLIACAO DA GESTAO DAS MEDIDAS DE MEIO ABERTO
783.095,00
783.095,00
783.095,00
ATENDIMENTO AOS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA DE SEMILIBERDADE
6.630.845,07
6.630.845,07
6.630.845,07
AVALIACAO DA ATUACAO DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
673.600,00
673.600,00
673.600,00
CAPACITACAO E FORMACAO DE SERVIDORES DO SISTEMA PRISIONAL
157.131,77
157.131,77
157.131,77
CENTRO INTEGRADO DE ATENDIMENTO E DESPACHO - CIAD / BH
591.895,42
591.895,42
591.895,42
CONSOLIDACAO DO MODELO DE GESTAO PRISIONAL
242.402,89
242.402,89
242.402,89
CONSTRUCAO DE CENTROS SOCIOEDUCATIVOS - SEDS
3.089.911,81
3.089.911,81
3.089.911,81
CONSTRUCAO E REFORMA DE UNIDADES PRISIONAIS - SEDS
3.333.565,96
3.333.565,96
3.333.565,96
CONTRATACAO DE CONSTRUCAO E GERENCIAMENTO DE UNIDADES PRISIONAIS VIA PPP
1.710,00
1.710,00
1.710,00
COORDENACAO DO SISTEMA PRISIONAL
37.068.631,62
37.068.631,62
37.068.631,62
COORDENAR A GESTAO INTEGRADA DE RECEBIMENTO E TRATAMENTO DE DENUNCIAS ANONIMAS
20.686,00
20.686,00
20.686,00
CRIACAO E IMPLANTACAO DE UM MODELO DE CO-GESTAO OU GESTAO INDIRETA DE UNIDADES DE CUSTODIA
1.890.043,01
1.890.043,01
1.890.043,01
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO CENTRAL
234.233.245,74
234.233.245,74
234.233.245,74
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO CENTRO-OESTE DE MINAS
21.718.838,97
21.718.838,97
21.718.838,97
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO JEQUITINHONHA/MUCURI
16.970.716,21
16.970.716,21
16.970.716,21
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO NOROESTE DE MINAS
15.249.469,34
15.249.469,34
15.249.469,34
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO RIO DOCE
45.560.558,58
45.560.558,58
45.560.558,58
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO SUL DE MINAS
48.347.673,60
48.347.673,60
48.347.673,60
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA ZONA DA MATA
56.220.028,08
56.220.028,08
56.220.028,08
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO ALTO PARANAIBA
27.278.688,71
27.278.688,71
27.278.688,71
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO NORTE DE MINAS
27.637.260,55
27.637.260,55
27.637.260,55
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO TRIANGULO MINEIRO
45.667.171,70
45.667.171,70
45.667.171,70
DESENVOLVIMENTO DE PARCERIAS E PROGRAMAS
4.774.636,46
4.774.636,46
4.774.636,46
DIRETRIZ INTEGRADA DE ACOES E OPERACOES DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
110.632,40
110.632,40
110.632,40
ESTRUTURACAO DO PROGRAMA DE EGRESSOS
891.669,37
891.669,37
891.669,37
FICA VIVO - CONTROLE DE HOMICIDIOS NA FAIXA ETARIA DE 12 A 24 ANOS
6.659.005,16
6.659.005,16
6.659.005,16
GABINETE INTEGRADO DE SEGURANCA PUBLICA
12.654,12
12.654,12
12.654,12
GESTAO DE NUCLEOS DE PREVENCAO A CRIMINALIDADE
926.878,00
926.878,00
926.878,00
GESTAO DOS CENTROS SOCIOEDUCATIVOS
13.427.885,36
13.427.885,36
13.427.885,36
GESTAO INTEGRADA DE INFORMACAO E INTELIGENCIA
85.000,00
85.000,00
85.000,00
IMPLANTACAO DAS COMISSOES TECNICAS DE CLASSIFICACAO NAS UNIDADES PRISIONAIS
83.783,44
83.783,44
83.783,44
IMPLANTACAO DE FERRAMENTAS INTEGRADAS DE TECNOLOGIA DE INFORMACAO E COMUNICACAO
5.793.439,75
5.793.439,75
5.793.439,75
IMPLANTACAO DE NUCLEOS JURIDICOS NAS UNIDADES PRISIONAIS
93.450,76
93.450,76
93.450,76
IMPLANTACAO DE POSTOS DE TRABALHO PARA PRESOS NAS UNIDADES PRISIONAIS
639.215,55
639.215,55
639.215,55
IMPLANTACAO E MANUTENCAO DE NUCLEOS DE PREVENCAO A CRIMINALIDADE E CO-GESTAO COM O PODER PUBLICO MUN
14.593.877,71
14.593.877,71
14.593.877,71
IMPLEMENTACAO DE ACOES DE POLICIAMENTO COMUNITARIO, PREVENCAO ATIVA E SEGURANCA CIDADA
161.637,06
161.637,06
161.637,06
IMPLEMENTACAO DE ATIVIDADES DE ENSINO INTEGRADO
190.854,28
190.854,28
190.854,28
IMPLEMENTACAO DE ATIVIDADES DE ENSINO VOLTADAS PARA A QUALIDADE DA ATUACAO DOS ORGAOS DE DEFESA SOCI
477.204,59
477.204,59
477.204,59
INCENTIVO A AMPLIACAO DO SISTEMA APAC
14.153.209,72
14.153.209,72
14.153.209,72
INTEGRACAO DA GESTAO DA SEGURANCA PUBLICA - IGESP
642.027,33
642.027,33
642.027,33
MANUTENCAO DO CENTRO INTEGRADO DE INFORMACOES DE DEFESA SOCIAL
24.944,45
24.944,45
24.944,45
MANUTENCAO E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DO SIDS
6.496.481,92
6.496.481,92
6.496.481,92
MEDIACAO DE CONFLITOS EM AREAS DE RISCO
514.777,33
514.777,33
514.777,33
MELHORIA DA QUALIDADE DA GESTAO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO
557.911,30
557.911,30
557.911,30
MELHORIA DA SEGURANCA NO SISTEMA PRISIONAL
5.433.734,32
5.433.734,32
5.433.734,32
MODERNIZACAO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO
521.837,05
521.837,05
521.837,05
MODERNIZACAO E INTEGRACAO DAS CORREGEDORIAS DOS ORGAOS DE DEFESA SOCIAL
98.647,79
98.647,79
98.647,79
PLANEJAMENTO, GESTAO E FINANÇAS
49.483.192,72
49.483.192,72
49.483.192,72
REINTEGRACAO SOCIAL DE PESSOAS EGRESSAS DO SISTEMA PRISIONAL
371.796,41
371.796,41
371.796,41
REMUNERACAO DE PESSOAL ATIVO E ENCARGOS SOCIAIS
265.447.343,75
265.447.343,75
265.447.343,75
TOTAL
1.015.512.878,30
1.015.512.878,30
1.015.512.878,30

Fonte: Portal Transparência MG


Outro dado interessante se relaciona com a gestão do sistema prisional de Minas Gerais (1) . Como o Portal da Transparência não apresenta uma rubrica específica para a área penitenciária agregamos várias rubricas, com seus respectivos valores, para a formação de um montante anual de despesas, como se observa na Tabela VI, abaixo:

Tabela VI – Gastos com o sistema prisional mineiro em 2011

Projeto / Atividade
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO CENTRAL
234.233.245,74
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA ZONA DA MATA
56.220.028,08
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO SUL DE MINAS
48.347.673,60
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO TRIANGULO MINEIRO
45.667.171,70
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO RIO DOCE
45.560.558,58
COORDENACAO DO SISTEMA PRISIONAL
37.068.631,62
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO NORTE DE MINAS
27.637.260,55
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DO ALTO PARANAIBA
27.278.688,71
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO CENTRO-OESTE DE MINAS
21.718.838,97
GESTAO DA POLITICA DE INTEGRACAO DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
21.470.869,22
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO JEQUITINHONHA/MUCURI
16.970.716,21
CUSTODIA E REINTEGRACAO SOCIAL NAS UNIDADES PRISIONAIS DA REGIAO NOROESTE DE MINAS
15.249.469,34
INCENTIVO A AMPLIACAO DO SISTEMA APAC
14.153.209,72
MELHORIA DA SEGURANCA NO SISTEMA PRISIONAL
5.433.734,32
CONSTRUCAO E REFORMA DE UNIDADES PRISIONAIS - SEDS
3.333.565,96
CRIACAO E IMPLANTACAO DE UM MODELO DE CO-GESTAO OU GESTAO INDIRETA DE UNIDADES DE CUSTODIA
1.890.043,01
ESTRUTURACAO DO PROGRAMA DE EGRESSOS
891.669,37
APRIMORAMENTO E AMPLIACAO DA GESTAO DAS MEDIDAS DE MEIO ABERTO
783.095,00
APOIO LOGISTICO AS UNIDADES PRISIONAIS E ADMINISTRATIVAS
715.928,76
IMPLANTACAO DE POSTOS DE TRABALHO PARA PRESOS NAS UNIDADES PRISIONAIS
639.215,55
CONSOLIDACAO DO MODELO DE GESTAO PRISIONAL
242.402,89
CAPACITACAO E FORMACAO DE SERVIDORES DO SISTEMA PRISIONAL
157.131,77
IMPLANTACAO DE NUCLEOS JURIDICOS NAS UNIDADES PRISIONAIS
93.450,76
IMPLANTACAO DAS COMISSOES TECNICAS DE CLASSIFICACAO NAS UNIDADES PRISIONAIS
83.783,44
CONTRATACAO DE CONSTRUCAO E GERENCIAMENTO DE UNIDADES PRISIONAIS VIA PPP
1.710,00
Total
625.842.092,87

Fonte: Portal Transparência MG


Ora, se levarmos em conta que o orçamento da SEDS é de 1,015 bilhão de reais e considerando que os gastos com o aprisionamento (626 milhões) estão sob a responsabilidade da Secretaria, chegamos à conclusão que mais da metade das despesas da Secretaria é direcionada ao sistema prisional.

O segundo maior gasto da SEDS é direcionado ao pagamento do pessoal ativo e encargos sociais: 265.447.343,75.

Os gastos com o sistema de medidas socioeducativas são apresentados na Tabela VII, abaixo:

Tabela VII – Despesas com medidas socioeducativas – SEDS/2011

GESTAO DOS CENTROS SOCIOEDUCATIVOS
13.427.885,36
13.427.885,36
13.427.885,36
ATENDIMENTO AOS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA DE SEMILIBERDADE
6.630.845,07
6.630.845,07
6.630.845,07
CONSTRUCAO DE CENTROS SOCIOEDUCATIVOS – SEDS
3.089.911,81
3.089.911,81
3.089.911,81
MELHORIA DA QUALIDADE DA GESTAO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO
557.911,30
557.911,30
557.911,30
MODERNIZACAO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO
521.837,05
521.837,05
521.837,05
APRIMORAMENTO E AMPLIACAO DA GESTAO DAS MEDIDAS DE MEIO ABERTO
783.095,00
783.095,00
783.095,00
TOTAL


25.011.485,59


Fonte: Portal Transparência MG


Por outro lado, as despesas com políticas de prevenção à criminalidade respondem por um valor pouco significativo, no montante de recursos gastos pela Secretaria, no ano de 2011, (inferior a 3% do valor global da secretaria), conforme podemos observar na Tabela VIII, abaixo:


Tabela VIII – Despesas com prevenção à criminalidade - 2011

FICA VIVO - CONTROLE DE HOMICIDIOS NA FAIXA ETARIA DE 12 A 24 ANOS


6.659.005,16
GESTAO DE NUCLEOS DE PREVENCAO A CRIMINALIDADE


926.878,00
MEDIACAO DE CONFLITOS EM AREAS DE RISCO


514.777,33
IMPLANTACAO E MANUTENCAO DE NUCLEOS DE PREVENCAO A CRIMINALIDADE E CO-GESTAO COM O PODER PUBLICO MUNICIPAL


14.593.877,71
ACOMPANHAMENTO DA EXECUCAO DAS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS
387.766,93
REINTEGRACAO SOCIAL DE PESSOAS EGRESSAS DO SISTEMA PRISIONAL
371.796,41
Total:                                                                                                                                    

23.454.101,54

Fonte: Portal Transparência MG


Uma das ações fundamentais para a eficiência da segurança pública – e programa estruturador do Governo de Minas – é a integração e gestão policial. A Tabela IX, abaixo, mostra os gastos da SEDS, nesta área, em 2011.

Tabela IX – Gastos com Integração e Gestão Policial - 2011

GESTAO DA POLITICA DE INTEGRACAO DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
21.470.869,22
21.470.869,22
21.470.869,22
MANUTENCAO E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DO SIDS
6.496.481,92
6.496.481,92
6.496.481,92
IMPLANTACAO DE FERRAMENTAS INTEGRADAS DE TECNOLOGIA DE INFORMACAO E COMUNICACAO
5.793.439,75
5.793.439,75
5.793.439,75
INTEGRACAO DA GESTAO DA SEGURANCA PUBLICA – IGESP
642.027,33
642.027,33
642.027,33
CENTRO INTEGRADO DE ATENDIMENTO E DESPACHO - CIAD / BH
591.895,42
591.895,42
591.895,42
DIRETRIZ INTEGRADA DE ACOES E OPERACOES DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
110.632,40
110.632,40
110.632,40
GESTAO INTEGRADA DE INFORMACAO E INTELIGENCIA
85.000,00
85.000,00
85.000,00
MANUTENCAO DO CENTRO INTEGRADO DE INFORMACOES DE DEFESA SOCIAL
24.944,45
24.944,45
24.944,45
COORDENAR A GESTAO INTEGRADA DE RECEBIMENTO E TRATAMENTO DE DENUNCIAS ANONIMAS
20.686,00
20.686,00
20.686,00
GABINETE INTEGRADO DE SEGURANCA PUBLICA
12.654,12
12.654,12
12.654,12
Total



35.248.630,61


Fonte: Portal Transparência MG

Portanto, pode-se concluir que os dois principais programas estruturadores coordenados pela SEDS (prevenção ao homicídio e integração policial) absorveu cerca de 58,70 milhões de reais, em 2011, o que correspondia pouco mais de 5% dos gastos da Secretaria. Se levarmos em conta o orçamento global gasto pelo estado com segurança pública concluiremos que esses programas recebem menos de 0,5% do gasto total.

Algumas considerações
Sistematicamente, o governo de Minas anuncia que o estado é um dos que mais investe em segurança pública no Brasil. Ao analisar o orçamento público destinado à segurança, tendo como fulcro o ano de 2011, observamos com clareza que há um incremento substantivo nas despesas com segurança ao longo dos anos, sem isso significar, objetivamente, novos investimentos na área. Ao contrário, despesas fixas (ordinárias) consomem parte substancial dos recursos e novos projetos (inclusive ações de governo estruturadoras para o setor) ficam com minguados dividendos.

Os gastos com segurança pública em Minas Gerais aumentaram exponencialmente nos últimos anos, notadamente a partir de 2003. Com a criação da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) e a reorganização de toda a estrutura do sistema, o governo de Minas deu um importante passo para uma gestão mais eficiente do sistema estadual de segurança ao passo que, também, foi obrigado a aumentar as despesas nessa área. O sistema prisional mineiro, por exemplo, teve sua capacidade de aprisionamento duplicada nos últimos oito anos, o que demandou imensos recursos na construção de dezenas de novas unidades, contratação de novos agentes e, inevitavelmente, na manutenção de toda essa estrutura altamente onerosa e ineficiente, haja vista que o custo médio de um preso gira em torno de R$ 1.500,00, per capita/mês, com taxa de reincidência criminal superior a 70% (indicadores, diga-se de passagem, extensivos ao sistema prisional brasileiro).

Porém, são dois pontos que chamam a atenção de qualquer analista na análise das despesas orçamentária com segurança em nosso estado: primeiro, a imensa concentração dos gastos destinados a Polícia Militar (66%) e, segundo, a baixa capacidade de investimento em projetos estruturadores e na reorganização do sistema; ou seja, a limitada capacidade de governança (2) e estruturação de novos programas, ações e estratégias coordenadas pela SEDS, dado que os gastos em investimentos novos são limitadíssimos tendo em vista o engessamento orçamentário da Secretaria.

Em relação a PM, chama-nos a atenção o esforço que esta instituição vem fazendo, nos últimos anos, no sentido de tentar abarcar o maior número possível das ações da área, como se a organização fosse a única responsável por todas as respostas relativas à segurança pública (3). Programas que não necessariamente precisam ser gerenciados pela polícia militar são sistematicamente criados ou adensados no âmbito desta instituição, que algumas vezes age isoladamente e dentro de seus próprios princípios e métodos, inclusive se sobrepondo a outras ações da secretaria, como no âmbito da prevenção (programas como Polícia de Prevenção à Violência Doméstica, a Patrulha Escolar (4), o Proerd (5) e outros, poderiam ser gerenciados pela SEDS e melhor articulados com outras agências da própria secretaria) (6).

Ademais, a PM de Minas tem departamentos especializados em policiamento de trânsito e ambiental que não precisam, necessariamente, ser gerenciados por ela. Recentemente, emenda na constituição estadual (7)aumenta ainda mais a possibilidade de atuação da PM. A partir de agora, a formação dos oficiais da PM na área do Direito pode sinalizar que a instituição pretende ampliar ainda mais seu escopo de atuação como uma polícia investigativa, dentro da tendência da criação, em médio prazo, de uma polícia de ciclo completo (8) .

Ainda no campo dos gastos policiais fica evidente que, apesar das despesas com a Polícia Civil (em torno de 13% das despesas na rubrica segurança pública, se excetuarmos os gastos com o Detran) serem bem menores - há evidente necessidade de recomposição dos quadros desta instituição – deve-se registrar que também a PC mineira tem vários problemas estruturais e de gestão que precisam ser equacionados. Empregar policiais na gestão do Detran, por exemplo, é dispensável, dado que as atividades desse órgão podem ser perfeitamente (e melhor) executadas por outra agência pública não-policial, ligada por exemplo, à estrutura de gestão financeira e arrecadatória – como já acontece em algumas estados brasileiros. Em relação à perícia criminal, outro ponto que merece especial atenção, que se encontra precarizada e é instrumento vital para o processo investigatório, é preciso repensar seu papel junto à PC ou caminhar no sentido de sua autonomia.

Finalizando o primeiro item, há que se registrar que os gastos com as duas polícias tendem a aumentar substancialmente nos próximos anos, tendo em vista os acordos salariais patrocinados pelo governo mineiro em 2011, com repercussões até 2015.

Em relação ao segundo ponto, com uma capacidade limitada de novos investimentos na política de segurança, a SEDS tem seu papel restrito, o que corrobora com a baixa governança de toda a política de segurança estadual. Programas estruturais - que são fundamentais para uma gestão política da Secretaria, com a integração policial e os programas de prevenção e gerência dos dados criminais -, são obstaculizados permanentemente. Não somente por questões de queda de braços (disputa de espaços e poder) entre as polícias, mas pela limitada capacidade da Secretaria de investir nessas ações, dado que o orçamento está engessado, como demonstrado anteriormente. Ou seja, a SEDS - apesar de ser o órgão de governo responsável pela política - acaba, de fato, tendo seu papel bastante limitado e diminuído, na atual conjuntura.

O orçamento não é o único sinalizador das relações de poder entre os órgãos e agências públicas. Mas, sem dúvida, é elemento fundamental para “medir” a relação de força entre entes e, a partir daí, o poder de pauta e barganha que cada instituição tem dentro da administração pública.

_______
[1] Entre 2003 e 2009, houve um aumento de mais de 300% nas vagas prisionais e aumento de 150% no número de presos. Em 2003 o Estado tinha 20,1 mil detentos e agora já são pouco mais de 50,1 mil (Fonte: Seds/MG).


[2] Entendemos por governança o conjunto de regras, processos e práticas que dizem respeito à qualidade do exercício do poder, essencialmente no que se refere a sua responsabilidade, transparência, coerência, eficiência e eficácia. As práticas de governança são fundamentais para uma política de segurança pública coerente, porque são calcadas em elevados padrões éticos e voltadas à promoção da transparência das ações dos governos, permitindo a participação social.

[3] Esta é uma tendência estratégica de várias polícias militares brasileiras, observada notadamente a partir da década de noventa, no sentido de ampliação, ao máximo, de seu escopo de atuação.

[4] Que pode ser exercida, se necessária, por Guardas Municipais, por exemplo.

[5] As escolas têm (ou deveriam ter) a competência de discutir os problemas relacionados às drogas: questão de educação e saúde pública e, em casos muito específicos, de polícia. O Proerd tem por base o projeto D.A.R.E. – Drug Abuse Resistance Education (Educação para resistir ao abuso de drogas), com origem na cidade de Los Angeles, Califórnia – EUA, em 1983. A replicação de projeto desenvolvidos  em contextos diferentes  da realidade social brasileira é uma prática bastante comum no nosso país.

[6] Registre-se que estudos de caso e comparativos sobre a eficiência do trabalho policial em todo o mundo destacam que as polícias eficazes são aquelas que empregam seus contingentes nas ações fins, ou seja, nas ações específicas de policiamento. No caso das polícias militares brasileiras, os oficiais – quadros melhor remunerados e preparados – estão preferencialmente locados em atividades meio (burocráticas) e os praças (com remuneração, conhecimento e treinamento muitas vezes insuficientes) em atividades fim (de policiamento). Boa parte das atividades meio pode ser executada por civis, liberando os policiais para as atividades específicas e, certamente, impactando positivamente nas ações próprias de polícia.
[7] A criação de carreira jurídica militar passa a ser exigida para oficiais da PM que terão a formação em curso de direito. A alteração na Constituição Estadual foi feita em 2010, por meio da Emenda Constitucional 83, que prevê também a realização de concurso público para o ingresso no quadro de oficiais da corporação.

[8] No Rio Grande do Sul, desde 1997, a Lei 10.992 exige o bacharelado em Direito para ingresso no curso de oficial da Brigada Militar.